910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Ilustração de Luis Grañena
i

Ilustração de Luis Grañena

Ilustração de Luis Grañena

Uma profecia, os republicanos "estúpidos" e o comício "drive-in". Campanhas a dois ritmos nos EUA a 15 dias da eleição

Tudo o que tem de saber sobre o que se passa na campanha dos Estados Unidos. A 15 dias da eleição presidencial, a campanha de Trump ganha ritmo na estrada e a de Biden nos anúncios televisivos.

Todos os dias fazemos-lhe um resumo do que se está a passar na campanha eleitoral nos Estados Unidos: as principais histórias do dia, as frases descodificadas, fact checks e recomendações de leitura para estar sempre bem informado até à eleição do próximo Presidente.

O que se passa na campanha

Depois do duelo de “town halls” da última quinta-feira (que, no campeonato das audiências, foi ganho por Joe Biden, com o democrata a atrair 15,1 milhões de espectadores à ABC e Trump a conquistar 13,5 milhões na NBC), Donald Trump e Joe Biden aproveitaram o fim-de-semana de campanha para percorrer o país em busca de votos. A meio de uma pandemia, Trump e Biden têm formas muito diferentes de fazer campanha: enquanto o republicano percorreu o país a falar de multidão em multidão, o democrata voltou-se para os comícios “drive-in” e manteve os apoiantes dentro do carro.

1A “profecia” e os republicanos “estúpidos”

Atrás em todas as sondagens, Trump tem estado mais ativo nos apelos diretos ao voto: consciente de que está em clara desvantagem para Biden entre o eleitorado feminino, o Presidente norte-americano tem-se desdobrado em apelos às mulheres suburbanas dos EUA. “Podem, por favor, gostar de mim?”, chegou a dizer num comício na semana passada. No fim-de-semana, repetiu este e outros apelos, em comícios e discursos na Flórida, na Geórgia, no Wisconsin, no Michigan e no Nevada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No domingo, Trump foi ao estado do Nevada, onde as sondagens dão uma ligeira, mas nada decisiva, vantagem a Joe Biden. De manhã, esteve numa igreja de Las Vegas, deixou uma quantia choruda no ofertório (alguns jornais falam em várias notas) e ouviu uma pastora evangélica dizer-lhe que, de acordo com uma “profecia”, Trump “vai ser Presidente outra vez“. Os cristãos evangélicos brancos são um dos principais eleitorados de Donald Trump — mas, mesmo entre eles, o Presidente tem vindo a perder apoios. Em setembro, 78% dos evangélicos brancos diziam apoiar Donald Trump, contra 83% no mês anterior, segundo dados do Pew Research Center.

Ao fim da tarde, Trump fez mais um dos seus já tradicionais comícios de aeroporto em Carson City, no mesmo estado (é assim que o Presidente tem conseguido correr grande parte do país: aterra, faz o comício em frente ao avião e volta a descolar). No discurso, perante centenas de apoiantes, atacou diretamente alguns membros do seu próprio partido, numa referência ao senador republicano Ben Sasse, do Nebraska, que na semana passada disse que o Presidente “beija o rabo a ditadores”, “goza com os evangélicos em privado”, “seduziu os supremacistas brancos” e tem uma família que “trata a Presidência como uma oportunidade de negócio”.

“Temos algumas pessoas estúpidas” dentro do partido, disse Trump no comício. “Temos este tipo, o Sasse, que quer tomar uma posição. Os republicanos têm de se unir”, apelou Trump.

A tónica dos discursos de Trump tem sido constante: ataques diretos a Joe Biden, o auto-elogio dos seus quatro anos como Presidente e o apelo direto ao voto daqueles que em 2016 o elegeram para a Casa Branca. No comício que fez no sábado em Janesville, no Wisconsin, aproveitou o momento em que enviou as condolências ao Presidente francês, Emmanuel Macron, a propósito do atentado que envolveu a decapitação de um professor em Paris, para criticar o terrorismo islâmico e vangloriar-se pelo travel ban que impôs em 2017 a uma série de países de maioria muçulmana.

