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Para comemorar os 40 anos da marca, a Vandoma ofereceu gravatas personalizadas a 40 figuras públicas portuguesas, do futebol à televisão, passando pela política
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Para comemorar os 40 anos da marca, a Vandoma ofereceu gravatas personalizadas a 40 figuras públicas portuguesas, do futebol à televisão, passando pela política

Para comemorar os 40 anos da marca, a Vandoma ofereceu gravatas personalizadas a 40 figuras públicas portuguesas, do futebol à televisão, passando pela política

Vandoma: 40 anos de um negócio familiar que faz gravatas para todas as ocasiões

Há precisamente 40 anos nasceu no Porto uma marca de gravatas que soube reinventar-se. Vende para todo o mundo, está a preparar uma coleção sustentável e até o Presidente da República tem um exemplar.

Foi em julho de 1982 que António Manuel de Sousa, portuense de gema, viu na indústria têxtil uma oportunidade de negócio. “Não tinha um gosto especial por esta área, mas depois de 1975 as gravatas praticamente desapareceram, muitas empresas fecharam por dificuldades económicas e percebi que podia criar algo novo”, começa por explicar o fundador da Vandoma ao Observador.

Numa época em que o Porto tinha apenas quatro lojas de referência neste tipo de acessórios, comandadas por comerciantes que viajavam para Londres e Paris em busca de inspiração, o comércio tradicional era ainda tímido e pouco explorado. “Em Lisboa existia muita coisa, mas por cá nem por isso. Lembro-me de ver montras na Rua de Santa Catarina praticamente iguais durante cinco anos, as pessoas nem apostavam nas luzes e a cidade vivia muito de quem vinha da periferia, como Trofa, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, Braga, Barcelos ou Guimarães, para fazer compras.”

A Vandoma começou por comercializar (para outras lojas) gravatas e pequenos lenços de algodão de bandana para senhoras — afinal, eram elas que aos sábados de manhã faziam as compras para os maridos, devolvendo na semana seguinte o que eles não queriam usar. A produção era feita em várias fábricas espalhadas pela zona Norte e a matéria-prima, essencialmente seda, caxemira, lã, poliéster, linho e algodão, vinha maioritariamente de Itália, tal como acontece hoje. Só em 2002 é que a marca ganhou um centro de produção próprio e às gravatas juntaram-se gradualmente os laços, os lenços de lapela, tanto para homem como para criança, mas também os forros personalizados de casacos de fato e coletes. “O nome da marca vem do facto de os meus pais terem vivido a vida toda na freguesia da Vandoma e depois por ser também a santa padroeira da cidade do Porto.”

A Vandoma comercializa peças feitas em seda natural, matéria-prima italiana. Para outras marcas, produz acessórios noutros tecidos

Rui Oliveira/Observador

Se nos anos 90 a gravata vivia um apogeu na moda portuguesa, e até as tabacarias vendiam exemplares da Vandoma, com o aparecimento das grandes superfícies e, consequentemente das marcas de fast fashion, as vendas diminuíram drasticamente e o negócio foi abrigado a reinventar-se. “Antigamente muitos associavam a gravata à formalidade e só os advogados, funcionários público e banqueiros as usavam, mas depois apareceu o Rui Veloso a cantar o ‘Chico Fininho’ e a malta nova começou a usar gravata mais fininha, com cinco centímetros, como forma de provocação, sem aquele peso formal”, recorda António Manuel de Sousa.

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Ana Lisa Sousa, filha do fundador, cresceu no meio de pedaços de tecidos, tesouras de todos os tamanhos e caixotes de encomendas, tinha apenas sete anos quando o pai criou a Vandoma e, depois de se formar em gestão, desde 1999 que também é responsável pela empresa da família. “Lembro-me que em miúda fazia as tarefas que ninguém queria fazer, como organizar as gravatas nas gavetas do showroom ou embalar os laços”, partilha, horas antes de voar para Paris para representar a Vandoma em mais uma feira de moda.

Em 2013, Ana iniciou o processo de internacionalização da marca e tem dado nas vistas em mercados dedicados a acessórios masculinos, tanto em França como em Itália. “O mercado nacional deixou de ser suficiente e era necessário conquistar clientes internacionais, por isso começamos a marcar presença em feiras dedicadas à indústria. A gravata é um nicho de mercado e se não nos dermos a conhecer ninguém vem ter connosco. Neste momento, exportamos 40% do que produzimos para países como Espanha, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos da América, Iraque, Tunísia, Japão ou Dubai.”

Ana Lisa Sousa é uma das responsáveis pelo negócio de família. Nos últimos anos tem apostado na internacionalização da marca e em escolhas mais sustentáveis no processo de confecção

As encomendas chegavam a bom ritmo quando a pandemia surgiu na Europa, obrigando a família Sousa a reinventar mais uma vez o negócio. Em vez de gravatas, lenços e laços, as máquinas de costura passaram a confecionar máscaras reutilizáveis e toucas para profissionais de saúde, reutilizando tecidos que tinham em stock. “O cenário mudou desde o início do ano, o que te tem sido uma agradável surpresa, a produção retomou em força, até está atrasada, e foi necessário contratarmos mais quatro pessoas para a fábrica”, revela Ana Lisa Sousa, acrescentando que para assinalar o aniversário da marca foram enviadas 40 gravatas personalizadas a 40 personalidades portuguesas de diferentes áreas. Marcelo Rebelo de Sousa, Cristiano Ronaldo, Filomena Cautela, Jorge Nuno Pinto da Costa, Guta Moura Guedes, Tony Carreira ou Herman José são apenas alguns exemplos da lista de contemplados.

