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Commission Proposes A Common Charger For Electronic Devices
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A visão de uma série de diferentes opções nos carregadores poderá vir a desaparecer.

Getty Images

A visão de uma série de diferentes opções nos carregadores poderá vir a desaparecer.

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Um “dia histórico” na saga do carregador universal. Golpe à Apple ou foco no ambiente?

Um dia "histórico" e uma vitória para a conveniência dos consumidores. O acordo para o carregador universal para gadgets ganhou força no último ano, mas de onde veio e o que vai mudar na UE?

“É um dia histórico”, descreveu Alex Agius Saliba, eurodeputado e principal negociador envolvido na discussão de uma solução de carregador universal na União Europeia (UE). Em conferência de imprensa esta terça-feira, após o Parlamento Europeu ter dado luz verde ao USB tipo C como a resposta para carregar um total de 15 equipamentos tecnológicos diferentes, esteve ao lado do comissário Europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, para comunicar uma medida que, defende, não afetará apenas a Apple.

“Dentro de poucos anos, em 2024, vamos ter um standard comum para uma lista alargada de produtos”, resumiu o maltês Alex Agius Saliba. A medida, que está a ser discutida no espaço europeu há mais de uma década, tem sido encarada pela indústria tecnológica como um golpe à Apple e aos seus carregadores próprios.

Na base de toda esta discussão, terá estado justamente um pedido por parte dos utilizadores, já que a generalidade dos equipamentos Android usa o mesmo tipo de carregador – inicialmente USB, até serem mais tarde substituídos pelo USB-C, que atualmente está presente na maioria dos telefones recentes, permitindo um carregamento rápido. Por sua vez, os equipamentos da Apple usam um cabo Lightning. A tecnológica norte-americana é, em 2022, a única entre as principais fabricantes de smartphones que recorre a uma solução própria para os carregamentos.

Parlamento Europeu chega a acordo para carregador universal de smartphones e portáteis

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Ainda de acordo com os responsáveis europeus, a medida tem “dois benefícios importantes”: a conveniência dos consumidores no mercado da Europa e a questão ambiental. À medida que a indústria tecnológica avançou e os utilizadores começaram a “colecionar” carregadores em casa, surgiram as dúvidas sobre como resolver a questão ambiental e os resíduos eletrónicos. Afinal, de acordo com os números divulgados nesta conferência, “um em cada três carregadores nem sequer chega a sair da caixa”. Assim, este acordo vai fazer com que “os consumidores tenham de manter menos carregadores em casa e também andem com menos carregadores para os diferentes dispositivos”, vincou Alex Agius Saliba. “Acredito que o acordo é muito importante porque dá uma opção justa aos consumidores.”

“É um passo importante para aumentar a conveniência para os consumidores."
Alex Agius Saliba, principal negociador da proposta do carregador universal.

Pelas contas da UE, a medida vai trazer aos consumidores uma poupança anual de 250 milhões de euros, já que não precisarão de comprar carregadores desnecessários. Mas, para isso acontecer, a UE defende que os consumidores vão ter de receber informação clara sobre as características de carregamento do equipamento que pretendem comprar, com o intuito de “facilitar a perceção sobre se têm ou não um carregador compatível” em casa. Além disso, o acordo contempla também que quem vai às compras possa escolher se quer comprar ou não um equipamento com carregador. Já na vertente ambiental, a UE estima que os carregadores não usados representem 11 mil toneladas de lixo eletrónico anualmente.

Se a solução comum para carregar smartphones é vista como o principal tema desta medida, o acordo atingido esta terça-feira alargou a lista de produtos incluídos no âmbito da solução de carregador universal. Além dos smartphones, câmaras fotográficas e dos tablets – os principais equipamentos que constavam da proposta em cima da mesa – também foi atingido um acordo para incluir “outras categorias”, onde constam também os computadores portáteis, e-readers, auriculares, teclados, ratos, colunas portáteis e consolas que possam ser transportadas – por exemplo a Nintendo Switch. No total, serão 15 as categorias de produtos alvo desta solução comum de carregamento, virada para os equipamentos de pequena e média dimensão. De fora ficam, por exemplo, os smartwatches e as pulseiras de fitness, devido à dimensão mais reduzida.