Contudo, a declaração que marcou o fim-de-semana foi dita por Trump ainda na sexta-feira à noite, num comício na cidade de Macon, no estado da Geórgia. Ainda que em tom sarcástico, o Presidente começou a pôr em cima da mesa a hipótese de não ser reeleito no próximo dia 3 de novembro (as sondagens mais recentes dão a Biden uma vantagem de cerca de 10 pontos percentuais) e sugeriu, com ironia, que poderá abandonar os EUA se perder a eleição. “Já imaginaram se eu perder? Não me vou sentir muito bem. Talvez tenha de abandonar o país, não sei”, disse Trump.

Donald Trump Visits Church In Las Vegas US-VOTE-TRUMP

Donald Trump, durante uma celebração numa igreja evangélica em Las Vegas, deixou-se fotografar a contar notas para o ofertório

Getty Images

Já na semana passada, num comício no Iowa — um estado que Trump está ainda a tentar segurar —, o Presidente tinha feito uma afirmação semelhante. “Posso nunca mais cá voltar se não ganhar o Iowa”, afirmou. Num artigo publicado este fim-de-semana, a revista New Yorker estabelece uma relação entre as duas declarações e sublinha a relação “transacional” com os eleitores: se o traírem, ele não volta.

Donald Trump aproveitou o fim-de-semana para tentar recuperar outro grupo de eleitores que se estão a afastar do candidato republicano: os mais idosos. Em 2016, Trump liderou no grupo dos idosos por sete pontos percentuais, mas as sondagens deste ano apontam para uma queda da popularidade do Presidente entre os mais idosos — em grande parte devido à gestão da pandemia da Covid-19, que afetou a terceira idade de forma desproporcional. Sondagens recentes (aqui, aqui e aqui) dão a Biden uma vantagem considerável sobre Trump neste grupo etário. Por isso, na passagem da campanha pela Flórida, o Presidente participou num evento oficial da Casa Branca com idosos, durante o qual tentou passar uma mensagem de otimismo com vista ao fim da pandemia. “A minha mensagem aos séniores da América é de otimismo, de confiança e de esperança. O vosso sacrifício não foi em vão. A luz ao fundo do túnel está perto”, disse Trump.

No comício do Michigan, Trump envolveu-se novamente noutra polémica. Menos de duas semanas depois de ter sido desmantelada uma rede criminosa que pretendia raptar a governadora Gretchen Whitmer — democrata que impôs medidas bastante restritivas contra a Covid-19 no estado —, Trump encorajou os seus apoiantes a exigir à governadora que “abra o estado”. As declarações foram recebidas com gritos de “lock her up!” (“prendam-na”), que Trump incentivou respondendo “lock’em all up” (“prendam-nos todos”). Pouco depois, numa entrevista à NBC, a governadora acusou Trump de incitar ao “terrorismo doméstico”.

2Biden em comício “drive-in” para evitar difusão do vírus

Na campanha de Joe Biden não tem havido multidões. Com uma agenda mais relaxada, o candidato democrata — que segue na frente de acordo com as sondagens e tem uma probabilidade de vitória a rondar os 87% segundo os modelos matemáticos do FiveThirtyEight — tem-se focado mais na campanha pela televisão. De acordo com números revelados este sábado pelo The New York Times, Biden está a investir o dobro de Trump em anúncios de televisão. Nas últimas semanas, o candidato democrata tem apostado essencialmente em três “swing states” fundamentais: Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. Só nestes três estados, Biden investiu 53 milhões de dólares em anúncios televisivos, enquanto Trump apenas investiu 17 milhões.

O candidato democrata tem-se procurado diferenciar de Trump num assunto central da campanha: o combate à Covid-19. Surgindo frequentemente de máscara nas ações de campanha (ao contrário de Trump), Biden tem sublinhado que, se for eleito, vai dar primazia ao conhecimento científico na resposta à pandemia. Os eventos de campanha têm sido também uma forma de Biden se distanciar de Trump neste aspeto. Enquanto o Presidente tem optado por comícios com grandes multidões, sem distância de segurança e muitas vezes sem máscaras, Biden criou os “comícios drive-in” e tem discursado em grandes parques de estacionamento em frente aos apoiantes, que ficam dentro dos seus carros.

