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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Um dia com Frederico Varandas: 20 votos no jogging, uma viagem adiada, memórias do Afeganistão e o debate cancelado

Garantiu 20 votos no jogging, recordou o Afeganistão, deu entrevistas por email, na TV e num podcast, viu um debate cancelado. Um dia com Frederico Varandas, candidato à presidência do Sporting.

Frederico Varandas foi o primeiro a apresentar-se como candidato às eleições do Sporting, foi o primeiro a divulgar publicamente o programa e a equipa que levava consigo, foi o primeiro a oficializar a entrega de listas em Alvalade e, como disse na altura, quer ser também o primeiro a cruzar a linha de meta nesta autêntica maratona que, no seu caso, começou na última semana de maio, após a derrota dos leões na final da Taça de Portugal frente ao Desp. Aves. E foi também o primeiro a liderar uma sondagem, com algum avanço em relação a João Benedito, num estudo feito pela Intercampus divulgado no jornal A Bola a 23 de agosto. No dia em que vamos ter com o antigo responsável pelo departamento clínico verde e branco, há uma nova sondagem feita pela mesma empresa mas para Record, Correio da Manhã e CMTV que o coloca ligeiramente atrás de João Benedito apesar da conclusão final de empate técnico (a margem de erro do estudo era superior à diferença entre ambos). “Se ligo? Não ligo mesmo, nem à primeira nem a esta. Tenho uma ideia formada a nível de votos e estou confiante.”

Frederico Varandas quer liderar solução para o Sporting: “Tomei esta decisão no relvado do Jamor”

O ponto de encontro é a sua casa, na zona de Caxias. Por causa da campanha eleitoral, alguns dos hábitos que tinha mudaram e o primeiro está logo ali à vista. “Quando estava no Sporting era sempre o primeiro a chegar, até antes do Jorge Jesus, o que era complicado. E ia mais cedo para poder fazer exercício, por norma na piscina e de quando em vez no ginásio, antes de começar o dia”, recorda. Agora são 10h da manhã e ainda está a ver mensagens no telefone enquanto procura umas fotos a fazer surf no computador para enviar para outro trabalho. “Aqui só tenho esta mas é muito pequena, não tem resolução. Mas já vou ligar a outra pessoa a pedir, ela deve ter”, diz para o elemento da comunicação que o tem acompanhado desde o início deste caminho. É ali naquele espaço, na parte de baixo da casa, que se concentra em imagens e objetos o mundo de Frederico Varandas: a medicina, a ligação ao Sporting, a carreira militar, os amigos.

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Frederico Varandas. Um passo à frente, a saída da zona de conforto e as “teorias conspirativas da carochinha”

A desistência de Pedro Madeira Rodrigues acabou por alterar os planos que tinha traçado para a parte final do dia, mas não existe ainda assim uma “folga” – quando alguma coisa é adiada ou não acontece, funciona como uma porta que se fecha e abre uma janela de oportunidade para despachar outras coisas. O sábado das eleições está cada vez mais perto e, perante o próprio contexto que se foi criando com dezenas de debates e entrevistas, há uma perceção clara da importância que os últimos debates a seis na TVI e na Sporting TV podem ter, não tanto na perspetiva de explicação de ideias e divulgação de medidas concretas mas no confronto quase “político” que os rivais poderão procurar. “Tudo isto foi uma loucura”, admite, colocando sempre o enfoque nas intervenções programáticas que foi tendo e secundarizando a parte de ataques mais individuais.

[Veja o vídeo em que Frederico Varandas responde às perguntas do Observador – e dá uns toques na bola]

O posicionamento por antecipação ainda antes da destituição do Conselho Diretivo liderado por Bruno de Carvalho colocou-o na frente e, enquanto os restantes candidatos tentavam ainda aferir a possibilidade de criarem listas conjuntas, já Frederico Varandas ia aproveitando o espaço de campanha pré-eleitoral. Isso, a perceção de que estaria na frente e as primeiras sondagens internas ou públicas desenharam um alvo sobre si, adensado pela altercação com José Maria Ricciardi no primeiro debate a sete na Sporting TV. A poucos dias do sufrágio, continua a sentir-se cómodo no caminho que tem feito. E por mais de uma vez existe um diálogo interessante que só terá nos resultados o tira-teimas: “Quem ganha vai ter 37%, no máximo 38%? Vai ser mais, acredite. Quem ganhar vai conseguir pelo menos 40% e estou confiante também nisso, que serei eu”.

