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Os cinco reclusos conseguiram saltar os dois muros da prisão de Vale de Judeus. Acredita-se que rede tenha sido cortada por alguém que estava a ajudar a partir do exterior
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Os cinco reclusos conseguiram saltar os dois muros da prisão de Vale de Judeus. Acredita-se que rede tenha sido cortada por alguém que estava a ajudar a partir do exterior

NUNO BRITES/OBSERVADOR

Os cinco reclusos conseguiram saltar os dois muros da prisão de Vale de Judeus. Acredita-se que rede tenha sido cortada por alguém que estava a ajudar a partir do exterior

NUNO BRITES/OBSERVADOR

Vale de Judeus. Como funciona o dispositivo de segurança e o que terá falhado para permitir a fuga dos cinco presos

Prisão tem mais de 150 câmaras, controladas apenas por um guarda na manhã de sábado. No momento da fuga, reclusos estariam sozinhos no recreio, uma vez que os guardas estavam nas visitas.

Cinco reclusos, uma escada e imagens de vigilância que só foram vistas depois da fuga. Afinal, como é que cinco homens terão conseguido fintar o controlo de uma cadeia de alta segurança? A resposta pode estar nas visitas — que nenhum deles recebeu este sábado de manhã em Vale de Judeus — e nas mais de 150 câmaras de vigilância espalhadas pela prisão. Os portugueses Fernando Ferreira e Fábio Loureiro, o argentino Rodolf Lohrmann, o inglês Mark Roscaleer e o georgiano Shergili Farjiani fugiram no início deste fim de semana e ainda não foram localizados pelas autoridades.

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Parte do plano de fuga destes cinco homens terá começado, segundo explicaram ao Observador fontes dos serviços prisionais, pelo conhecimento do terreno. Ou seja, saberiam que, no momento da fuga, não estavam a ser vigiados — ou, pelo menos, que as hipóteses de haver guardas prisionais por perto eram muito reduzidas. De facto, terão tido, pelo menos, 40 minutos para fugir: as imagens das câmaras que mostram estes reclusos a fugir foram captadas às 9h56 e o alerta de fuga só terá sido dado pelas 10h36, como adiantou este domingo, em conferência de imprensa, Rui Abrunhosa, diretor-geral da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.

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A hora das visitas e os recreios sem guardas

Nenhum destes reclusos teve visitas durante a manhã deste sábado. Por isso, explicaram as mesmas fontes, terão ficado nos recreios das respetivas alas. O georgiano Shergili Farjiani, que Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária, descreveu este domingo como o único recluso que não tem “um elevado grau de violência” associado, era também o único dos fugitivos que estava na ala B. Os restantes estavam na ala C. Nesta prisão, classificada como sendo de alta segurança, cada ala tem o seu recreio próprio para que os presos não tenham contacto entre si.

Neste caso, os portugueses Fernando Ferreira e Fábio Loureiro, o argentino Rodolf Lohrmann e o inglês Mark Roscaleer estavam na mesma ala, o que terá facilitado a elaboração do plano de fuga. Em relação a Shergili Farjiani, fontes prisionais admitem que os telemóveis que habitualmente circulam dentro das prisões possam ter ajudado a manter o contacto com os restantes — e, até, com o exterior, garantindo um apoio que se revelou fundamental para que tivessem conseguido transpor o muro de oito metros de altura e a rede que delimita todo o perímetro, escapando, logo a seguir, da prisão.

Fernando Ferreira e Fábio Loureiro, o argentino Rodolf Lohrmann e o inglês Mark Roscaleer estavam na mesma ala, o que terá facilitado a preparação do plano. Telemóveis que circulam nas prisões podem facilitado contacto com Shergili Farjiani, instalado numa ala diferente.

Este domingo, o diretor dos serviços prisionais avançou que estavam destacados 33 guardas, distribuídos por dois turnos, para o serviço de controlo e vigilância dos cerca de 600 reclusos de Vale de Judeus. “À partida”, garantiu Rui Abrunhosa, esse seria “o número normal que um estabelecimento destas características e com este número de reclusos justifica ter”.