Foi o que aconteceu neste domingo, numa escola secundária em Durham, no estado da Carolina do Norte. No parque de estacionamento, em vez de aplausos e gritos ouviram-se buzinas de carro.

A Carolina do Norte é este ano um estado crucial na corrida à Casa Branca. Embora as sondagens apontem para uma vantagem ligeira de Biden, as estimativas deixam o democrata com uma margem de apenas cerca de dois pontos percentuais — o que, na prática, significa que o estado está praticamente empatado. Em 2016, Donald Trump ganhou o estado com 49,8% dos votos, contra 46,2% para Hillary Clinton, mas este ano pode mudar de cor.

Numa altura em que mais de 26 milhões de norte-americanos já votaram através da possibilidade de voto antecipado (números de sábado), Joe Biden tem aproveitado este momento de vantagem sobre Trump nas sondagens para apelar aos eleitores que não esperem pelo dia 3 de novembro.

“Podem votar presencialmente e antecipadamente até ao dia 31, mas não esperem. Vão votar hoje”, disse Biden no comício em Durham, apelando aos eleitores que votem também nas outras eleições que decorrem em simultâneo no estado. “Não votem apenas em mim e na senadora Harris. Têm uma eleição para governador, uma eleição para o Senado e um número recorde de mulheres negras no boletim”, acrescentou Biden.

Nas entrelinhas

Aquela bela noite, há quatro anos, foi a melhor de todos os tempos, provavelmente a melhor noite na história da televisão. Divertimo-nos tanto. As lágrimas a correr, lembram-se das lágrimas?”
— Donald Trump, num comício em Janesville, Wisconsin, no sábado

Em muitos aspetos, a campanha de Donald Trump tem sido uma réplica da campanha de 2016. Como conta a CNN, o Presidente norte-americano tem algumas superstições e tem procurado repetir aquilo que em 2016 lhe correu bem — os últimos dias de campanha. Em muitos casos, ao pormenor: as rotas pelo país, os comícios, as pessoas que o acompanham e até as igrejas por onde passa.

Pelo mesmo motivo, as recordações da noite eleitoral de 2016 também têm sido uma constante nos discursos de Donald Trump. Numa altura em que as sondagens apontam para uma vitória de Joe Biden, o Presidente Trump procura recriar a fórmula do sucesso de 2016. Porém, uma coisa mudou: em 2016 Trump não era Presidente, agora é.

Por isso, ainda que repita a fórmula (que envolve, em grande medida, fazer muito mais comícios e discursos do que o seu oponente, com a expectativa de ter mais atenção mediática), as circunstâncias não são as mesmas e há quatro anos de Presidência — e, sobretudo, uma pandemia em curso — a pesar sobre os ombros de Trump.

Fact-check

Joe BIden vai aumentar os impostos dos americanos mais pobres, como diz Trump?

Num anúncio televisivo divulgado recentemente, a campanha de Donald Trump afirma que Joe Biden pretende implementar um aumento fiscal de 14% nas famílias de classe média e que, de acordo com as ideias do democrata, 82% dos americanos vão pagar mais. Porém, Joe Biden já disse, repetidas vezes, que não irá aumentar impostos sobre o rendimento de quem ganhe menos de 400 mil dólares por ano.

O The Washington Post analisou as fontes que a campanha de Trump cita para fazer estas afirmações e concluiu que são ambas falsas e resultam da distorção intencional de factos matemáticos.

Relativamente à primeira afirmação, a campanha de Trump cita dados da autoridades fiscais que apontam para uma redução da carga fiscal dos americanos com rendimentos entre os 40 e os 50 mil dólares anuais em 14,5% desde o ano passado. Depois, a campanha do republicano recorre a uma frase dita por Kamala Harris, a candidata democrata à vice-presidência, no debate com Mike Pence: “No primeiro dia, Joe Biden vai livrar-se dessa lei fiscal”.

Logo de seguida, Kamala Harris clarifica que se está a referir ao escalão acima dos 400 mil dólares anuais. Porém, a campanha de Trump usou a primeira frase de Harris para assumir que as descidas da carga fiscal de todos os cidadãos vão ser revertidas — levando, por inerência, ao tal aumento de 14% da carga fiscal para a classe média.

