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ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Um ano sem adeptos. O eco tem lugar cativo, a cerveja está morna e até das filas temos saudades

Às oito da noite de dia 8 de março de 2020, começava o último jogo com adeptos na I Liga. Passou um ano e ficou o silêncio. O que mudou, as saudades e as frustrações de 3 estádios em Portugal.

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Quando pedimos para abrir o portão da bilheteira do FC Paços de Ferreira, Adélio Fernandes, o responsável da bilhética do clube, não conseguiu vencer a fechadura: “Acho que não vou conseguir abrir isto”, disse-nos em esforço. E não conseguiu mesmo. Fosse pela falta de hábito, ferrugem ou chave errada, o portão continuou fechado, tal como tem estado há um ano. São já 365 dias de bancadas vazias no campeonato.

O Observador foi visitar três estádios, mas o som de fundo foi sempre o mesmo. Ou quase sempre. Os “ruídos parasitas” das cidades foram disfarçando o silêncio que ainda se sente. Seja no reduto do líder do campeonato. Seja no campo da equipa sensação da Liga. Seja no novo tapete que cumpre o sonho de um clube distrital. São três histórias que representam os milhares de clubes portugueses que têm os estádios vazios há exatamente um ano.

[Pode ler estas três histórias no texto abaixo, mas também pode ouvi-las, clicando aqui. Os estádios estão vazios, mas há sons que vale a pena ouvir.]

O Último Grito. Um ano de estádios vazios em Portugal

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Quem és tu? “Sou o eco, João Botas, muito gosto!”

João Botas recebeu-nos na porta de imprensa do Estádio José Alvalade com um ligeiro atraso. Já suspeitávamos do motivo, que foi confirmado logo na primeira intervenção: “Desculpem, mas hoje foi um dia complicado por causa da Zézinha”. A notícia tinha chegado meia-dúzia de horas antes. Maria José Valério, a voz da Marcha do Sporting, tinha perdido a vida por causa da pandemia. Era mais uma vítima da Covid-19 e mais uma apaixonada pelo clube que não voltaria a Alvalade: “Sei que infelizmente houve alguns sócios do Sporting que faleceram e que eram presença assídua, mas de muitos não conheço o nome”, desabafa o speaker leonino.

Equipado a rigor com um casaco verde de leão ao peito, guiou-nos primeiro até à cabine de som do estádio, o local onde atualmente se quebra a monotonia sonora durante os jogos. Uma pequena sala junto à tribuna de imprensa deixava um cheirinho a Natal: luzes e mais luzes, vindas de todo o tipo de aparelhos e mesas de mistura. “Um, dois, um, dois. Está a funcionar”, testou. Queríamos ouvir e gravar aquela que é a voz do Sporting há já 12 anos. E para isso pegámos num golo que aconteceu a meio desse percurso.

João Botas ligou o sistema de som do Estádio José de Alvalade de propósito para o Observador sentir o eco. "É estranho", diz o speaker do Sporting.

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Ao início, João Botas não se recordava do último golo de Slimani com a camisola do Sporting, numa tarde de agosto de 2016, frente ao FC Porto. Mas esse foi um dos golos com o volume mais alto já registado em Portugal, se não mesmo o mais ruidoso. Foram 111 decibéis, captados e publicitados pelo Sporting, o equivalente a um concerto de rock. O golo ideal para comprovarmos o choque sonoro entre o ambiente de um estádio vazio, antes da pandemia, e a nova realidade, que já dura há um ano. Fizemos assim o convite a Botas para reencenar o grito do golo de Slimani sem espectadores e o desafio aceite levou a perguntas… muitas perguntas.

O telefone tocou uma vez. Depois outra. E outra. As mensagens foram aparecendo. Em todas, ficava a dúvida: porque é que o speaker leonino estaria a gritar “Marcou com o número 9, Islam Slimani” naquela tarde? “Achavas que estava a fazer gravações para a PlayStation, foi? É para uma reportagem”, respondia ao telefone, entre gargalhadas. Quando pedimos para reencenar o grito numa segunda vez recebemos um pedido de volta: “Desta vez é melhor gritar que o golo é do Coates, pode ser? Senão daqui a nada até o presidente me liga”.