Acordou, passou pelas notícias, viu as mensagens e os emails, fez a sua corrida, deu uma entrevista por email e foi para o centro de Lisboa

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10h-12h30

A corrida com playlist, uma entrevista por email, as memórias de vida e uma viagem adiada

Por ter uma manhã sem muitas coisas marcadas, Frederico Varandas aproveita para ver algumas mensagens e emails. De t-shirt cinzenta e calções pretos do Sporting com um pequeno símbolo no lado esquerdo, calça os ténis, entra no carro e segue até à zona perto da praia para fazer o seu jogging. Vai ser de apenas 15/20 minutos, de quando em vez faz o dobro. Agora, tem mais cuidado e até é mais normal optar pela natação. “Tenho aqui um problema no ligamento do joelho. Sei o que é preciso para tratar disto, mas como agora não quero essa opção vou doseando o exercício”, explica, enquanto já vai preparando as músicas para ouvir durante essa corrida matinal com o tempo perfeito, algo encoberto mas com uma temperatura agradável.

O lapso de tempo não é propriamente o maior, mas chega para ouvir cinco ou seis músicas previamente escolhidas. “With or without you”, dos U2; “Just like heaven”, dos The Cure; “Love will tear us apart”, dos Joy Divison; “Stir it up”, de Bob Marley; “Soul kitchen”, dos The Doors; “Ziggy Stardust”, de David Bowie. Na parte final, quando já está a regressar ao ponto de partida, cruza-se com dois sócios do Sporting. Um tem 11 votos, outro tem nove. Ali, naquele Paredão de Oeiras, correm 20 votos que serão seus no próximo sábado. E ambos vão acenando e fazendo sinais de vitória enquanto olham para a câmara. “Desde que entrei nesta corrida a aproximação das pessoas e o número dos que vêm falar comigo a dizer que me apoiam, que gostam do projeto e que confiam em mim é algo de que não estava à espera. Pelo menos a esta escala”, admite.

Durante a corrida no Paredão de Oeiras, cruzou-se com dois sócios do Sporting que votarão em si (num total de 20 votos)

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Banho tomado, roupa trocada, vídeo do Observador feito junto ao terraço a que acede pela sala que tem na parte de baixo da casa e já está de novo em frente ao computador, desta feita não para procurar imagens suas a fazer surf mas para responder a algumas questões por email. Como imagem do desktop, como não poderia deixar de ser, está um leão a rugir, mas é outra coisa que nos prende a atenção: o louvor que tem exposto na parede, junto da medalha de Dom Afonso Henriques, entre outras distinções e recordações da guerra, e de uma imagem sua trabalhada em madeira que lhe foi dada por um arquiteto com quem se cruzou no Afeganistão, assinado pelo tenente-general Artur Neves Pina Monteiro e datado de outubro de 2009.

Frederico Varandas: o médico que só faltou a um jogo porque estava no Afeganistão e quer ser presidente do Sporting

“Louvo o 05665797 TEN MED FREDERICO NUNO FARO VARANDAS pelo zelo e dedicação demonstrados durante o período em que serviu a Quick Reaction Force/Força Nacional Destacada/International Security Assistance Force 2008, no Teatro de Operações do Afeganistão, desempenhando as funções de Oficial Médico, tendo revelado no âmbito técnico profissional elevada competência, extraordinário desempenho e relevantes qualidades.

Durante o aprontamento em Território Nacional, participou ativamente no aprontamento sanitário dos militares da Força, sendo de realçar as suas qualidades de organização e planeamento, revelando elevado sentido das responsabilidades. No Teatro de Operações do Afeganistão, além das inúmeras missões em que participou de apoio à 1.ª Companhia de Comandos no Regional Command Capital, há que destacar a sua participação na Operação Sohil Laram IV, que decorreu no Regional Command South na província de Kandahar, distrito de Maywand, local de elevada atividade insurgente e de elevado risco, demonstrando excecionais qualidades e virtudes militares, e ser capaz de assumir cargos de maior responsabilidade e risco.