Depois, a campanha de Trump afirma que segundo o plano de Biden 82% dos americanos vão pagar mais impostos — e cita uma análise económica feita em março deste ano pela Universidade da Pensilvânia. Neste caso, a campanha republicana está a aproveitar-se de uma funcionalidade técnica dos modelos utilizados nos EUA para prever as alterações fiscais.

De acordo com o modelo, cerca de 80% da subida de impostos será suportada pelo 1% que mais rendimentos tem. Porém, segundo o The Washington Post, estes modelos incluem também um ajuste feito aos rendimentos dos trabalhadores tendo em conta o aumento dos impostos sobre as empresas (assumindo que a maioria dos empregadores poderão reduzir salários para os pagar), mesmo que nenhum trabalhador pague diretamente aqueles impostos. Trata-se de valores pouco significativos: um aumento de 180 dólares por ano nos trabalhadores que recebem entre 40 e 75 mil dólares anuais de salário. Ainda assim, o facto de este ajuste ser aplicado em 82% dos cidadãos de modo automático leva Trump a dizer que essa percentagem de americanos vai pagar mais impostos com o plano de Biden.

Conclusão: errado. Ambas as declarações contidas no anúncio de campanha de Donald Trump são factualmente erradas e resultam exclusivamente de uma distorção intencional de análises corretas feitas a dados oficiais, aliadas à descontextualização das palavras de Kamala Harris.

A foto

Democratic Presidential Nominee Joe Biden Campaigns In Durham, NC

De modo a respeitar as normas de segurança e impedir a difusão do coronavírus, a campanha de Joe Biden voltou-se para os comícios "drive-in". Este domingo, na Carolina do Norte

Getty Images

A opinião

A nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo a poucas semanas da eleição continua a ser um dos temas quentes da campanha eleitoral. Afinal, quando o próximo Presidente for eleito, a juíza acabada de nomear por Trump já estará sentada no Supremo, onde poderão chegar casos relacionados com o resultado eleitoral. Este fim-de-semana, no The Washington Post, o juiz J. Michael Luttig lembra a jurisprudência norte-americana, nomeadamente um caso de 2009, para defender que Coney Barrett terá de pedir escusa de todos os casos relacionados com as eleições. Em 2009, o Supremo determinou que um juiz não deve julgar um caso quando alguém “escolhe o juiz em causa própria”. Trump nomeou Amy Coney Barrett para reforçar a maioria conservadora (6-3) na mais alta instância judicial norte-americana.

It is a foregone conclusion that Amy Coney Barrett will be seated on the Supreme Court before the Nov. 3 presidential election. As soon as her first day, Justice Barrett may face the most momentous and difficult decision of her promised tenure of decades: whether to recuse herself from cases that could determine the outcome of that presidential election.
But as Barrett must already understand, her decision was made exponentially more difficult by Caperton v. A.T. Massey Coal Co., an inartful and mischievous 5-to-4 case decided more than a decade ago by the court she will soon join. The ruling would seem to apply squarely to Barrett’s recusal decision and could well require, or at least counsel, her recusal.

As questões ambientais têm contribuído para alguma divisão interna entre o Partido Democrata (logo a começar pelo facto de Joe Biden não apoiar o Green New Deal proposto por alguns dos seus colegas de partido). Na discussão eleitoral recente tem surgido o problema do fracking, o método de extração hidráulica de gás natural. Enquanto os ambientalistas e ativistas defendem que deve ser proibido, alguns especialistas consideram que o método pode ter benefícios ambientais a curto prazo e que uma proibição total pode, na verdade, causar mais danos ambientais nas próximas décadas. No Politico, Zeke Hausfather e Alex Trembath, os líderes do centro de investigação ambiental Breakthrough, analisam porque é que este assunto está a dividir tanto os democratas e explicam porque é que a ciência apoia a posição de Joe Biden a favor do fracking.

While most environmental groups tend to be on the side of a ban, there are actually strong environmental justifications for Biden and Harris’s light touch on fracking today. In fact, there are reasons to worry that even a partial ban on fracking could slow decarbonization efforts in the near-term. What’s more, the deployment of some clean energy technologies could depend, perhaps counterintuitively, on fracking.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.