Olhando especificamente para os portáteis, a nota refere que estes equipamentos precisarão “de ser adaptados para estes requisitos no espaço de 40 meses após a medida entrar em vigor”.

Antes de entrar “à séria” em ação, o Parlamento Europeu e o Conselho precisarão de aprovar formalmente o acordo, para que só então possa ser publicado no Jornal Oficial da União Europeia. Depois disso, entrará em vigor 20 dias após a publicação. O comunicado do Parlamento Europeu frisa que as novas regras não irão afetar os produtos que já estejam no mercado até à data de publicação.

E as empresas? Vão ter de se adaptar, diz Thierry Breton

Com um total de 15 categorias de produtos no âmbito desta medida e a novidade dos portáteis, cumprir estas novas exigências no espaço europeu afetará um leque de companhias no setor da tecnologia e não só a Apple – a companhia que tem sido vista como a principal opositora desta medida. Na verdade, os restantes players do setor deram o salto para o USB-C nos últimos anos, impulsionadas pela possibilidade de carregamentos mais rápidos.

Como seria de esperar, a tecnológica norte-americana foi a marca mais mencionada entre as questões da conferência de imprensa sobre o acordo. Questionado sobre se a medida poderá forçar a Apple a sair do mercado europeu, Thierry Breton deixou uma mensagem clara: “não estamos a forçar ninguém a vir para o mercado interno mas se quiserem vir têm de cumprir com as regras.”

epa09167147 European Commissioner in charge of internal market Thierry Breton attends a debate on European Defense Fund during a plenary session of the European Parliament in Brussels, Belgium, 29 April 2021.  EPA/OLIVIER HOSLET

Thierry Breton, Comissário Europeu do Mercado Interno.

OLIVIER HOSLET/EPA

“Há 450 milhões de habitantes na Europa, oferecemos o nosso mercado e as empresas adaptam-se.” E aproveitou para deixar um recado: “em vez de fazerem lobby, falem connosco”. “Estamos aqui para defender o interesse geral”, garantiu o comissário Europeu, frisando que a “porta está aberta”, mostrando disponibilidade para o diálogo com as empresas que vão enfrentar as consequências desta medida.

Se a mensagem de Breton já tinha ficado clara, as declarações do deputado maltês Alex Agius Saliba foram ainda mais diretas no “recado” à Apple. “Se a Apple quer vender os seus produtos dentro de dois anos no mercado interno tem de cumprir com as nossas regras”, lembrando que o acordo vira uma página na saga deste carregador universal, que agora já não é apenas um “memorando de entendimento”.

Apple sempre torceu o nariz à medida

Ao longo dos anos em que esta harmonização dos carregadores tem estado em discussão, a Apple tem sido bastante vocal nas demonstrações de discordância da medida. Em setembro do ano passado, em declarações à agência Reuters, um porta-voz da Apple referiu que a empresa estaria receosa no que toca aos limites à inovação. “Continuamos a estar preocupados em como uma regulação rígida que dita apenas um tipo de conector, que pode limitar a inovação em vez de encorajá-la, o que acabaria por prejudicar os consumidores na Europa e em todo o mundo.”

Na visão da Apple, a harmonização dos carregadores criaria mais lixo eletrónico em vez de reduzi-lo, ao tornar o ecossistema de acessórios Lightning redundante.