Militar muito empenhado e dedicado nas suas tarefas diárias, demonstrou possuir elevada iniciativa, grande dinamismo e espírito de sacrifício, bem patentes na forma brilhante e exemplar como apoiou o Comandante da Força, evidenciando total disponibilidade nas mais diversas circunstâncias a todas as ocorrências solicitadas, tendo sempre em vista a saúde e o bem estar dos militares portugueses. Educado e leal, demonstrou excelentes qualidades de trabalho e espírito de bem servir nas mais diversas situações, granjeando facilmente a estima e a consideração de todos.

Pelo seu extraordinário desempenho, o TEN VARANDAS é digno de ser apontado à consideração de todos, tendo contribuído significativamente para a eficiência, prestígio e cumprimento da missão da QRF/FND/ISAF 2008 e do Exército no Teatro de Operações do Afeganistão, sendo de considerar os serviços prestados como relevantes e de elevado mérito”.

O louvor que recebeu depois de ter estado no Afeganistão, o lenço e a identificação que por lá usou e as medalhas posteriores

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Naquela parede estão apenas elementos alusivos à carreira militar e uma foto a saltar nos festejos pela vitória na Supertaça de 2015, onde aparece também Octávio Machado. Em frente, por cima do sofá, encontram-se três quadros grandes da missão no Afeganistão, um deles com a imagem em que surge a sorrir para uma criança local. Por trás da porta, quase de alto a baixo, organizou 16 imagens com os amigos mais próximos, incluindo uma com a camisola do Sporting quando foi ao Europeu de 2012, na Polónia e na Ucrânia. Na estante encontramos um pouco de tudo e convidamos Frederico Varandas, de forma aleatória, a apontar para as primeiras recordações que lhe vão surgindo. “Aquela foto ali com o Rui [Patrício] foi quando ganhámos a Taça de Portugal em 2015, a perder 2-0 aos 84 minutos com menos um… Que jogo…”, diz, apontando para a moldura ao lado da luva assinada pelo guarda-redes com a dedicatória “Para o número 1 dos médicos, um abraço RP”.

"Tenho uma história gira: comprei-a [prancha de surf] a pensar que ia para as Maldivas com ela porque tinha viagem marcada para junho. Reservei tudo com muita antecedência mas como imaginam...", diz a rir.

“Aquela foi a camisola com que o Rojo jogou a final do Mundial de 2014 e as botas estão ali em cima. Ali estão as três medalhas que ganhei no Sporting com Taça de Portugal, Supertaça e Taça da Liga”, vai prosseguindo. Os livros que enchem as estantes estão organizados por temas, entre o desporto (o Almanaque do Leão ou a biografia de Alex Ferguson), a medicina e os gostos pessoais (como os U2 na música). “E aquele capacete ali, Senna?”, perguntamos. “Senna, claro. Um dos meus heróis. O meu pai sempre gostou muito de carros e fez durante muitos anos ralis. Também gostava muito de Fórmula 1 e para mim era o Senna. Quando posso, costumo ir ter com o Leonardo [Jardim] para ir ver o Grande Prémio do Mónaco”, conta. Ainda aponta para a moldura em cima da secretária, onde surge numa foto com três anos na ginástica do Sporting mas faz mais uma paragem antes de sair para Lisboa. “Quando estava em Alcochete andava sempre com uma prancha de surf no carro, se houvesse ondas ia para a Costa porque era uma viagem rápida de 20 minutos”, refere, antes de mostrar aquela que descreve como a sua “menina”, uma prancha entre as quatro que estão ali, que tira da proteção e que está ao lado da bicicleta da namorada. “Tenho uma história gira: comprei-a a pensar que ia para as Maldivas com ela porque tinha viagem marcada para junho. Reservei tudo com muita antecedência mas como imaginam…”, diz a rir. Nem foi preciso terminar a frase.