O espaço de João Botas durante os jogos mudou por causa da pandemia. De um pequeno espaço no relvado, junto aos bancos de suplentes, teve de subir para a bancada

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

É o eco sentido nos estádios portugueses desde dia 8 de março de 2020, data do último jogo da I Liga sem restrições de adeptos nas bancadas. Foquemo-nos por enquanto no penúltimo, que aconteceu também nesse dia, há um ano, precisamente em Alvalade. O Sporting recebeu e venceu o Desportivo das Aves por 2-0 nessa noite, para nunca mais receber público. Uma decisão repentina, que não ajuda à memória: “Sinceramente não tenho grande memória desse jogo, porque não imaginávamos as limitações que foram impostas passado uns dias. Mas era algo que já se temia que acontecesse, claro”.

Quatro dias depois, no dia 12 de março, a I e II Ligas foram suspensas e os adeptos nunca mais regressaram. “Tenho saudades, principalmente, de ver os adeptos a aparecerem debaixo das bancadas no início dos jogos. Ouvir a transição do silêncio para o som, ver as “formiguinhas” — no bom sentido — a entrar. Uns a correr. Outros mais lentos, ver um velhote a entrar num passo mais brando. Ver as crianças. Ver os sorrisos, as vontades… é tão bom”, descreve João Botas. “Tirando o momento de golo, é o que mais anseio ouvir outra vez”.

Até porque esta época, de golos tem estado o Sporting cheio. Golos e vitórias, que deixam a equipa leonina com grande vantagem no primeiro lugar, a sensivelmente uma dezena de jornadas do fim do campeonato. O Sporting nunca esteve tão perto de quebrar o jejum. Um momento há muito esperado pelo speaker leonino, em 12 anos de animação de estádio em Alvalade: “Se durante estes anos todos pensei muito no momento em que ia gritar aqui ‘Campeões’? Pensei muito nisso, sim, é normal. E pensei sempre numa realidade sem pandemia, como é óbvio”.

Mas e se o Sporting for campeão este ano? “Se calhar até vai saber melhor, com estas condições ainda tem de se dar mais valor. Claro que se formos campeões este ano — se formos — os festejos não vão poder ser a mesma coisa e pode ficar um pequeno sabor amargo. Aquilo que queríamos era que os milhões de sportinguistas tocassem todos no troféu. Se ganharmos, pensamos em festejar com os adeptos, mas se calhar vai ter de ser com poucos. Com limitação de lugares. Ou de forma remota. Mas tenho a certeza que vou valorizar ainda mais o título”, assegura o speaker.

As bancadas de Alvalade estão vazias há um ano, desde oito de março. A última vez que as cadeiras mexeram foi num Sporting - Desportivo das Aves

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Por enquanto ainda há muito para jogar. Mas as memórias dos tempos com adeptos continuam, mesmo que as do último jogo estejam embaciadas. As do último do Sporting, o penúltimo no campeonato. O último jogo foi horas depois desse Sporting – Desportivo das Aves.

As filas de mil “Paços” que desapareceram no ano errado

Já estamos à porta do estádio, mas deixamos um conselho. Antes de avançarmos, clique no botão do play do vídeo abaixo e leia os próximos parágrafos com o som de fundo. É um ambiente longínquo, mas vai ajudar a matar a saudade e a colocá-lo no estádio, há um ano.

No dia seguinte era “dia de trabalho”. Domingo. Oito da noite. Em campo, Paços de Ferreira (16º) e Vitória Sport Clube (7º). Quando o árbitro Vítor Ferreira apitou, provavelmente não imaginaria que estava a autorizar o início do último jogo do campeonato sem restrição de adeptos. Houve boa casa, com festival dos vimaranenses na bancada. Houve golos cedo a abrir ambas as partes. Houve reviravolta com um bis de um jogador vindo do banco. Houve futebol.

