918kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Treinador de 52 anos tornou-se o primeiro a conquistar a Taça Libertadores no Botafogo
i

Treinador de 52 anos tornou-se o primeiro a conquistar a Taça Libertadores no Botafogo

AFP via Getty Images

Treinador de 52 anos tornou-se o primeiro a conquistar a Taça Libertadores no Botafogo

AFP via Getty Images

Um capitão feito treinador que acabou a fazer história do outro lado do oceano: como o Artur Jorge de Braga se tornou o Artur Jorge do Rio

Filho de sócios do Sp. Braga, chegou a capitão antes de ser treinador e conquistar uma Taça da Liga. Em nove meses ganhou Libertadores e Brasileirão com o Botafogo. Sem deixar de ser o Artur de Braga.

O vídeo tornou-se viral. No momento em que Júnior Santos marcou o terceiro golo do Botafogo contra o Atl. Mineiro, garantindo a conquista da Taça Libertadores já nos descontos, Artur Jorge lançou-se a correr para dentro do relvado, foi abalroado por um dos próprios jogadores, caiu, levantou-se e voltou a cair, em segundos de autêntica euforia. Pelo meio, nunca perdeu o sorriso.

Depois da América do Sul, o Brasil: Botafogo de Artur Jorge conquista Brasileirão e alcança dobradinha inédita

Já este domingo, depois de ter levado o Botafogo à conquista inédita da Libertadores, Artur Jorge confirmou o primeiro lugar do Brasileirão e recuperou um troféu que o clube brasileiro não alcançava há 29 anos, alcançando uma inédita dobradinha que torna 2024 no ano mais importante da história do Fogão. Em cerca de nove meses, entre deixar o Sp. Braga e cruzar o Oceano Atlântico, o treinador português já é um nome histórico no Rio de Janeiro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para trás ficou a carreira de jogador passada quase por inteiro no Sp. Braga, o início do percurso como treinador no Famalicão, no Tirsense e no Limianos antes de entrar na formação minhota e escalar até à equipa principal e também uma família que conta com três filhos e três netos. Para a frente, como já se viu, fica o Artur de Braga que soube tornar-se o Artur do Rio. 

Com Maria, a mulher, durante os festejos da conquista da Taça Libertadores

Getty Images

De jogador a treinador com a mesma paixão pelo clube de sempre

A história de Artur Jorge, na verdade, começa com outro Artur Jorge — o pai, que tem exatamente o mesmo nome que o filho decidiu colocar ao próprio filho e que esse mesmo filho já colocou ao primeiro descendente. Ou seja, o Artur Jorge mais velho já tem um filho, um neto e um bisneto com o mesmo nome. E todos partilham uma paixão particular pelo desporto que coloca 22 pessoas a correr atrás de uma única bola.

Artur Jorge pai, atualmente com mais de 80 anos, é o sócio 413 do Sp. Braga. A mulher, mãe de Artur Jorge filho, é a sócia 414 dos minhotos. A paixão familiar depressa levou a que o pequeno Artur, ainda com 14 anos, entrasse nas camadas jovens do clube para perseguir o sonho de ser jogador de futebol já depois de ter dado os primeiros pontapés na bola no Ginásio da Sé. Passou pelos escalões de formação e foi cimentando o talento para ser defesa-central, beneficiando de uma estatura que foi sempre ligeiramente acima da média para a idade.

Estreou-se na equipa principal em novembro de 1992, pela mão de Vítor Manuel e como suplente utilizado numa vitória no Estádio do Restelo, contra o Belenenses, a contar para o Campeonato. Era o início de uma história bonita: representou o Sp. Braga nos 12 anos seguintes, até 2004, foi capitão e chegou a disputar a final da Taça de Portugal, no Jamor, onde perdeu para o FC Porto de António Oliveira.

Artur Jorge pai, atualmente com mais de 80 anos, é o sócio 413 do Sp. Braga. A mulher, mãe de Artur Jorge filho, é a sócia 414 dos minhotos. A paixão familiar depressa levou a que o pequeno Artur, ainda com 14 anos, entrasse nas camadas jovens do clube para perseguir o sonho de ser jogador de futebol.