A bicicleta da namorada junto a quatro pranchas de surf. A que tem na mão pensava que usaria em junho nas Maldivas... antes de tudo mudar

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12h30-15h

O almoço com Rogério Alves e João Palma entre novidades próprias de campanhas eleitorais

O ponto de encontro à hora de almoço é a mesma unidade hoteleira na rua de Santa Marta que tem também servido de base da candidatura além da própria sede, na zona do Campo Pequeno. O parque de estacionamento indica que os lugares estão cheios, mas afinal há mais um espacinho para deixar o carro, subir no elevador e ter uma surpresa: Hugo Viana, antigo campeão pelo Sporting em 2002, que fará também parte da estrutura do futebol em caso de triunfo, estava por ali e passou pelo hotel só para dar um abraço a Frederico Varandas. O antigo médio está em forma, quase como se fosse ainda jogador. Falam sobre como estão a correr as coisas, se existe alguma novidade e o esquerdino despede-se antes de chegarem os “convidados”.

Na chegada ao hotel na rua de Santa Marta para almoçar tinha Hugo Viana, ex-campeão que fará parte da estrutura, à sua espera

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O médico tem almoço marcado com os candidatos a presidente e vice da Mesa da Assembleia Geral, Rogério Alves e João Palma. No início não sabiam ainda que a reportagem do Observador estaria a acompanhar o dia de Frederico Varandas, mas depois de umas piadas para quebrar o gelo o ambiente volta a “serenar”. Fala-se de sondagens, da importância dos debates, da confiança existente a poucos dias do escrutínio, de histórias do Sporting, sobretudo ligadas ao antigo bastonário da Ordem dos Advogados. E é também durante a refeição, onde o líder da lista D opta pelo risotto de camarão com um pouco de vinho branco (antes e depois continua na água), que se confirma a desistência de Pedro Madeira Rodrigues a favor de José Maria Ricciardi, o que acaba por deitar também por terra o debate que tinha marcado com o gestor nessa noite na CMTV.

É também durante a refeição, onde o líder da lista D opta pelo risotto de camarão com um pouco de vinho branco (antes e depois continua na água), que se confirma a desistência de Pedro Madeira Rodrigues a favor de José Maria Ricciardi, o que acaba por deitar também por terra o debate que tinha marcado com o gestor nessa noite na CMTV.

Ainda antes de pedir uma trilogia de chocolate para acabar a refeição, Frederico Varandas recebe a informação de que, caso Ricciardi ganhasse as eleições, Adrien poderia estar de regresso a Alvalade. Por conhecê-lo, estranha, mas não é um assunto que o prenda muito e retoma a conversa com os companheiros de lista. Mais tarde, o jogador esclareceu que recebeu “contactos de várias candidaturas” mas assegurou que não tinha nenhum acordo com ninguém. “O meu presidente é só um, chama-se Sporting. Neste momento é no Leicester que estou focado e que dou o melhor. O Sporting é o meu clube de coração, que vou sempre defender e apoiar durante a minha vida. Um abraço de boa sorte para todos os candidatos e que tragam o melhor para o nosso clube”, escreveu nas redes sociais. Depois disso, a lista B respondeu às “insinuações e falsidades tornadas públicas”, falando de um “acordo tácito”. “Ontem [segunda-feira] de manhã, nos escritórios da Avenida da Liberdade, onde temos o nosso centro operacional, houve uma reunião comigo, Caneira, Ricciardi e Adrien onde se manifestou a vontade, de parte a parte, em ver as possibilidades do Adrien vir para o Sporting. Havia um compromisso de não divulgarmos esta reunião, mas neste momento sou obrigado a divulgar, já que ele veio a público dizer isto. É um compromisso que só pode ser efetivo depois de se conversar com o Leicester. O Adrien mostrou-se disponível para representar o Sporting, desde que o Leicester o liberte. Compromisso? Houve, com a minha presença, a de Ricciardi, Caneira e Adrien”, assumiu José Eduardo.

João Palma e Frederico Varandas já estavam à mesa, Rogério Alves chegou minutos depois para o almoço

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15h-18h

A preparação para a entrevista na Sporting TV e os recados deixados nas entrelinhas

Antes da entrevista na Sporting TV, Frederico Varandas passa pela sua sede de campanha, onde vai preparando a entrevista individual ao canal do clube. Nesta altura, e olhando apenas para o projeto que defende para os leões, não há propriamente um assunto que não tenha na ponta da língua, mas nada como rever alguns pontos e dar uma espreitadela também na atualidade e em algumas mensagens que vai recebendo. Vai a casa vestir o fato, numa passagem relâmpago de poucos minutos, e acaba por chegar a Carnaxide em cima da hora para uma entrevista gravada por questões de agenda.