Um ano depois, o vazio que se sentia no Estádio Capital do Móvel era tanto que até deu para estacionar no parque dos jogadores. Com dúvidas, entrámos num portão de garagem entreaberto. Já lá dentro descansaram-nos: “Fez muito bem em estacionar aí, não tem problema, está tudo vazio agora”. Sentimo-nos logo em “casa”, uma palavra que para Adélio Fernandes significa Paços. “Isto é uma família, é uma sensação que não tem explicação. Cheguei cá muito jovem, com 19 anos. Hoje tenho 39”. 20 anos depois, Adélio é o responsável pela Bilhética, Gestão de Sócios e Organização de Jogo. E nunca teve tão pouco trabalho.

Adélio Fernandes recebe os adeptos do Paços de Ferreira há 20 anos. Uma atividade apenas interrompida pela pandemia.

“Antes da pandemia, em dias de jogo, tínhamos mesmo de ficar aqui na secretaria até ao intervalo, porque havia sempre sócios a chegar, só assistia à segunda parte. Agora tenho o privilégio de assistir aos jogos todos, infelizmente”, conta Adélio, apontando para um portão do estádio a 20 metros, que se vê através do vidro: “Já houve jogos em que as filas ultrapassavam estes portões”. Agora nada. Adélio conta-nos que só de vez em quando aparece um associado para pagar as quotas e já é muito movimento. Uma ausência que tem, como é óbvio, impacto nas contas do clube.

“Desde que os estádios fecharam, jogámos em casa duas vezes contra o FC Porto e uma contra o Sporting. São jogos em que normalmente fazemos 100 mil euros de bilheteira”. Se não contarmos com os restantes jogos do campeonato — que de acordo com Adélio Fernandes, cobrem apenas as despesas do evento e pouco mais –, foram 300 mil euros de bilhética que não entraram nos cofres dos pacenses durante este ano que passou. A esse valor, juntam-se quotas e bilhetes de época que não foram pagos ou renovados: “De dezembro de 2019 a dezembro de 2020, houve 120 mil a 150 mil euros de quotização e renovação de lugares anuais que não encaixámos”. Fazendo as contas por baixo e juntando os dois valores, o Paços de Ferreira não recebeu cerca de 420 mil euros durante este último ano relativos ao fecho dos estádios.

À semelhança de tantos clubes pelo mundo inteiro, o Paços de Ferreira utilizou o espaço das bancadas para colocar publicidade

André Maia/Observador

Números muito penalizadores para uma das equipas com o orçamento mais baixo do campeonato. E o impacto, obviamente, não foi isolado. Durante a final four da Taça da Liga, já em janeiro deste ano, a diretora-executiva da Liga, Susana Rodas, dava conta dos primeiros números do impacto financeiro e comercial na Liga Portuguesa por causa da pandemia: “A nossa expetativa é que teremos um impacto de 276 milhões de euros na área das receitas. […] Os clubes não têm camarotes, não têm os bilhetes típicos que oferecem aos patrocinadores. […] Até o merchandising: os clubes têm-nos dito que estamos a perder 70%, porque as compras eram feitas em dias de jogo. A ligação aos adeptos tem-se vindo a perder porque estamos muito afastados”.

Previsões muito elevadas tendo em conta a dimensão do campeonato. Para se ter uma noção do valor destes 276 milhões de euros, por exemplo, são superiores ao valor total do Onze Mais Valioso da Liga para o portal especialista Transfermarkt, que o avalia em 216 milhões de euros. Sobrariam ainda 60. E já que falamos de valores de mercado, até nisso há uma redução nas contas. Em maio de 2020, um mês antes da retoma do campeonato, a consultora KPMG deixava a previsão: o valor da Liga Portuguesa iria diminuir em 17,3%.

Obviamente que sobre a ausência dos adeptos dos estádios, interessa mais a questão comercial e não tanto a desvalorização desportiva. Mas o rendimento desportivo também entra na equação das arenas vazias: como se sentirá Adélio Fernandes por saber que nesta época, em que o Paços está em quinto lugar, não se vai vender um único bilhete? “É o conformismo, não temos como ver isto de outra forma. Penso que os clubes têm condições para ter adeptos, mas se as autoridades competentes não acham só podemos viver da forma como isto está estabelecido”, desabafa.