Fez a última temporada da carreira no recém-promovido Penafiel, cumprindo apenas 90 minutos no espaço de uma época, e despediu-se dos relvados em 2005 e aos 33 anos. Não hesitou na hora de escolher o passo seguinte. Começou a formação de treinador e em 2009 já estava a assumir o primeiro desafio no Famalicão, guiando a equipa até ao terceiro lugar do playoff de promoção ao então Campeonato de Portugal, falhando por pouco a subida.

Voltou a casa em 2010, para orientar os juniores do Sp. Braga, e em 2012 assumiu a equipa B dos minhotos na estreia na Segunda Liga. Acabou por pedir a demissão ao fim de nove jogos, entre cinco empates e quatro derrotas, e em julho de 2013 rumou ao Tirsense. Passou ainda pelo Limianos antes de aceitar um novo regresso à Pedreira, para assumir o leme dos iniciados e depois dos juniores, e em julho de 2020 estreou-se no comando da equipa principal como interino, depois da demissão de Custódio, sendo promovido a treinador dos Sub-23 após garantir o terceiro lugar do Campeonato com uma vitória perante o já campeão FC Porto na última jornada.

A solução estava em casa: Artur Jorge é o escolhido para suceder a Carvalhal no comando do Sp. Braga

Subiu novamente à equipa B no verão de 2021, mas já não demoraria a ocupar de forma definitiva a verdadeira cadeira de sonho. Em maio de 2022, foi a solução interna que António Salvador encontrou para substituir Carlos Carvalhal, despedido 48 horas antes, e garantiu o quarto lugar da Primeira Liga e o respetivo apuramento direto para a fase de grupos da Liga Europa. Esse mês de estreia, porém, foi somente um aquecimento para o que acabaria por construir no Minho.

Ainda enquanto jogador, a representar o Sp. Braga — e com Tiago e Pepe em pano de fundo

LUSA

Em 2022/23, Artur Jorge foi o responsável pela melhor temporada de sempre do Sp. Braga na Primeira Liga: 78 pontos, 25 vitórias e 75 golos, o terceiro lugar à frente do Sporting e a primeira qualificação para o playoff de acesso à Liga dos Campeões em 11 anos. Pelo meio, chegou ainda à final da Taça de Portugal, onde voltou a perder com o FC Porto no Jamor — com a particularidade de Sérgio Conceição, então treinador dos dragões, ter sido titular na outra final que também perdeu, como capitão.

A lógica manteve-se na temporada seguinte. O Sp. Braga conseguiu mesmo voltar à fase de grupos da Liga dos Campeões, afastando TSC e Panathinaikos nas pré-eliminatórias, e nem o facto de ter caído para a Liga Europa num grupo que tinha Real Madrid e Nápoles ensombrou um ano que seria histórico para Artur Jorge. No passado mês de janeiro, os minhotos venceram o Sporting na meia-final da Taça da Liga e o Estoril na final, conquistando o troféu e oferecendo ao treinador o primeiro título da carreira.

No jogo da sorte e do azar, venceu quem se lembrou sempre de que as finais são para ganhar (a crónica da final da Taça da Liga)

“Treinámos, insistimos e preparámos este momento. O grupo tem sido extraordinário. Tivemos uma fase muito difícil em janeiro, mas temos um percurso que não se avalia em duas semanas. É fruto da capacidade do grupo, não só da qualidade, mas das pessoas que tenho. Conseguimos estar mais perto do sucesso pelo que somos como jogadores e treinadores, mas o fator determinante é o que somos enquanto homens”, disse, na altura, Artur Jorge. Cerca de dois meses depois, estaria a despedir-se do Sp. Braga.

Em 2022/23, Artur Jorge foi o responsável pela melhor temporada de sempre do Sp. Braga na Primeira Liga: 78 pontos, 25 vitórias e 75 golos, o terceiro lugar à frente do Sporting e a primeira qualificação para o playoff de acesso à Liga dos Campeões em 11 anos.