Um puzzle cosido à mão e uma coleção sustentável a caminho

Nos primeiros anos, a Vandoma ocupava um armazém na Rua de Santa Catarina, mas em 1989 mudou-se para uma casa burguesa típica dos anos 80 em Costa Cabral, a rua mais extensa da cidade. Rodeada por um jardim generoso, com direito até a uma fonte, a casa incluía também uma pequena fábrica de camisas, cujas máquinas de costura permaneceram intactas e a partir de 2002 começaram a confecionar os produtos da marca.

No primeiro andar há estantes de metal repletas com rolos de tecidos, de um lado seda natural e do outro poliéster, mas também caixotes etiquetados com encomendas, fitas métricas, calculadoras, canetas e vários dossiês com papéis. É aqui que acontece toda a parte administrativa e onde a matéria-prima, vinda de Itália, é selecionada para depois ser trabalhada. “Antigamente íamos de dois em dois meses a Itália buscar tecidos, hoje o processo é mais lento porque o consumo é menor. Trazemos muita variedade e tentamos acompanhar as tendências, os lisos continuam a predominar, até porque os padrões ainda são difíceis de vender”, sublinha o fundador, António Manuel de Sousa.

Se antigamente os acessórios eram cosidos manualmente, hoje bastam 12 minutos para fazer uma gravata do início ao fim e por dia são confecionadas 400 unidades dentro destas portas. Na zona de produção a música que soa de um rádio portátil mistura-se com as agulhas ritmadas das máquinas de costura e as sete funcionárias trabalham concentradas e silenciosas. Se uma está a finalizar gravatas de nó feito para serem incluídas no uniforme de um colégio, a outra faz bainhas de lenços de bolso e uma outra está de pé a passar a ferro gravatas de lã para depois serem embaladas. “Fazer uma gravata é como montar um puzzle”, atira uma colaboradora sorridente, de tesoura em punho.

Sete funcionárias trabalham na fábrica da Vandoma, instalada numa casa burguesa dos anos 80 em plena baixa da cidade do Porto

Rui Oliveira/Observador

Tudo começa no corte dos tecidos que, depois de dispostos em cima de uma mesa, são cortados milimetricamente com uma máquina obedecendo ao formato de moldes feitos de acrílico ou de cartão. “Cada molde corresponde a uma medida diferente de gravata, normalmente usam-se moldes opacos para conseguirmos visualizar os padrões e cortamos sempre em viés para garantir que as gravatas não torcem quando as colocamos no pescoço”, explica Ana Lisa Sousa.

Deste processo saem três tiras de tecido que em seguida são unidas e cosidas à máquina com uma linha do mesmo tom do tecido, pois apesar destes pontos não serem praticamente visíveis “neste tipo acessórios quanto mais discretas forem as costuras, melhor”. No posto seguinte é feito o forro da gravata, normalmente opta-se por um tecido mais fino que o do exterior, mais maleável e versátil, em seguida é cosida a equipa da composição, geralmente guardadas em frascos de vidro, pousados junto aos rolos de linhas.

É na máquina de tricotar que acontece um dos passos mais importantes de todo o processo: o cozimento da entretela. Nesta espécie de tear, com várias agulhas acionadas em simultâneo com apenas um pedal, em poucos segundos a gravata ganha estrutura, uma vez que o seu interior é preenchido por um pedaço de lã ou algodão, geralmente mais robusto que o tecido original. Desta máquina passa por uma outra que vira a peça do avesso, dando-lhe o aspeto e a forma que todos conhecemos, depois é hora de cortar manualmente as aparas da entretela, colocar o passador, nome dado à fita que prende a ponta mais curta da gravata, e a etiqueta com a marca. Finalmente, as gravatas são passadas com um ferro de engomar para seguirem sem vincos para o embalamento.

Uma gravata pode ser feita em apenas 12 minutos e por dia são confecionadas 400 unidades, mas cerca de 40% da produção é transportada para outros países

Grande parte da produção da Vandoma é dedicada ao private label, sendo que a sua assinatura própria comercializa apenas peças feitas em seda natural, entre gravatas, laços e lenços, estando presente em 150 lojas físicas distribuídas por todo o país e também online. “Não funcionamos por coleções ou estações do ano, tentamos ter novidades todas as semanas, seja com padrões ou texturas diferentes, tornando o produto sofisticado e, ao mesmo tempo, respeitando as tendências”, realça o fundador, admitindo que são os momentos de cerimónia, especialmente os casamentos, que seguram o negócio em Portugal.

A pensar na sustentabilidade da marca, Ana Lisa Sousa adianta que em setembro a Vandoma irá lançar uma coleção de gravatas, para homem e criança, em patchwork, recuperando sobras de tecidos da produção. “É um dos nossos próximos passos”, conclui.

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