Mas os cinco homens que fugiram no sábado sabiam que, durante as horas das visitas, ficariam sozinhos na zona de recreio, sem vigilância presencial dos guardas prisionais.

Os familiares e amigos dos reclusos começam a chegar a Vale de Judeus por volta das 9h15. O período das visitas, reservado aos fins de semana e feriados, prolonga-se até às 11h30 da manhã. São duas horas em que a vigilância e controlo dos vários edifícios de Vale de Judeus assentam, sobretudo, no sistema de videovigilância, uma vez que a presença dos guardas se concentra, primeiro, no acompanhamento dos reclusos até à sala de visitas; e, depois, na própria sala de visitas.

Os guardas têm de acompanhar os reclusos a um edifício localizado junto à entrada da prisão, a cerca de 200 metros dos espaços dos recreios, no extremo norte da prisão. Entre o edifício das visitas e a zonas das celas há um campo de futebol. Este sábado não terá sido diferente e, com o habitual início das visitas às 9h15, os reclusos terão ficado sozinhos e controlados, à distância, através do sistema de videovigilância.

Mais de 150 câmaras projetadas em dois monitores controlados por um guarda prisional

Sem guardas prisionais na zona do recreio, a segurança daqueles quatro espaços — há quatro alas e cada uma tem um pátio — terá ficado entregue às câmaras de vigilância. Quem conhece a prisão de Vale de Judeus garante ao Observador que existem mais de 150 câmaras destinadas a captar imagens dos vários pontos da cadeia — desde as celas até às salas das visitas, passando pela igreja e pelos recreios.

Essas imagens são reproduzidas em tempo real numa sala onde estão dois ecrãs que mostram todas as câmaras em permanência. Ou seja, nunca há imagens que não estão a ser mostradas. “Quando é detetada alguma situação estranha, é possível aumentar essa imagem para se perceber o que está a acontecer”, explicou outra fonte dos serviços prisionais, que garante que neste sábado de manhã estava apenas um guarda prisional nesta sala de vigilância.

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O número não foi, no entanto, confirmado nem desmentido pelo diretor dos Serviços Prisionais, que este domingo, durante a conferência de imprensa, disse apenas que “estão sempre um ou dois guardas nesse serviço”. “Se não houve ninguém a ver as câmaras é uma falha muito grave na segurança”, acrescentou Rui Abrunhosa. Parte da investigação interna a ser feita pela Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais passará, aliás, por interrogar todos os guardas prisionais que estiveram de turno durante a manhã deste sábado, incluindo o guarda destacado para a sala de vigilância.

Imagens das câmaras de vigilância mostram Fábio Loureiro no momento da fuga

Com tantas imagens em reprodução nos computadores — são, recorde-se, mais de 150 pequenos retângulos distribuídos por dois ecrãs —, as mesmas fontes contactadas pelo Observador admitem que pode sempre escapar algum momento à atenção dos guardas, sobretudo durante o horário das visitas, quando o olhar recai mais em detalhe sobre a interação entre reclusos e familiares.

“Estão muito mais atentos à sala das visitas, porque passam por ali muitas pessoas e acabam por não conseguir ver tudo o que se passa nos outros sítios”, explicaram essas fontes, criticando ainda a demolição das antigas torres de controlo, numa decisão tomada em 2015. Estas torres de controlo permitiam ter guardas prisionais em permanência que conseguiam controlar de forma mais eficaz eventuais tentativas de fuga. Com o fim destas torres, a vigilância passou a ser feita em exclusivo através das câmaras.

Com quase duas centenas de imagens em simultâneo e sem guardas prisionais nos recreios, estavam reunidos dois ingredientes praticamente perfeitos para uma fuga de sucesso. Aliás, as mesmas fontes acreditam que o georgiano Shergili Farjiani, uma vez que era o único que estava numa ala diferente, terá contado possivelmente com a ajuda de outros reclusos para conseguir saltar o primeiro muro, com três metros de altura, que fica junto ao recreio e delimita os edifícios onde ficam as celas que albergam os reclusos.