Cruzar um oceano para mudar um clube histórico

Tudo começou num restaurante de Matosinhos. No final de março, Artur Jorge encontrou-se com John Textor e ouviu a proposta do empresário norte-americano, que tinha adquirido cerca de 90% do Botafogo dois anos antes. Textor queria levar o clube brasileiro de volta ao topo, queria oferecer estabilidade a um emblema que tinha tido quatro treinadores em oito meses e queria substituir Tiago Nunes, que já tinha sido despedido há um mês e ainda não tinha sido rendido de forma definitiva.

O treinador português, que tinha contrato até 2025, ficou tentado. Pela primeira vez na carreira, aos 52 anos, tinha a possibilidade de emigrar e internacionalizar-se, dar um novo salto e procurar novos objetivos. Para isso, porém, tinha de deixar a família em Portugal — os três filhos e os três netos, sendo que o filho mais velho, o tal que também é Artur Jorge, joga no Farense.

A conversa com a mulher, porém, tornou-se decisiva. “O Artur tem uma capacidade grande de se adaptar, onde quer que esteja. Muito maior do que a minha, confesso. Ele tem esse lado prático que eu também gostaria de ter. Sou muito coração, ele é muito racional. E acho que isso acaba por facilitar a vida, sem grandes saudosismos. O Artur de Braga é exatamente o mesmo Artur do Rio”, explicou Maria Marques, que abandonou a carreira profissional para se juntar ao marido no Brasil, numa entrevista recente ao G1.

Ao lado de Ricardo Horta, ainda no Sp. Braga, onde conquistou uma Taça da Liga

Getty Images

A pouco mais de dois meses do final da temporada na Europa, Artur Jorge decidiu deixar o Sp. Braga e rumar ao Botafogo, por onde tinham passado recentemente tanto Luís Castro como Bruno Lage — o primeiro com bastante mais sucesso do que o segundo. As negociações com os minhotos não foram fáceis, já que António Salvador procurou segurar o treinador e chegou a criticá-lo publicamente pela “postura” que teve durante o processo, acusando-o até de assinar contrato à revelia dos portugueses.

Artur Jorge negou, garantindo que até só assinou contrato quando chegou ao Rio de Janeiro, e explicou que estava à espera de ser despedido no final da temporada. “Depois da proposta do Botafogo eu pedi ao Sp. Braga para aceitar o acordo. Colocar em causa o projeto? Deixei o Sp. Braga a dois pontos do terceiro lugar e ainda íamos receber o FC Porto. Nem eu nem a grande maioria dos adeptos queria que este capítulo terminasse desta forma. Continuo a ter o máximo respeito pelo Sp. Braga, será sempre o meu clube, tal como terei sempre muito respeito pelos adeptos”, disse o treinador, logo em abril, em entrevista ao jornal A Bola.

Saiu de Braga a “mal”, chegou a um clube “virado do avesso”, deu uma masterclass na final: Artur Jorge, o treinador “predestinado”

Dois milhões de euros depois e com contrato assinado por dois anos, Artur Jorge assumiu a equipa de Tiquinho Soares e Alex Telles e só teve a uma preocupação inicial: garantir que não seria mais um treinador para despedir. “Confesso que a primeira imagem que tinha sobre o futebol brasileiro, enquanto espectador, não era a melhor. Justamente pela quantidade massiva de trocas de treinadores. Muitos em cima de um ou dois resultados. Isso não mostra estabilidade do projeto, é uma tremenda prova de falta de confiança. Mas vim muito seguro do projeto que abracei. Sempre que conversei com o John Textor foi no sentido de olhar para tudo como um projeto, com princípio, meio e fim”, atirou.

Artur Jorge chegou a um clube que nunca tinha conquistado a Taça Libertadores e não era campeão há 29 anos, um clube ferido pela mágoa da temporada passada e dos 13 pontos de vantagem que chegou a ter para o Palmeiras e acabou por desperdiçar. Dias depois da glória continental, da conquista inesperada e improvável do maior troféu de clubes da América do Sul, levou o Botafogo ao primeiro lugar do Brasileirão e alcançou uma dobradinha inédita e histórica. Tudo enquanto continuou a ser o Artur de Braga que foi para o Rio.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.