Mas mesmo sem adeptos, o Paços de Ferreira está a ser a sensação do campeonato. Na hora em que escrevemos este texto, os “castores” ocupam o quinto lugar da Liga, a apenas quatro pontos do Benfica, quarto classificado. Será que o silêncio das bancadas foi “terapêutico” para a equipa de Pepa? Adélio olha para o lado positivo: “Coincidência ou não, desde que fecharam os estádios, a equipa melhorou o rendimento. Acho que uma equipa que esteja a atravessar um momento menos bom consegue ganhar alguma estabilidade com a bancada vazia. No caso do Sporting, por exemplo, também acho que é uma das razões principais para o sucesso”.

«Aquilo de que sinto mais falta é o público. Eu acho que o futebol precisa do calor do público, dos adeptos. O futebol, sem isso, não é a mesma coisa. Eu acho que não é futebol, sinceramente»
Adélio Fernandes, responsável pela bilhética do FC Paços de Ferreira

Falando no Sporting, voltamos então a chamar João Botas para dar a versão leonina. O estádio vazio ajudou a equipa? “Não, não há razão nenhuma para um clube preferir o estádio vazio. Num estádio com adeptos sente-se mais, chora-se mais. Acho que o Sporting sai prejudicado por não ter adeptos na bancada”.

E a estatística parece concordar com João Botas. O impacto pode não ser esmagador, mas os clubes têm piores resultados a jogar em casa desde que os estádios estão vazios. Quem o diz é o CIES, o Centro Internacional de Estudos Desportivos. No Relatório nº 304, foram contabilizadas as vitórias caseiras de 63 ligas de todo o mundo em 2 períodos: desde 2015 até ao fecho dos estádios; e desde essa altura, em março de 2020, até agosto desse ano. Os resultados dão conta de uma quebra média de mais de 2 pontos percentuais. De 44,3% de vitórias caseiras, a percentagem passou para 42,2.

Portugal também foi mencionado neste relatório. Foram analisados 90 jogos em pandemia, todos à porta-fechada. A quebra de vitórias caseiras foi de 0,9 pontos percentuais, passou de 45,3% para 44,4% de vitórias caseiras. Ainda assim, longe, por exemplo, da quebra de 14,1 pontos percentuais da Bundesliga ou dos 6,1 da La Liga, em Espanha. De acordo com o relatório, o maior impacto foi mesmo em termos de vitórias caseiras com 3 ou mais golos de diferença: a percentagem dessas vitórias em Portugal caiu de 10,6% para 6,7.

Adélio Fernandes não hesita perante uma escolha: “Aquilo de que sinto mais falta é o público. Eu acho que o futebol precisa do calor do público, dos adeptos. O futebol, sem isso, não é a mesma coisa. Eu acho que não é futebol, sinceramente”.  E os convívios da distrital que o digam.

No dia em que visitámos o Estádio Capital do Móvel, estava a ser combatido um incêndio. As sirenes foram as únicas a interromper o silêncio

André Maia/Observador

Quando a cerveja esgotava no último pelado de Lisboa

No dia em estivemos com “Fanan”, chovia. Passavam 48 dias desde que o Café do Grupo Recreativo e Desportivo Bragadense estava fechado por causa do recolhimento obrigatório. Era um mês e 17 dias sem um único cliente. Sem um único adepto a ver os jogos do clube do bairro da varanda do café. Desde a última tarde dessas, já passou tanto tempo, que a memória já atraiçoa Fernando Ferreira, o dono do café do clube: “Eles já não jogam há sensivelmente 5 meses, acho que o último foi em novembro. Agora com adeptos… sei lá… já não me lembro… se calhar um amigável em setembro, que não tivesse polícia”.

A pandemia penalizou ainda mais o futebol amador. Se no caso do Sporting e do Paços de Ferreira o futebol ainda continua — mesmo com as bancadas fechadas — no futebol distrital o jogo parou mesmo. E no caso do Grupo Recreativo e Desportivo Bragadense, a mágoa fica ainda a dobrar, por causa de um sonho antigo: finalmente o pelado ia desaparecer e nascer um relvado sintético. Um marco importante, já que o clube é o único da Associação de Futebol de Lisboa que ainda tem um pelado. “Agora, com isto, as obras pararam. Esperemos que retomem o mais breve possível”, diz Fernando, que já tem saudades de ver a equipa jogar na III Divisão Distrital da AFL.