Na sede de campanha, na zona do Campo Pequeno, a fazer os últimos preparativos antes da entrevista na Sporting TV

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“Cada vez me sinto mais confiante e convicto. Temos uma grande equipa, o melhor projeto, ideias concretas e aquilo que será o melhor para o Sporting. Objetivo? Devolver a dignidade que o clube merece e vencer no futebol. Confesso que fico desiludido mas percebo melhor o que foi o clube nos últimos 30 anos – guerras civis, insultos de sócios contra sócios e os rivais lá em cima. Aquilo que parece interessar é onde esteve, o que fez… Campanhas de intoxicação, calúnias contadas para denegrir. Esta divisão interna é uma das razões para não vencer mais vezes. Este é também um ato decisivo para sair deste ram ram que fez com que ganhássemos apenas três títulos nos últimos 40 anos. A realidade é esta: ou muda e entra na Champions ou perde o comboio porque antigamente a Liga dos Campeões dava 20 milhões que se podiam compensar com uma venda e uma gestão criteriosa; agora não, são 70 milhões que podem vir daí porque o futebol mudou muitos nos últimos anos”, destacou. “Podia ter ficado na minha zona de conforto, era unânime até dia 24 de maio para todos. Há décadas que ouço esta lenga lenga da situação financeira caótica, quase de falência. Quando se fala de reestruturação financeira, associa-se sempre ao Sporting, como se o Benfica não tivesse 150 milhões em empréstimos obrigacionistas ou o FC Porto não estivesse sob alçada da UEFA”, acrescentou.

“Fui feito sócio pelo meu avô uns meses depois de ter nascido e aos três anos estava na ginástica do Sporting. Ainda me lembro que, como o meu irmão é mais velho, às vezes ia para o Magriço com a minha mãe fazer trabalhos de casa enquanto esperávamos por ele. Aos nove, quando já estava numa classe especial, acabei por sair por causa da asma e passei para a natação nos Olivais (…) Nunca gostei de pieguices, não me importo de ter lutas duras, mas tem de ser leal. Lembro-me que quando entrei na Filipa de Lencastre fizemos duas equipas de Sporting e Benfica e até aos 30 e tal anos – porque há aqui um problema num joelho que tenho de tratar à sério mas por saber o que fazer não quero agora – tínhamos os nossos jogos”, recordou.

"Confesso que fico desiludido mas percebo melhor o que foi o clube nos últimos 30 anos – guerras civis, insultos de sócios contra sócios e os rivais lá em cima. Aquilo que parece interessar é onde esteve, o que fez... Campanhas de intoxicação, calúnias contadas para denegrir. Esta divisão interna é uma das razões para não vencer mais vezes".

A incursão para a parte militar é feita através das finais da Taça de Portugal, em especial a que foi resolvida por Rodrigo Tiuí com dois golos frente ao FC Porto, em 2008. “A primeira final que vi o Sporting ganhar no Jamor foi a de 1995, frente ao Marítimo, com dois golos do Iordanov. Depois também estive naquela final triste do ano seguinte, do very light. Era daqueles que ia para o estádio às onze da noite na véspera do início da venda de bilhetes e ficava lá a dormir, não havia como há hoje aquela parte das prioridades pelos anos de Gamebox. Em 2008, era tenente e estava com os comandos no Afeganistão. Antes de ir para lá, fui ter com um dos meus avôs, que era engenheiro eletrónico, para ver se me arranjava um rádio que pudesse levar. Quando foi o jogo dos 5-3 ao Benfica estava em Cabul, a final já foi no período em que estivemos 42 dias isolados no sul, em Kandahar. Ia ser um fim de semana de lua cheia e de acordo com os serviços secretos do exército afegão surgiu a informação de que poderia haver um ataque e foram retiradas todas as pessoas que não estivessem para o combate para zonas um pouco mais abrigadas. Apanhei a Antena 1 em onda curta e os soldados foram-se juntando. O silêncio foi quebrado duas vezes”, contou.