Apple contra proposta da UE para carregador universal

Um estudo feito a pedido da Comissão Europeia, que se debruça sobre a avaliação do impacto da estratégia dos carregadores e que foi publicado em fevereiro de 2021, refere que, do ponto de vista económico, a uniformização dos carregadores representaria uma poupança, especialmente para os consumidores de produtos da Apple. “De uma perspetiva económica, a opção que gera a maior poupança para os consumidores é a opção 1 [a harmonização dos carregadores], devido à poupança de mudar de um (mais dispendioso) cabo Lightning para um cabo USB tipo C e pela redução das vendas de cabos isolados (os cabos Lightning são substituídos de uma forma mais frequente do que os cabos comuns, de acordo com os resultados de um inquérito aos consumidores)”, refere este estudo. A título de exemplo, de acordo com os preços disponíveis na loja da Apple para Portugal, um cabo Lightning de um metro, custa 25 euros.

A imprensa norte-americana ressalva que poderá ainda existir margem que permita à Apple “contornar” a medida. O próprio comunicado da instituição europeia nota que estas regras vão aplicar-se a dispositivos “que são recarregáveis através de um cabo”. Através de um telefone carregado exclusivamente sem fios, por exemplo, a questão poderia ser contornada.

Mas, de acordo com a Bloomberg, o cenário que está em testes internos na empresa será ligeiramente diferente. Em maio deste ano, a publicação norte-americana escrevia que a Apple estará mesmo a testar internamente smartphones com uma porta USB-C.

Preocupação ambiental ditou o adeus aos carregadores nas caixas

O lixo eletrónico é uma preocupação crescente – e que não se fica apenas pelas fronteiras europeias. De acordo com os números publicados pelo WEEE Forum, o fórum para os resíduos de equipamentos elétricos e eletrónicos, estima-se que em 2021 tenham sido descartadas 57,4 milhões de toneladas de lixo eletrónico.

Com as tecnológicas cada vez mais pressionadas a cumprir com os critérios de responsabilidade ambiental – as principais “big tech” partilham relatórios sobre o impacto das atividades no ambiente – a indústria tem vindo a apostar não só na redução da dimensão das caixas, mas também a optar por materiais alternativos, em detrimento do plástico. A aposta nos materiais reciclados também tem estado em voga nos últimos anos.

Mas esta não é a única receita. Em 2020, por exemplo, houve quem deixasse de incluir o adaptador de corrente na caixa do smartphone – a Apple. O iPhone 12, apresentado em outubro de 2020, deixou de incluir o adaptador de corrente na caixa, assim como os auriculares, optando apenas por um cabo para carregamento. A justificação da Apple? Os clientes já têm demasiados equipamentos do género em casa.

“Os clientes já têm mais de 700 milhões de auriculares Lightning e muitos clientes estão a virar-se para uma experiência sem fios”, disse na altura Lisa Jackson, vice-presidente da Apple para as iniciativas ligadas ao ambiente, “policy” e área social, no lançamento do iPhone em 2020. “Há também mais de dois mil milhões de adaptadores de corrente em todo o mundo e isso sem contar os adaptadores de outras fontes. Vamos tirar estes artigos da caixa do iPhone, o que vai reduzir as emissões de carbono e evitar o uso de minério e materiais preciosos”.

A Apple pode ter sido uma das primeiras entre as principais fabricantes de smartphones a retirar alguns artigos da caixa, mas depressa ganhou companhia. Em dezembro de 2020, o CEO da fabricante de smartphones chinesa Xiaomi, Lei Jun, confirmou que o telefone Mi 11 também não incluiria um carregador.

Meses depois, no lançamento da série de telefones Galaxy S21, em janeiro de 2021, a sul-coreana Samsung retirou os auriculares e também o “tijolo” de carregamento da caixa, mais uma vez mencionando a questão ambiental. “Os utilizadores existentes dos Galaxy são encorajados a continuar a usar os auriculares e carregador que já têm, enquanto novos utilizadores vão poder comprá-los separadamente”, disse a empresa há mais de um ano, garantindo “preços mais baixos” nos carregadores disponíveis no mercado.

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