É o terceiro homem mais rico do mundo. Os mais de 50 mil milhões de euros não o deixam abandonar as listas dos multimilionários, apesar de ter prometido doar 99% da sua fortuna. À sua mercê tem ainda todo o capital que a sociedade a que preside, a Berkshire Hathaway, tem disponível: mais de 200 mil milhões de euros em depósitos e aplicações de curto prazo.
Aos 85 anos, é natural que a genica de Warren Buffett esteja a diminuir, mas isso não o impediu, em agosto, de decidir gastar mais de 30 mil milhões de euros na aquisição da Precision Castparts, um fornecedor das indústrias aeroespacial e energética.
Se Warren Buffett não fosse o maior investidor do mundo – não só no valor da carteira mas também em fama e no sucesso – e fosse apenas um pequeno investidor, no que aplicaria as suas poupanças? Será que investiria um montante muito mais modesto nas ações da Precision Castparts? Se fosse mais novo, conseguiria replicar o desempenho de longo prazo que conseguiu ao leme da Berkshire Hathaway, de 19,4% por cada um dos últimos 50 anos? Mais importante: será que o leitor, seguindo os ensinamento de Buffett, consegue registar ganhos anuais de dois dígitos?
Estas perguntas não têm resposta, mas, a partir dos vários ensinamentos do “Oráculo de Omaha”, como é conhecido Buffett em referência à sua cidade natal, é possível deduzir algumas compras que o guru poderia fazer agora nas bolsas.
O Observador mergulhou nesses ensinamentos para extrapolar uma carteira de ações para investir agora. Aliás, este é a primeira de dez carteiras que seguem a doutrina de dez gurus de bolsa, a publicar semanalmente pelo Observador até 10 de dezembro de 2015.
Guru | Data de publicação |
Warren Buffett | 8 de outubro |
Benjamin Graham | 15 de outubro |
Peter Lynch | 22 de outubro |
Joseph Piotroski | 29 de outubro |
William O’Neil | 5 de novembro |
Martin Zweig | 12 de novembro |
James O’Shaughnessy | 19 de novembro |
Joel Greenblatt | 26 de novembro |
John Neff | 3 de dezembro |
David Dreman | 10 de dezembro |
Regras do jogo
A primeira preocupação do Observador ao tentar replicar as estratégias dos gurus da bolsa é a de minimizar a subjetividade das ações eleitas. Por isso, todos os ensinamentos – obtidos a partir de fontes credíveis, como livros, investigação académica, entrevistas e relatórios das sociedades que lideram – são convertidos em fórmulas que, posteriormente, são introduzidas no terminal financeiro Bloomberg Profissional Service para produzir a lista de potenciais candidatos ao investimento.
No caso de Warren Buffett, são dois os livros de referência: “Warren Buffett e as Estratégias de Um Grande Investidor” de Robert G. Hagstrom (Editorial Presença, 20,19 euros) e “Como Enriquecer na Bolsa com Warren Buffett” de Mary Buffett e David Clark (Actual Editora, 15 euros).
Hagstrom é o estratego principal da gestora de ativos Legg Mason. O autor estudou as aquisições que Warren Buffett efetuou ao longo das cinco décadas para retirar os princípios por detrás das suas decisões. Mary Buffett é ex-nora de Warren Buffett e David Clark um amigo da família. Foi esta dupla de autores que desenvolveu o conceito de “Buffettologia”, a ciência que estuda os métodos de investimento do “Oráculo de Omaha”.
Ao contrário da maioria dos restantes gurus, Buffett nunca escreveu um livro, apesar de os relatórios anuais de Berkshire Hathaway, que assina, serem uma fonte preciosa de conhecimento. Estão disponíveis no portal da sociedade.
Embora os dez gurus sejam norte-americanos, não restringimos os mercados bolsistas nos quais pesquisamos as melhores ações aos Estados Unidos da América. O universo de partida reúne mil títulos – 500 na Europa e outros 500 nos EUA. Usamos os índices Bloomberg Europe 500 Index e Standard & Poor’s 500 Index como pontos de partida. As empresas emitentes destas ações absorvem cerca de 70% do valor de mercado das bolsas mundiais. Além disso, a maioria dos bancos e das corretoras não permite investir nos mercados externos à Europa e aos EUA.