Entrevista individual na Sporting TV gravada por compromissos de agenda (neste caso, o debate na TVI24 com os outros candidatos)

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Entre a passagem pelo projeto que defende para as modalidades, a necessidade de aumentar receitas e a apresentação de declaração de rendimentos de todos os que sejam remunerados pelo clube ou SAD em cargos diretivos, Varandas focou ainda atenções num aspeto à primeira vista “menor” mas que quer mudar: a ligação dos jogadores de futebol com a comunidade. “Vejo um certo isolamento do futebol em relação à sociedade e aos próprios adeptos, defendo que deve existir mais contacto e outra integração na realidade do clube e da sociedade. Uma vez por mês, por exemplo, um Bas Dost, um Nani ou um Bruno Fernandes irem com o presidente ao Polo do Estádio Universitário de Lisboa onde treinam os mais pequenos. Não pode ser apenas na altura do Natal ir ao IPO, tem de haver uma maior aproximação aos sócios e à sociedade”, destacou.

Varandas quer autonomizar estrutura profissional das modalidades e anuncia basquetebol para 2019/20

18h-00h

O debate que virou entrevista, o caso e-toupeira e os bastidores dos bastidores

Em condições normais, face ao anúncio de desistência de Pedro Madeira Rodrigues, tudo apontava para que o candidato voltasse a casa e por lá ficasse face ao cancelamento do debate na CMTV. No entanto, e como o grau de imprevisibilidade é sempre grande nesta campanha, acaba por quase não parar em casa: o candidato que anunciara uma horas antes o apoio a José Maria Ricciardi iria dar uma entrevista a explicar as razões que tinham levado a essa saída da corrida eleitoral e o canal propôs a presença de Frederico Varandas em estúdio depois para uma pequena entrevista no tempo que seria do debate. O médico acede ao pedido, sai de Caxias e vai até ao canal numa incursão que já não estava propriamente nos planos.

Nessa altura todas as atenções estão viradas para outra coisa que não o Sporting. O Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa tinha concluído a fase de inquérito do chamado caso e-toupeira e a SAD do Benfica, bem como o assessor jurídico Paulo Gonçalves, tinham sido formalmente acusados de diversos crimes. Dois funcionários judiciais, sendo que um deles ocupa igualmente funções como observador de arbitragem, viram igualmente a procuradora do DIAP de Lisboa imputar-lhe a alegada prática de diversos crimes. “Acusação absurda e injustificada”, comentam os encarnados em comunicado, referindo ainda que não tinha chegado à Luz qualquer notificação oficial sobre o caso, ao contrário do que estava a ser veiculado.

Debate na CMTV com Madeira Rodrigues foi cancelado mas ainda deu uma curta entrevista antes do podcast Sporting 160, já em casa

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“Este caso é uma vergonha para o futebol português. Caso seja eleito, vou exigir sempre zero de suspeição em termos internos, para mim e para os meus. Acredito na Justiça portuguesa e isto é apenas o início. A Justiça tem de fazer cumprir a lei doa a quem doer e seja a quem for”, comenta de forma resumida ao Observador, na primeira reação ao caso que vai continuando a abrir os telejornais, colocando por uma noite a questão das entrevistas, dos debates e das sessões de esclarecimento dos candidatos à presidência do Sporting num plano quase inexistente em termos mediáticos. De regresso a casa, ainda havia um último ponto da agenda por cumprir: mais à noite, e à semelhança do que outras listas já tinham feito, responde às perguntas que vão sendo dirigidas no podcast Sporting 160, de novo na mesma sala onde tinha respondido a questões por email de manhã, antes do almoço realizado em Lisboa com Rogério Alves e João Palma. E é provável que o telefone tenha estado ativo por mais algum tempo – afinal, parte do que são estas eleições ainda é feito nos bastidores dos próprios bastidores.

O Observador termina hoje a publicação das reportagens com todos os candidatos à presidência do Sporting, depois de Dias Ferreira, Rui Jorge Rego, Fernando Tavares Pereira, João Benedito e José Maria Ricciardi (e de Pedro Madeira Rodrigues, com quem estivemos no dia em que decidiu abdicar da corrida). 

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