Os matraquilhos da sala dos sócios do Grupo Recreativo e Desportivo Bragadense estão parados há alguns meses

André Maia/Observador

Mais não seja pelo ambiente. Até porque como diz “Fanan”, havia sempre muita gente que ia ao café, mas nem tanto para “ver a bola”: “Tinha sempre cá muita gente, mas nem todos viam. Quando havia golo iam lá, quando havia refilanço também, gritavam logo que ‘já há porrada’ e tal”. Mas a ver o jogo ou não, a diferença é notória. Fernando conta-nos que antigamente, em dias de jogo, na sala de jogos dos sócios havia sempre “30 a 40 pessoas”. Já em pandemia, mas sem confinamento geral, o número baixou para “10 ou 15”. Neste momento, por causa das restrições mais apertadas, o café está mesmo fechado.

“É triste. Isto está muito difícil, é impossível. Nós somos quatro em casa, neste momento só temos o nosso ordenado, este é o nosso ganha pão. É complicado. Mesmo antes do confinamento geral, quando ainda nos deixavam estar abertos, tínhamos de fechar às 20 horas, o que não rendia nada porque havia muitos sócios que vinham cá ver os jogos na televisão e os jogos só começavam depois disso”, explica Fernando Ferreira, apoiado no balcão, praticamente vazio. Vazio agora, porque em tempos esteve cheio. E muita da culpa é da cerveja.

"Consumir só nas mesas, não no balcão". O aviso é necessário, mas Fernando admite que afasta os adeptos

André Maia/Observador

“Fazíamos uma média de 20 grades por fim-de-semana e agora, quando estamos abertos, fazemos quatro, cinco… e mesmo assim é preciso arranjar um grupo de amigos que esteja bem disposto”. Algo que não era preciso fazer antes da pandemia. Aliás, basta contar a história que “Fanan” contou com um sorriso: “Houve um convívio que foi impressionante. Posso dizer que eles me esgotaram a cerveja. E eram das duas equipas. Eu já não tinha cerveja para eles, já tinha que lhes dar cerveja de litro só para os calar”. A situação levou mesmo a medidas mais drásticas: “Tive mesmo de ir comprar cerveja a outro café. Até podia ter ido ao supermercado, mas aí ficava quente. O Bragadense até perdeu o jogo, mas foi uma amizade que se fez nessa tarde”, conta “Fanan”.

A quebra das vendas de cerveja atesta bem o impacto da falta dos adeptos. Mas não é o único produto que deixou de ser servido no balcão do café do Bragadense: “Temos uma bifana em homenagem ao nosso guarda-redes, que é uma ‘bifana à Becas’. Ele dizia que queria uma bifana para ele e que por isso não podia ser normal, tivemos de acrescentar queijo e ovo estrelado. Depois dos jogos, se ele pedisse bifana de frango, já sabíamos como tinha corrido o jogo, devia ter levado um franguinho ou outro”, diz a sorrir.

Há muitos meses que “Fanan” não vende uma “bifana à Becas”. Há um ano que não as vende com a regularidade com que vendia. Tal como as cervejas. Tal como os sorrisos que dava aos sócios e adeptos do Bragadense, que, como repetiu várias vezes ao longo da conversa, são na maioria idosos. Alguns já não vai ver mais: “Tivemos algumas pessoas aqui que infelizmente faleceram com Covid”, lamenta.

“Fanan” anseia por um possível regresso brevemente: “É o meu maior desejo, abrir isto o mais rápido possível. Tenho muitas saudades. Muitas. Até das coisas banais, como as discussões ao balcão. Muitas saudades”.

O café do Grupo Recreativo e Desportivo Bragadense está fechado desde meados de janeiro por causa do confinamento geral. Há um ano que não recupera o andamento habitual

André Maia/Observador

Por enquanto, não há ainda datas de regresso. Seja no futebol profissional, seja no semi, seja no amador. Seja até nos outros desportos. Ficam, assim, as saudades. Fica o eco nos estádios. Fica a bilheteira com o portão fechado. Fica a cerveja à espera de ser aberta. Fica um ano de bancadas vazias em Portugal, o ano mais longo do desporto nacional.

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