O prazo mínimo recomendado de investimento nas carteiras de gurus desenhadas pelo Observador é de um ano, apesar de Warren Buffett dizer que o seu prazo de investimento preferido é “para sempre”. Dentro de um ano começaremos a avaliar o desempenho das dez carteiras publicadas nas próximas semanas.
Limitamos as carteiras de cada guru a uma vintena de ações. É um número prático que, além de permitir alguma diversificação, não impede os pequenos investidores de replicar as estratégias. Não se esqueça que investir diretamente em ações exige um intermediário financeiro que pode cobrar comissões de bolsa (compra, venda, distribuição de dividendos, guarda de títulos, por exemplo).
Critérios do “Oráculo”
Warren Buffett sempre foi claro: o guru não compra ações, investe em negócios. Por isso, transformar os seus ensinamentos em algoritmos é, naturalmente, redutor. Mesmo assim, as estratégias desenvolvidas por Robert Hagstrom e pela dupla Mary Buffett e David Clark são muito próximas. A maior preocupação dos investidores que tentam replicar Buffett deve ser menos a escolha das melhores ações, mas mais em conseguir mantê-las durante os altos e os baixos da economia e dos mercados, defende Hagstrom.
A partir dos dois livros, o Observador compilou as seguintes regras na seleção de ações segundo o “Oráculo de Omaha”:
- Capitalização bolsista superior a cinco mil milhões de euros. Buffett prefere grandes empresas, porque normalmente são mais estáveis. Cinco mil milhões de euros é o valor de mercado aproximado da EDP Renováveis, por exemplo.
- Grau de endividamento inferior à indústria. O rácio, que compara o passivo com os capitais próprios, procura as empresas menos endividadas.
- Margem operacional superior à indústria. Mede a percentagem da faturação que chega aos resultados operacionais.
- Margem de lucro superior à indústria: É o resultado líquido em percentagem do volume de negócios.
- Evitar os lucros que menos crescem. Exclui o quarto das empresas analisadas que tiveram o menor avanço dos resultados líquidos por ação nos últimos cinco anos.
- Resultado operacional e resultado líquido positivo. São analisados os últimos resultados trimestrais e os últimos sete resultados anuais.
- Rentabilidade dos capitais próprios superior a 15%. Este rácio, que resulta da divisão dos lucros de 12 meses pelos capitais próprios, deve ser superior a 15% com os últimos dados trimestrais e em, média, nos últimos sete anos.
Estas regras são aplicadas automaticamente às mil ações listadas nas bolsas europeias e norte-americanas. Caso o número de empresas resultante ultrapasse os vinte, são selecionadas as que têm os mais elevados rácios entre o fluxo de caixa livre e a capitalização bolsista.
O fluxo de caixa livre é o dinheiro que a empresa gera anualmente depois de retirar o capital necessário à sua manutenção e à expansão dos seus ativos. Ao dividi-lo pelo valor de mercado da empresa, obtém-se a rentabilidade do fluxo de caixa livre (free cash flow yield, em inglês), isto é, a proporção da capitalização bolsista que a firma consegue produzir anualmente além dos capitais necessários ao seu normal funcionamento e à sua expansão.
As ações eleitas pelas regras da Buffettologia são as que se seguem e as empresas emitentes são detalhadas mais à frente.