Com mais de 150 imagens em simultâneo e sem guardas prisionais nos recreios, estavam reunidos dois ingredientes para uma fuga de sucesso. O georgiano Shergili Farjiani, o único que estava numa ala diferente, poderá ter contado com a ajuda de outros reclusos para conseguir saltar o primeiro muro, junto ao recreio.

Já do outro lado do primeiro muro, os cinco homens terão conseguido ajuda do exterior, uma vez que terá sido atirada uma escada para que conseguissem passar um segundo muro, com cerca de oito metros. A escada, aliás, continuava no local onde foi deixada pelos fugitivos, junto ao muro, este sábado ao final do dia, estando a ser vigiada por dois guardas. Depois, a poucos metros desse muro, terá continuado a ajuda externa: a rede que protege a prisão de Vale de Judeus foi cortada — não foi possível apurar o local exato do corte.

A partir dessa rede, estava então praticamente concluído o plano de fuga. Os cinco homens terão entrado num carro que conseguiu chegar, pelo menos perto do local, já que existem várias estradas em terra junto à cadeia.

Um “crime complexo, altamente organizado, muito bem preparado”

Até agora, os cinco reclusos ainda não foram encontrados e as forças de segurança montaram já um forte dispositivo para que possam ser localizados. Também este domingo, o diretor nacional da Polícia Judiciária sublinhou que “quatro [à exceção do georgiano] dos condenados são perigosos e tudo farão para continuar em liberdade” e que este é um “crime complexo, altamente organizado, muito bem preparado, com gente muito perigosa e com elevado grau de mobilidade, até em termos internacionais”.

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A preocupação das autoridades portuguesas é motivada, sobretudo, pelo tipo de crimes que os cinco fugitivos cometeram e pelos quais foram condenados e também pelo seu historial de violência, sobretudo em crimes cometidos noutros países. Em relação aos portugueses, sabe-se que Fábio Loureiro, também conhecido como Fábio “Cigano”, estava a cumprir uma pena de 25 anos pelos crimes de tráfico de droga, associação criminosa, extorsão, branqueamento de capitais, injúria, furto, resistência e coação sobre funcionário e condução sem habitação legal. Aos 21 anos já era o líder de um gangue associado ao tráfico de droga, esteve detido em diversos momentos, conseguiu fugir numa das vezes, ficando nessa altura, em 2014, conhecido como o fugitivo mais procurado do Algarve.

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Também condenado a uma pena de 25 anos, Fernando Ferreira tem no registo crimes de tráfico de droga, associação criminosa, furto, roubo e rapto. Liderava um grupo considerado violento que se dedicava ao assalto a supermercados e ourivesarias, tendo chegado a sequestrar um empresário em Condeixa-a-Nova.

Também condenado a uma pena de 25 anos, Fernando Ferreira tem no registo crimes de tráfico de droga, associação criminosa, furto, roubo e rapto. Liderava um grupo considerado violento que se dedicava ao assalto a supermercados e ourivesarias, tendo chegado a sequestrar um empresário em Condeixa-a-Nova.

Ainda nessa lista de criminosos considerados “perigosos” surge Rodolf Lohrmann, argentino e conhecido como “El Ruso”, chegou a raptar o filho de um antigo ministro na Argentina, usava várias identidades falsas e foi detido pelas autoridades portuguesas em 2016 e condenado a 18 anos e 10 meses pelos crimes de associação criminosa, furto, roubo, falsas declarações e branqueamento de capitais. Conseguiu fugir à polícia argentina durante 14 anos, esteve na prisão de Monsanto — classificada como prisão de segurança especial — e foi depois transferido para a cadeia de Vale de Judeus.

Já Mark Roscaleer, tem também no seu currículo pelo menos duas tentativas de fuga. Tentou escapar da prisão de Silves, no Algarve, enquanto cumpria uma pena de nove anos por sequestro e roubo, foi depois transferido para o Estabelecimento Prisional de Lisboa, tentou fugir outra vez e foi transferido para a prisão de Vale de Judeus.

Dos cinco fugitivos, Shergili Farjani — que estava numa ala diferente — é o preso condenado a uma pena menor: sete anos por furto, violência depois da subtração e falsificação de documentos.

 
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