“Ossos fortes, pela qualidade de vida” foi o tema do quarto e último webinar promovido pela Associação Portuguesa de Osteoporose (APO), enquadrado no programa “Ama os teus Ossos”, que pretende alertar os portugueses para a saúde óssea. António Maia Gonçalves, especialista em medicina interna, cuidados intensivos e bioética, foi o convidado, que falou sobre o impacto desta doença na qualidade de vida de quem sofre dela e de como é da responsabilidade de todos preveni-la.
O especialista começou por “alertar” para o facto de o osso ser um tecido vivo e, por isso, ao longo dos anos, sofrer alterações. “Até aos 30 anos, o osso vai-se mineralizando. A partir daí, vamos perdendo, por ano, 0,3% dessa massa óssea, ou seja, o osso vai ficando cada vez menos denso”. Após essa idade, o osso começa a ter mais dificuldade em recuperar, influenciando aqui o estilo de vida e mesmo o património genético. “As mulheres acabam por ser um pouco mais prejudicadas neste sentido, já que aquando da menopausa, a perda do estímulo estrogénico faz com que este processo seja mais rápido”.
Maia Gonçalves salientou a necessidade de quer médicos, quer pacientes estarem atentos a “pequenos” sinais – como dores que por vezes podem representar microfraturas – e investigar se os mesmos não estarão associados a osteoporose. “Assim, é possível intervir mais precocemente e evitar as fraturas. A osteoporose tem essa maldade: atua silenciosamente. Se estamos à espera de um alarme, como por exemplo a fratura do colo do fémur, ou o colapso de uma vértebra, já estamos a atuar muito tarde. Nós, médicos, também temos de estar muito mais motivados e sensibilizados para esta questão”.
O profissional voltou a mencionar as mulheres no período de menopausa que devem estar particularmente atentas, com a densitometria óssea a ser fundamental. “As expectativas, a qualidade de vida e a longevidade são fundamentais. E nesse contexto, a osteoporose desempenha um papel muito importante. Para termos noção dessa importância, em média, 24% das pessoas que são operadas ao colo do fémur morrem durante o ano seguinte. É muito grave. Não é a fratura que mata, é a imobilidade que condiciona, são os fenómenos trombóticos, são complicações da própria cirurgia”, explica.
A importância do diagnóstico e da dieta
Diagnosticar esta doença é fundamental, diz o especialista em medicina interna. “Hoje em dia, as pessoas têm muitas doenças. Não sofrem só do coração ou dos pulmões. Têm diabetes, sofrem dos rins… E no meio de tudo isso, às vezes, desvalorizamos problemas como a osteoporose.” No entanto, Maia Gonçalves enfatiza que o combate à osteoporose começa nas próprias pessoas, com o tabaco, o sedentarismo, álcool e o café a terem aqui um papel fundamental. “É como com o colesterol. Não adianta o médico dar um comprimido. É necessário alterar os comportamentos, e isso sim, é difícil. Com a osteoporose é exatamente a mesma coisa. A prevenção é da responsabilidade de cada um de nós, com o médico a obviamente ter um papel muito importante em não deixar esta doença avançar, atuando de forma mais precoce possível.”
Uma dieta adequada é obviamente fundamental em todo este contexto, garante o especialista. “Os produtos lácteos são indiscutivelmente os mais aconselhados, assim como os vegetais, como brócolos, espinafres ou agriões, que são essenciais, sobretudo nas dietas vegetarianas”.
Alimentos que fortificam os ossos
↓ Mostrar
↑ Esconder
Proteínas, minerais e vitaminas são considerados elementos essenciais para a produção e regeneração do osso. É por isso que os especialistas alertem, cada vez mais, para a necessidade de uma dieta equilibrada, rica em cálcio e vitamina D, para garantir a saúde óssea.
No topo da lista das fontes de cálcio estão os laticínios. Ou seja, o leite e os seus derivados, como queijo e iogurte. Além de serem os principais fornecedores de cálcio, o mineral proveniente dos lacticínios é muito mais facilmente absorvido pelo nosso organismo do que o cálcio existente noutros alimentos. Mas também as leguminosas são igualmente importantes, assim como os vegetais de folha verde, como os espinafres e os brócolos. Alguns cereais, frutos secos e peixe, principalmente as espécies que podem ser comidas com espinhas, também fazem parte da lista de alimentos aliados dos ossos.
Já a vitamina D pode ser encontrada na gema do ovo, peixe gordo (salmão, atum e sardinhas) e alimentos enriquecidos, mas a sua produção pelo organismo ocorre essencialmente através da exposição solar. É possível que algumas pessoas necessitem de recorrer a suplementação para obter os níveis adequados de vitamina D e de cálcio.
No reverso da moeda, a cafeína e o sal podem aumentar a perda de cálcio pelo corpo, devendo, por isso, ser consumidos com moderação.
A par da dieta, há um instrumento que deve ser utilizado para a manutenção da saúde óssea: o exercício físico, já que, por um lado, por si só, desencadeia uma série de respostas endócrinas que favorece a mineralização do osso. “Em vez de deixar o cálcio a passear sozinho no sangue, o exercício físico vai utilizá-lo para mineralizar o osso”, explica. Por outro lado, quando bem planeado, o exercício físico vai reforçar a parte muscular. “Se a coluna não tiver um bom suporte muscular, as 24 vértebras que nos suportam toda a vida vão ter uma grande sobrecarga. Se houver reforço muscular dos principais grupos de sustentação, como anca e coluna, vamos ter um menor desgaste ósseo, e isso acaba por prevenir a osteoporose.” O especialista destaca, no entanto, que não é qualquer desporto a ter este efeito. Neste capítulo, Maia Gonçalves aponta os desportos de menor impacto, como caminhar, hidroginástica ou bicicleta, a par da musculação dirigida, atividade que deverá ser acompanhada por um profissional.
A vitamina D foi igualmente tema de conversa, nomeadamente a correta exposição ao sol. Nas palavras do especialista, bastam 10 ou 15 minutos antes das 10 da manhã, até mesmo com calças e t-shirt, mas sem protetor, para haver a síntese suficiente desta vitamina necessária ao nosso metabolismo.
Em jeito de conclusão, Maia Gonçalves apelou a uma dieta equilibrada, a um estilo de vida com comportamentos moderados e à prática de exercício.
Saiba mais em
https://observador.pt/seccao/observador-lab/ame-os-seus-ossos/