Empresa | Indústria | Capitalização bolsista (milhões de euros) |
Grau de endividamento | Margem operacional | Margem de lucro | Rentabilidade dos capitais próprios | Rentabilidade do fluxo de caixa livre | |||
Empresa | Indústria | Empresa | Indústria | Empresa | Indústria | |||||
3M | Indústria diversificada | 81.621 | 64,87% | 139,02% | 23,94% | 12,16% | 16,91% | 6,61% | 32,72% | 5,09% |
Apple | Computadores | 559.415 | 43,30% | 46,40% | 28,39% | 24,90% | 21,52% | 18,82% | 41,15% | 10,79% |
Biogen | Biotecnologia | 58.150 | 4,61% | 81,45% | 47,58% | -7.788,37% | 35,78% | -7.772,43% | 31,54% | 5,01% |
Cisco Systems | Equipamento de telecomunicações | 124.059 | 42,46% | 44,07% | 22,43% | 4,13% | 18,06% | 1,68% | 15,44% | 8,06% |
Cummins | Veículos comerciais e camiões | 17.802 | 20,42% | 155,34% | 14,42% | 3,53% | 9,39% | -5,34% | 22,06% | 6,81% |
Elisa | Telecomunicações fixas | 5.243 | 143,44% | 156,67% | 20,18% | 16,89% | 15,49% | 14,33% | 30,54% | 5,27% |
F5 Networks | Equipamento de telecomunicações | 7.458 | 0,00% | 44,07% | 28,98% | 4,13% | 19,27% | 1,68% | 26,54% | 7,21% |
FMC Technologies | Serviços e equipamento petrolífero | 6.947 | 49,19% | 83,30% | 10,20% | 8,89% | 6,37% | 5,16% | 22,72% | 6,31% |
Franklin Resources | Gestão de ativos | 21.208 | 17,23% | 46,61% | 38,47% | 33,78% | 25,20% | 24,02% | 19,73% | 10,29% |
General Dynamics | Defesa | 40.112 | 30,27% | 147,45% | 13,71% | 9,98% | 9,54% | 6,61% | 23,49% | 6,97% |
Gilead Sciences | Biotecnologia | 130.308 | 73,83% | 81,45% | 68,12% | -7.788,37% | 54,49% | -7.772,43% | 92,92% | 11,92% |
Intel | Semicondutores | 136.036 | 22,58% | 29,11% | 21,95% | 20,06% | 20,51% | 17,75% | 19,82% | 7,06% |
Johnson & Johnson | Farmácia | 232.896 | 27,14% | 72,97% | 27,64% | 23,16% | 25,39% | 14,81% | 21,59% | 5,09% |
Legrand | Equipamento e componentes elétricos | 12.811 | 44,61% | 56,02% | 19,90% | 11,34% | 12,51% | 8,21% | 16,00% | 5,41% |
Robert Half International | Agências de recursos humanos | 6.157 | 0,12% | 35,67% | 11,72% | 1,72% | 7,05% | 0,87% | 33,85% | 5,22% |
Rockwell Automation | Maquinaria industrial | 12.246 | 58,38% | 58,94% | 19,16% | 12,56% | 13,08% | 6,03% | 33,12% | 7,41% |
T. Rowe Price Group | Gestão de ativos | 16.331 | 0,00% | 46,61% | 47,35% | 33,78% | 31,07% | 24,02% | 24,26% | 7,01% |
United Technologies | Aeroespacial | 73.745 | 69,98% | 112,08% | 15,62% | 9,21% | 9,44% | 4,75% | 19,62% | 6,51% |
Universal Health Services | Cuidados de saúde | 11.398 | 69,42% | 82,65% | 14,74% | 10,74% | 8,01% | 5,51% | 16,09% | 5,72% |
Varian Medical Systems | Equipamento médico | 6.704 | 28,37% | 55,47% | 18,40% | 14,30% | 14,48% | 10,34% | 24,32% | 5,51% |
Fonte: Bloomberg a 8 de outubro de 2015. |
Apenas duas empresas não são norte-americanas (a finlandesa Elisa e a francesa Legrand), o que não coincide com o desejo de Warren Buffett de expandir as suas futuras aquisições para a Europa, como relatou o Observador após a assembleia de acionistas da Berkshire Hathaway, em maio de 2015.
A última compra na Europa da Berkshire Hathaway foi a alemã Detlev Louis Motorradvertriebs, que comercializa equipamento para motociclistas, por cerca de 400 milhões de euros. “Temos vontade e temos dinheiro” para gastar na Europa, disse Warren Buffett na última assembleia.
Como 90% das ações buffettianas são norte-americanas, há um risco cambial que se adiciona aos natural risco de investir na bolsa. Antes de investir, pondere bem se tem capacidade e vontade de ficar exposto a estes riscos por, pelo menos, um ano. Idealmente, deverá investir na bolsa se tiver mais de uma década para manter o dinheiro aplicado em ações, porque, assim, elimina os riscos inerentes à volatilidade de curto prazo.
Negócios por todo o mundo
Dezoito das vinte empresas escolhidas têm sede nos Estados Unidos da América, mas muitas gerem operações multinacionais. A Apple, por exemplo, fatura mais na China do que na Europa e estas duas regiões juntas já valem mais do que as Américas.
Os preços indicados em baixo são as cotações de fecho da sessão bolsista desta quinta-feira, 8 de outubro.
3M
Normalmente, Warren Buffett investe em empresas especializadas num único negócio, como a American Express, a Coca-Cola ou o banco Wells Fargo. A 3M (Nova Iorque: 149,48 dólares) não é assim, porque opera em muitos segmentos. Tem 27 unidades de negócios reunidos em cinco grupos: consumo, eletrónica e energia, saúde, indústria e segurança. Algumas das suas marcas mais conhecidas são Scotch (fita-cola), Post-it (bloco de notas adesivas) e Tartan (pista sintética).
Apple
Embora reúna todos os critérios contabilísticos e bolsistas para ser considera uma ação à Buffett, o “Oráculo de Omaha” dificilmente investiria nesta companhia. A Apple (Nasdaq: 109,50 dólares), que é a empresa cotada mais valiosa do mundo, produz os telefones iPhone, os computadores Mac e os tablets iPad, entre outros. Em 12 meses, fatura 187 mil milhões de euros, mais do que o produto interno bruto de Portugal.
Na carta que escreveu aos acionistas da Berkshire Hathaway em 1991, Buffett explicou porque não investe nas tecnologias de ponta: “Não estou a falar em não acertar numa empresa que dependa de uma invenção esotérica (como a Xerox), uma alta tecnologia (Apple) ou, mesmo, uma promoção comercial brilhante (Wal-Mart). Nunca desenvolveremos a habilidade para detetar esses negócios cedo.”
Biogen
A Biogen (Nasdaq: 279,88 dólares) está a fazer algo que Warren Buffett não aprecia: emitir dívida para recomprar ações, de modo a beneficiar os acionistas. Todavia, note-se que a companhia biotecnológica está muito pouco endividada, porque o passivo representa menos de 5% dos capitais próprios do grupo de Cambridge, nos EUA.
A Biogen desenvolve e comercializa terapidas focadas na neurologia, oncologia e imunologia. Os seus medicamentos são dirigidos a doenças como a esclerose múltipla, o linfoma de Hodgkin, a artrite reumatoide e a psoríase.
Cisco Systems
Tal como a Apple, o carácter tecnológico da Cisco Systems (Nasdaq: 27,91 dólares) afasta o potencial interesse de Warren Buffett. A Cisco é a mais valiosa empresa de equipamento de telecomunicações. O seu valor de mercado ultrapassa os 124 mil milhões de euros. A companhia vende desde telefones fixos até centros de dados de grandes dimensões.
Cummins
Foi uma das muitas empresas afetadas na bolsa pela crise dos motores a gasóleo da Volkswagen. A descida da cotação da Cummins (Nova Iorque: 114,27 dólares), que é a maior construtora mundial de motores diesel acima de 600 cavalos, colocou-a na lista de ações à Buffett, que aprecia o setor automóvel (controla 2,59% da General Motors, por exemplo). Embora seja inserida no setor dos fabricantes de veículos comerciais e camiões, a Cummins apenas desenha e produz os motores. É a fornecedora, por exemplo, dos motores de 6,7 litros dos camiões Ram da Chrysler, mas também de motores de mais de quatro mil cavalos para a indústria mineira e ferroviária.
A Cummins vende para 190 países (em Portugal é representada pela Electro Central Vulcanizadora) e a expansão continua, incluindo para novos negócios, como os motores a gás natural. Os EUA representam cerca de metade do volume de negócios.
Elisa
Apesar de a finlandesa Elisa (Helsínquia: 31,33 euros) reunir todos os critérios buffettianos enumerados anteriormente, a maioria dos analistas de mercado que a acompanham não recomendam a compra. Apenas quatro dos 25 analistas aconselham a operação de aquisição das ações desta operadora de telecomunicações.
F5 Networks
Tal como a Apple, Warren Buffett dificilmente compraria ações da F5 Networks (Nasdaq: 118,93 dólares), porque o seu negócio pode ser difícil de compreender para os mais leigos nos temas tecnológicos. A F5 Networks desenvolve soluções que procuram aumentar a produtividade de redes que funcionam pela Internet, procurando manter aplicações (como sítios de Internet ou bases de dados) sempre acessíveis. Esta empresa é apontada como líder na área dos controladores dessas aplicações de rede.
Mais de metade da faturação da F5 Networks é registada nas Américas, embora o negócio seja multinacional. Em Portugal, a Glintt, o Exclusive Group e a Westcon distribuem as soluções da companhia de Seattle, nos EUA.
FMC Technologies
Warren Buffett está atento ao setor petrolífero. “Não gastaremos frequentemente em ações de petróleo e gás, mas provavelmente não foi a última vez que o fizemos”, avisou o presidente da Berkshire Hathaway na última assembleia de acionista, em maio. A FMC Technologies (Nova Iorque: 34,77 dólares) não extrai petróleo, mas depende em grande medida deste negócio. Como maior fornecedora de equipamento submarino para a indústria, a FMC Technologies está a sofrer com a queda do preço do petróleo.
Em setembro passado, a companhia norte-americana anunciou uma queda das margens da sua principal unidade de 15% em 2015 para 11% a 13% em 2016. Para reduzir nos custos de desenvolvimento de soluções para projetos complexos de grande profundidade, a FMC Technologies celebrou uma parceria com a francesa Technip.
Franklin Resources
Esta empresa opera no mercado da gestão de ativos com o nome Franklin Templeton Investments, já que resultou da aquisição da Templeton (fundada por outro guru, John Templeton) pela Franklin (designada assim em homenagem a Benjamin Franklin, um dos fundadores que assinaram a Declaração de Independência dos EUA). Com quase 720 mil milhões de euros sob gestão no final de agosto, a Franklin Resources (Nova Iorque: 38,89 dólares) luta para manter a 15.ª posição das maiores gestoras de ativos a nível mundial, posição que tinha no início do ano.
Em Portugal, os fundos Franklin Templeton são distribuídos por entidades como o ActivoBank, o Banco Best, o Banco Big, o Deutsche Bank e Millennium bcp.
General Dynamics
Entre 1992 e 1993, a Berkshire Hathaway de Warren Buffett foi o maior acionista da General Dynamics (Nova Iorque: 141,91 dólares), quando tinha cerca de 14% do capital do grupo norte-americano. A General Dynamics é uma empresa principalmente no negócio da defesa (construiu, por exemplo, os Pandur que o Governo adquiriu e fabrica os sucessores do carro de combate M60 do Exército português), mas também vende aviões de luxo (como os Gulfstream).
É o negócio dos aviões de luxo que tem amortecido os cortes orçamentais do Departamento de Defesa dos EUA, o maior cliente da General Dynamics.
Gilead Sciences
Em fevereiro, o Governo português conseguiu baixar o custo dos tratamento de pacientes com hepatite C em quase 50%. Mesmo assim, Portugal deverá pagar cerca de 250 milhões de euros à Gilead Sciences (Nasdaq: 100,81 dólares) ao longo de três anos. Em setembro, a Gilead anunciou que testes que combinam dois medicamentos (velpatasvir e sofosbuvir) têm mais sucesso: 99% dos pacientes ficaram livres de seis genótipos de hepatite C. Os tratamentos anteriores, que se focavam apenas no genótipo 1, apontavam para taxas de sucesso de 80%.
Os medicamentos para a hepatite C da Gilead Sciences representam metade do volume de negócio do grupo. A quase totalidade da outra metade tem origem nos tratamentos contra o vírus da imunodeficiência humana (VIH).
Intel
Não há registo de Warren Buffett ter alguma vez investido na Intel (Nasdaq: 32,52 dólares), a maior fabricante mundial de semicondutores, fundada em 1968. Todavia, Buffett conta com Susan Decker no conselho de administração da Berkshire Hathaway. Decker é uma das principais diretoras da Intel.
Em agosto, a Intel apresentou uma nova geração de microprocessadores, denominado “Skylake”, que a empresa promete serem mais rápidos, mais pequenos e mais energeticamente eficientes. É o trunfo que tem para afastar o potencial contágio da queda das vendas de computadores.
Johnson & Johnson
Desde 2006 que Warren Buffett, através da Berkshire Hathaway, investe na Johnson & Johnson (Nova Iorque: 95,08 dólares), a quinta maior farmacêutica do mundo. No entanto, o “Oráculo de Omaha” tem vindo a reduzir a participação desde 2011 até atingir atualmente um investimento marginal.
A Johnson & Johnson é uma empresa farmacêutica (é concorrente da Gilead Sciences nos mercado dos tratamentos contra o VIH, por exemplo) porque os medicamentos são o seu maior negócio (45% da faturação). Porém, também atua nos equipamento médicos e de diagnóstico (como as soluções ortopédicas) e nos produtos de consumo familiar (como cosméticos). Johnson’s, Listerine, Compeed, Tylenol e Vendome são algumas das suas marcas.
Legrand
Procure a tomada elétrica mais próxima e investigue quem a fabricou. É provável que tenha sido a francesa Legrand (Paris: 48,005 euros), o maior produtor mundial de equipamento elétrico. Em fevereiro, o presidente, Gilles Schnepp, disse que “não há tabus” em relação ao seu crescimento. “Gastamos 400 a 500 milhões de euros por ano em aquisições sem afetar o nosso balanço”, defendeu. A última compra foi anunciada no final de setembro. O alvo foi a norte-americana Raritan.
Robert Half International
Warren Buffett sempre defendeu a importância dos recursos humanos. A Berkshire Hathaway emprega, direta e indiretamente, mais de 300 mil pessoas. A Robert Half International (Nova Iorque: 52,66 dólares) dedica-se exatamente à gestão de pessoal. O seu negócio envolve o fornecimento de trabalhadores temporários e permanentes, em particular nas áreas da contabilidade, finanças, legal e tecnologia.
Rockwell Automation
A Rockwell Automation (Nova Iorque: 105,42 dólares) está cheia de dinheiro: quase dois mil milhões de euros no banco e em aplicações de curto prazo, o equivalente a mais de 15% do seu valor de mercado. O dinheiro será usado para comprar outras empresas e para investimentos na expansão da atividade, explicou o presidente, Keith Nosbusch. A Rockwell desenvolve sistemas de automatização da indústria. Tem como clientes a Nestlé e a Chrysler, por exemplo.
T. Rowe Price Group
É um concorrente da Franklin Resources. O T. Rowe Price Group (Nasdaq: 72,04 dólares) também gere ativos, como fundos de investimento. No entanto, ao contrário da Franklin Resources, não tem praticamente passivo. Segundo os últimos números, o T. Rowe Price gere o equivalente a 700 mil milhões de euros. Em Portugal, o Banco Best começou a distribuir fundos do grupo em fevereiro.
United Technologies
Depois de vender a Sikorsky, o construtor dos famosos helicópteros Black Hawk, à Lockheed Martin, a United Technologies (Nova Iorque: 94,33 dólares) afastou-se do perfil da General Dynamics e aproximou-se da Precision Castparts, o fornecedor das indústrias aeroespacial e energética que Warren Buffett acordou comprar em agosto. Isto quer dizer que a United Technologies se afastou do negócio da defesa (era o sexto maior fornecedor do Governo dos EUA) e concentrou-se na indústria aeroespacial e sistemas para edifícios. Este grupo desenvolve sistema de aviação e motores de avião, como os Pratt & Whitney usados nos A320 da Airbus. É dono do fabricantes de elevadores Otis e do produtor de equipamento de ar condicionado Carrier.
United Health Services
A United Health Services (Nova Iorque: 127,44 dólares) gere hospitais e centros de saúde nos Estados Unidos da América, Porto Rico e Reino Unido. Depois da aquisição da Foundations Recovery Network, especializada no tratamento de toxicodependências e de doenças mentais, o número de unidades já ultrapassa largamento as duas centenas.
A United Health Services tem em curso um programa de recompra de ações, que é uma maneira de premiar os acionistas. “O Charlie [Munger, vice-presidente da Berkshire Hathaway] e eu apreciamos recompras quando duas condições são satisfeitas: primeiro, a empresa tem amplos fundos para tomar conta das necessidades operacionais e de liquidez; segundo, as suas ações vendem-se com um desconto significativo face ao valor intrínseco do negócio da empresa, calculado de forma conservadora”, escreveu Warren Buffett em 2012.
Varian Medical Systems
A Varian Medical Systems (Nova Iorque: 77,42 dólares) também atua no setor da saúde, mas numa área muito especializada: equipamento e software usado no tratamento de tumores através de radioterapia, radiocirurgia, protonterapia e braquiaterapia. É a quarta empresa que mais fatura no mundo com a venda de equipamento de tratamento oncológico por radiação, a seguir à General Electric, à Siemens e à Toshiba. Ao contrário destas firmas, a totalidade da faturação da Varian é obtida neste segmento de negócio.
David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito. O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas.