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Quando, em 2015, procurámos empresas em que Warren Buffett poderia investir, elegemos a Apple. Poucos meses depois, a sociedade de investimento que Buffett lidera, a Berkshire Hathaway, anunciou que tinha comprado ações da Apple pela primeira vez.

No artigo que publicámos em outubro do ano passado, explicámos que a Apple, embora satisfizesse a maioria dos critérios quantitativos ensinados pelo guru, era uma compra improvável do “Oráculo de Omaha”, como Buffett é conhecido por referência à sua terra natal, no Nebrasca, Estados Unidos da América. “Não estou a falar em não acertar numa empresa que dependa de uma invenção esotérica (como a Xerox), uma alta tecnologia (Apple) ou, mesmo, uma promoção comercial brilhante (Wal-Mart). Nunca desenvolveremos a habilidade para detetar esses negócios cedo”, escreveu o guru há mais de 25 anos.

A imprensa norte-americana confirmou as nossas suspeitas: a decisão da compra pode ter passado por um dos discíplos de Warren Buffett, Todd Combs ou Ted Eschler, que decidem algumas das compras efetuadas pela Berkshire Hathaway e pelas suas subsidiárias.

As ações da Apple nem foram as que mais contribuíram para o forte desempenho da carteira construída pelo Observador seguindo a estratégia de Warren Buffett. Essa carteira rendeu 18,02% em cerca de um ano e dois meses, batendo os índices de referência em mais de cinco pontos percentuais. Porém, foram as ações nomeadas através dos ensinamentos do mentor de Warren Buffett, Benjamin Graham, que mais renderam desde que o Observador desenhou dez carteiras de gurus no último trimestre de 2015: ganharam, em média, 26,78%, mais do que o dobro dos índices.

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Além das carteiras de Warren Buffett e de Benjamin Graham, os títulos eleitos pelas táticas de Peter Lynch, Joseph Piotroski, John Neff e David Dreman renderam, em média, mais de 10% desde que os artigos foram publicados pelo Observador.

Nem tudo foi positivo nas dez carteiras de gurus que o Observador desenhou há cerca de um ano: as estratégias de William O’Neil e de Martin Zweig tiveram resultados negativos. Mesmo assim, quem tivesse seguido todas as recomendações de gurus do Observador teria ganho 12,08%, em média, batendo os índices europeus e norte-americanos em mais de quatro pontos percentuais.

O pai lidera
A estratégia de Benjamin Graham, reconhecido como o pai da avaliação de ações, alcançou o melhor resultado no último ano. O método de Joseph Piotroski foi o que mais se afastou dos índices de referência.
Guru Data de publicação Rentabilidade efetiva das carteiras de gurus
Rentabilidade das ações europeias e norte-americanas
Warren Buffett 8 de outubro de 2015 18,02% 12,36%
Benjamin Graham 15 de outubro de 2015 26,78% 12,82%
Peter Lynch 22 de outubro de 2015 20,32% 9,19%
Joseph Piotroski 29 de outubro de 2015 23,31% 6,57%
William O’Neil 5 de novembro de 2015 -10,39% 5,32%
Martin Zweig 12 de novembro de 2015 -6,28% 7,02%
James O’Shaughnessy 19 de novembro de 2015 7,21% 4,61%
Joel Greenblatt 26 de novembro de 2015 3,39% 3,39%
John Neff 4 de dezembro de 2015 14,92% 6,31%
David Dreman 10 de dezembro de 2015 23,47% 8,81%
Cálculos: Bloomberg, Observador. Rentabilidade das ações europeias e norte-americanas reflete a média dos índices Bloomberg European 500 e Standard & Poor’s 500. 9 de dezembro de 2016

Tal como, há um ano, usámos a plataforma da Bloomberg, um serviço para investidores profissionais, para analisar cerca de um milhar de ações segundo os critérios dos dez gurus, recorremos a este sistema para calcular os retornos obtidos pelas carteiras. As rentabilidades são ajustadas para refletir a distribuição de dividendos e outras alterações de capital. Assume-se que os dividendos são reinvestidos na aquisição de novas ações. Não foram contabilizados impostos nem custos de bolsa, como comissões de transação, de guarda de títulos e de pagamento de dividendos.

Como um ano é pouco para aferir a capacidade de longo prazo de uma estratégia de bolsa, o Observador volta a pesquisar as ações que os ensinamentos dos dez gurus de bolsa apontam que devem ser compradas nesta altura. Todas as recomendações estão mais à frente neste artigo.

Qual o guru que mais rendeu?

Em baixo estão as rentabilidades de todos os títulos recomendados nos artigos sobre os dez gurus publicados entre outubro e dezembro de 2015. As ações da Computer Sciences, a consultora tecnológica presente na carteira à Joel Greenblatt, foram as que mais avançaram: 85,68%. A Marks & Spencer, a retalhista escolhida pelo método de James O’Shaughnessy, foi a que mais perdeu: -41,79%.

Qual o melhor guru de bolsa?
O mesmo título pode aparecer com dois retornos diferentes nesta lista, porque pode ter sido recomendado em duas datas diferentes.
Ação Bolsa Rentabilidade desde recomendação
Warren Buffett: rentabilidade média de 18,02%
3M Nova Iorque 32,10%
Apple Nasdaq 14,36%
Biogen Nasdaq 10,06%
Cisco Systems Nasdaq 19,33%
Cummins Nova Iorque 39,27%
Elisa Helsínquia -0,07%
F5 Networks Nasdaq 28,29%
FMC Technologies Nova Iorque 8,86%
Franklin Resources Nova Iorque 15,20%
General Dynamics Nova Iorque 35,18%
Gilead Sciences Nasdaq -21,20%
Intel Nasdaq 22,47%
Johnson & Johnson Nova Iorque 30,90%
Legrand Paris 11,46%
Robert Half International Nova Iorque 1,10%
Rockwell Automation Nova Iorque 46,44%
T. Rowe Price Group Nasdaq 17,33%
United Technologies Nova Iorque 28,70%
United Health Services Nova Iorque -5,49%
Varian Medical Systems Nova Iorque 26,15%
Benjamin Graham: rentabilidade média de 26,78%
Kinnevik Estocolmo -3,46%
National Oilwell Varco Nova Iorque 11,93%
Valero Energy Nova Iorque 21,98%
Cummins Nova Iorque 47,33%
Helmerich & Payne Nova Iorque 60,37%
Intel Nasdaq 22,89%
Oracle Nova Iorque 18,54%
Parker-Hannifin Nova Iorque 54,83%
Qualcomm Nasdaq 30,83%
Ralph Lauren Nova Iorque 2,59%
Peter Lynch: rentabilidade média de 20,32%
Apple Nasdaq 7,02%
BorgWarner Nova Iorque 6,64%
Cummins Nova Iorque 40,50%
Electronic Arts Nasdaq 11,63%
Gap Nova Iorque 4,24%
Kansas City Southern Nova Iorque 7,15%
Merck Nova Iorque 28,57%
Nucor Nova Iorque 67,50%
Public Service Enterprise Group Nova Iorque 8,52%
Royal Dutch Shell – A Amesterdão 10,90%
Tyson Foods Nova Iorque 40,54%
Valero Energy Nova Iorque 25,04%
Whole Foods Market Nasdaq 5,94%
Joseph Piotroski: rentabilidade média de 23,31%
Alcoa Nova Iorque 68,55%
Baker Hughes Nova Iorque 33,52%
Chesapeake Energy Nova Iorque 15,75%
Entergy Nova Iorque 15,68%
HeidelbergCement Frankfurt 32,18%
National Oilwell Varco Nova Iorque 17,18%
Peugeot Paris -3,19%
Renault Paris 2,95%
Saint-Gobain Paris 17,46%
Solvay Bruxelas 18,85%
UPM-Kymmene Helsínquia 37,47%
William O’Neil: rentabilidade média de -10,39%
Activision Blizzard Nasdaq 2,33%
Grifols Madrid -17,26%
IAG Londres -31,42%
Pandora Copenhaga 8,09%
Regeneron Pharmaceuticals Nasdaq -31,88%
Ryanair Holdings Dublin -1,62%
Starbucks Nasdaq -0,97%
Martin Zweig: rentabilidade média de -6,28%
Grifols Madrid -16,90%
Kroger Nova Iorque -1,28%
Novo Nordisk Copenhaga -30,29%
Recordati Milão 17,46%
Tractor Supply Nasdaq -10,78%
Visa Nova Iorque 4,13%
James O’Shaughnessy: rentabilidade média de 7,21%
Acciona Madrid -14,21%
Aviva Londres -15,81%
Best Buy Nova Iorque 71,45%
BP Londres 11,73%
CNP Assurances Paris 42,57%
Engie Paris -22,44%
Entergy Nova Iorque 14,50%
Exelon Nova Iorque 31,06%
FirstEnergy Nova Iorque 4,59%
Ford Motor Nova Iorque -1,59%
GameStop Nova Iorque -26,67%
General Motors Nova Iorque 12,38%
HP Nova Iorque 21,09%
Marks & Spencer Londres -41,79%
NiSource Nova Iorque 15,64%
Old Mutual Londres -14,42%
Royal Mail Londres -15,03%
Sainsbury Londres -14,48%
SSE Londres -10,17%
Staples Nasdaq -10,94%
Statoil ASA Oslo 24,36%
STMicroelectronics Paris 57,67%
Total Paris 5,64%
Wm Morrison Supermarkets Londres 24,90%
Wood Group Londres 30,17%
Joel Greenblatt: rentabilidade média de 3,39%
Aberdeen Asset Management Londres -28,16%
Amgen Nasdaq -9,48%
Azimut Holding Milão -26,67%
Computer Sciences Nova Iorque 85,68%
DCC Londres -15,18%
eBay Nasdaq 4,16%
Flowserve Nova Iorque 14,34%
Fossil Group Nasdaq -12,45%
GameStop Nova Iorque -23,77%
Gilead Sciences Nasdaq -30,60%
Hays Londres -14,41%
International Paper Nova Iorque 36,01%
LyondellBasell Nova Iorque -3,19%
Navient Nasdaq 57,91%
Nordstrom Nova Iorque 9,20%
Oracle Nova Iorque 5,64%
Seagate Technology Nasdaq 23,09%
SKF Estocolmo 15,24%
Telenor Oslo -7,15%
Telia (ex-TeliaSonera) Estocolmo -12,41%
John Neff: rentabilidade média de 14,92%
American Airlines Nasdaq 15,12%
Apple Nasdaq 0,92%
Paccar Nasdaq 46,92%
Qualcomm Nasdaq 39,84%
Ryanair Holdings Dublin 1,75%
Tesoro Nova Iorque -15,00%
David Dreman: rentabilidade média de 23,47%
Anthem Nova Iorque 14,56%
AT&T Nova Iorque 30,89%
Hartford Financial Services Nova Iorque 14,23%
JPMorgan Chase Nova Iorque 39,35%
KeyCorp Nova Iorque 51,23%
Kohl’s Nova Iorque 29,54%
Meggitt Londres 16,59%
Mosaic Nova Iorque 13,02%
Old Mutual Londres 2,18%
Principal Financial Group Nova Iorque 36,64%
Staples Nasdaq 9,96%
Fonte: Bloomberg. Rentabilidades em euros. 9 de dezembro de 2016

Embora voltemos agora a publicar novas carteiras de ações de gurus, quem investiu nos títulos recomendadas há um ano deve ponderar se quer vender para replicar as novas listas. A maioria dos gurus aconselha que as ações devem ser detidas para o longo prazo. Além disso, há vantagens fiscais para quem alcança mais-valias após dois anos de investimento: grosso modo, a tributação é apenas sobre o ganho acima da inflação. O prazo mínimo recomendado de investimento nas carteiras de gurus desenhadas pelo Observador é de um ano.

Se planeia começar a investir agora seguindo as filosofias de gurus de bolsa, resta-lhe decidir em quais mais confia. Todas as ações recomendadas em baixo resultam da aplicação de algoritmos financeiros (que usam dados bolsistas e contabilísticos) para a replicação de estratégias de gurus. Estes algoritmos foram desenvolvidos a partir de livros, artigos, entrevistas e investigação académica. A seleção não envolve qualquer subjetividade.

Embora os dez gurus sejam norte-americanos, não restringimos a pesquisa das melhores ações aos Estados Unidos da América. O universo de partida reúne mil títulos – 500 na Europa e outros 500 nos EUA –, usando os componentes dos índices Bloomberg European 500 Index e Standard & Poor’s 500 Index. As empresas emitentes destas ações absorvem pouco mais de metade do valor de mercado das bolsas mundiais. Além disso, a maioria dos bancos e das corretoras não permite investir nos mercados externos à Europa e aos EUA.

Há três coisas que não deve esquecer se quiser investir como um guru: investir diretamente em ações exige um intermediário financeiro que pode cobrar comissões de bolsa; as ações são ativos voláteis no curto prazo e, por isso, é preciso estômago para aguentar os altos e os baixos da bolsa; e os resultados obtidos no passado não são garantia de desempenhos futuros.

Warren Buffett: como investe o terceiro homem mais rico do mundo

Começou modestamente a vender garrafas de Coca-Cola e, hoje, a sua sociedade é a maior acionista da Coca-Cola. Foi a sua capacidade de investidor que o tornou no terceiro homem mais rico do mundo, segundo a Forbes. (A Bloomberg calcula que o guru já ultrapassou o dono da Zara, o espanhol Amancio Ortega, e é o segundo multimilionário.)

Warren Buffett sempre disse que não compra ações: investe em negócios. É, por isso, redutor aplicar algoritmos para replicar o cérebro do “Oráculo de Omaha”. Mesmo assim, as estratégias desenvolvidas por Robert Hagstrom e pela dupla Mary Buffett e David Clark, autores de “Warren Buffett e as Estratégias de Um Grande Investidor” e de “Como Enriquecer na Bolsa com Warren Buffett”, respetivamente, são as mais completas. A maior preocupação dos investidores que tentam replicar Buffett deve ser menos a escolha das melhores ações, mas mais em conseguir mantê-las durante os altos e os baixos da economia e dos mercados, defende Hagstrom.

A partir dos dois livros, o Observador compilou as seguintes regras na seleção de ações:

  • Capitalização bolsista superior a cinco mil milhões de euros. Buffett prefere grandes empresas, porque normalmente são mais estáveis. Cinco mil milhões de euros é o valor de mercado aproximado da EDP Renováveis, por exemplo.
  • Grau de endividamento inferior à indústria. O rácio, que compara o passivo com os capitais próprios, procura as empresas menos endividadas.
  • Margem operacional superior à indústria. Mede a percentagem da faturação que chega aos resultados operacionais.
  • Margem de lucro superior à indústria: É o resultado líquido em percentagem do volume de negócios.
  • Evitar os lucros que menos crescem. Exclui o quarto das empresas analisadas que tiveram o menor avanço dos resultados líquidos por ação nos últimos cinco anos.
  • Resultado operacional e resultado líquido positivo. São analisados os últimos resultados trimestrais e os últimos sete resultados anuais.
  • Rentabilidade dos capitais próprios superior a 15%. Este rácio, que resulta da divisão dos lucros de 12 meses pelos capitais próprios, deve ser superior a 15% com os últimos dados trimestrais e em, média, nos últimos sete anos.

Caso o número de empresas resultante desta tática buffettiana ultrapasse a vintena, são selecionadas as que têm os mais elevados rácios entre o fluxo de caixa livre e a capitalização bolsista.

O fluxo de caixa livre é o dinheiro que a empresa gera anualmente depois de retirar o capital necessário à sua manutenção e à expansão dos seus ativos. Ao dividi-lo pelo valor de mercado da empresa, obtém-se a rentabilidade do fluxo de caixa livre, isto é, a proporção da capitalização bolsista que a firma consegue produzir anualmente além dos capitais necessários ao seu normal funcionamento e à sua expansão.

Em baixo estão as ações eleitas pelas regras da Buffettologia. Inclui várias repetentes do ano passado: 3M, Apple, Biogen, F5 Networks, Intel e Robert Half International. À exceção de uma firma cotada em Copenhaga (Novo Nordisk), a carteira está concentrada nas bolsas norte-americanas.

Muito dependente dos semicondutores
Cinco dos vinte títulos buffettianos – Analog Devices, Intel, Qualcomm, Skyworks Solutions e Texas Instruments – são do setor dos semicondutores, o que representa um risco acrescido pela baixa diversificação.
Empresa Indústria Capitalização bolsista
(milhões de euros)
Grau de endividamento Margem operacional Margem de lucro Rentabilidade dos capitais próprios Rentabilidade do fluxo de caixa livre Bolsa
3M Indústria diversificada 99.723 102,60% 24,70% 17,24% 40,79% 5,01% Nova Iorque
Accenture Serviços empresariais 74.507 0,33% 13,33% 11,93% 60,08% 5,37% Nova Iorque
Alaska Air Group Companhias aéreas 10.290 74,58% 25,54% 16,35% 34,08% 8,07% Nova Iorque
Analog Devices Semicondutores 21.462 33,53% 35,57% 29,51% 16,83% 5,06% Nasdaq
Apple Computadores 563.592 67,86% 25,10% 19,24% 36,90% 8,63% Nasdaq
Biogen Biotecnologia 59.386 53,94% 48,22% 34,94% 34,25% 5,30% Nasdaq
Church & Dwight Produtos para a casa 10.675 43,85% 22,51% 14,24% 21,95% 5,71% Nova Iorque
Expeditors International Serviço de entregas 9.582 0,00% 10,71% 6,89% 23,56% 5,06% Nasdaq
F5 Networks Equipamento de telecomunicações 8.794 0,00% 30,96% 20,74% 29,25% 6,73% Nasdaq
Honeywell International Indústria diversificada 83.088 81,85% 15,65% 12,65% 26,53% 4,71% Nova Iorque
Intel Semicondutores 159.486 43,15% 28,28% 21,41% 16,99% 6,32% Nasdaq
Novo Nordisk Farmacêuticas 83.579 1,10% 45,10% 35,60% 88,79% 9,43% Copenhaga
Qualcomm Semicondutores 95.437 37,01% 29,17% 25,86% 18,05% 6,74% Nasdaq
Robert Half International Agências de recursos humanos 5.936 0,10% 10,91% 6,77% 34,17% 6,17% Nova Iorque
Skyworks Solutions Semicondutores 13.929 0,00% 34,94% 29,54% 29,70% 6,06% Nasdaq
Snap-on Produtos duráveis para a casa 9.474 33,33% 22,99% 14,54% 21,13% 4,85% Nova Iorque
TE Connectivity Componentes elétricos 23.649 47,97% 15,52% 13,12% 22,24% 5,08% Nova Iorque
Texas Instruments Semicondutores 67.961 35,11% 37,96% 26,34% 31,68% 5,31% Nasdaq
Tiffany Retalho especializado 9.979 37,78% 16,35% 10,02% 15,67% 5,01% Nova Iorque
Walt Disney Entretenimento 155.095 42,66% 21,53% 13,48% 21,39% 5,03% Nova Iorque
Fonte: Bloomberg. 9 de dezembro de 2016

Benjamin Graham: ações do primeiro guru da bolsa

Foi o primeiro guru da bolsa e continua atualizado, como mostra o desempenho da primeira carteira desenhada pelo Observador seguindo os seus métodos. “Antes de Graham, os gestores de ativos comportavam-se como grémios medievais, guiados largamente pela superstição, adivinhação e rituais arcanos”, recordou Jason Zweig, o colunista do The Wall Street Journal que, mais de meio século depois da primeira edição, atualizou a sua bíblia do investimento bolsista, “The Intelligent Investor”. Foram os ensinamentos que Graham perpetuou nesse livro – apenas com algumas adaptações – que o Observador usou na pesquisa de ações grahamianas.

Benjamin Graham divide os investidores em dois tipos: os empreendedores e os defensivos. A diferença não reside no nível de risco a que se expõem, mas no esforço que estão dispostos a despender. O investidor empreendedor deve ter experiência de mercado e tempo para dedicar à gestão da sua carteira. O investidor defensivo ou passivo deve concentrar-se a comprar ações de grandes empresas com lucros estáveis no longo prazo.

Para os investidores empreendedores, o Observador procurou ações com as seguintes características:

  • Rácio preço-lucros inferior a dez. Este rácio, que divide a cotação da ação pelos lucros de 12 meses que lhe são atribuídos, significa que a empresa não pode valer mais de dez vezes os lucros anuais.
  • Rácio preço-valor contabilístico inferior a dois. Este indicador resulta da divisão da cotação da ação pelo seu valor de balanço. A cotação não pode ser mais do dobro do valor contabilístico da ação.
  • Rácio de liquidez geral superior a 1,5. Esta medida, que divide o ativo circulante pelo passivo circulante, é usada para aferir a capacidade da empresa em cumprir as suas obrigações de curto prazo. A regra impede a compra de empresas cujos ativos circulantes sejam inferiores a uma vez e meia os passivos circulantes.
  • Rácio do passivo de longo prazo sobre o fundo de maneio inferior a 110%. A dívida de longo prazo não pode ultrapassar o fundo de maneio, que é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante, em mais de 10%.
  • Resultados líquidos positivos em cada um dos últimos cinco anos e nos últimos 12 meses. Obriga a que as empresas tenham lucros mesmo em períodos de recessão.
  • Lucros anuais superiores aos registados há cinco anos. Esta análise usa o último ano fiscal e os últimos 12 meses conhecidos.
  • Dividendos nos próximos 12 meses. A empresa deve planear pagar dividendos. Não interessa o montante; o importante é pagar alguma coisa aos acionistas.

Para os investidores defensivos, foram aplicadas as seguintes regras:

  • Volume de negócios superior a 500 milhões de euros. A faturação é a medida favorita de Graham para aferir a dimensão da empresa.
  • Rácio de liquidez geral superior a dois.
  • Rácio do passivo de longo prazo sobre fundo de maneio entre zero e 100%.
  • Resultados líquidos positivos em cada um dos últimos sete anos e nos últimos 12 meses.
  • Crescimento anual do resultado líquido superior a 3% nos últimos sete anos.
  • Dividendos durante os próximos 12 meses.
  • Dividendos nos últimos sete anos e nos últimos 12 meses. Garante empresas dedicadas à remuneração dos acionistas.
  • Rácio preço-lucros inferior a 50. Graham diz que a rentabilidade dos lucros (resultado líquido a dividir pelo preço, ou seja, o inverso do rácio preço-lucros) deve ser superior à rentabilidade das obrigações de alta qualidade. Atualmente, as obrigações empresariais europeias de notação elevada que se vencem a dez ou mais anos têm uma rentabilidade anual implícita de cerca de 2%, o que obriga o rácio preços-lucros a ficar abaixo de 50 (1 ÷ 2%).
  • Rácio preço-lucros multiplicado pelo rácio preço-valor contabilístico inferior a 75. É o valor máximo anterior multiplicado por 1,5, o limite atribuído individualmente ao rácio preço-valor contabilístico.

No último ano, as ações para os investidores defensivos renderam muito mais do que as para os investidores empreendedores, mas não há garantia que a diferença se mantenha no próximo ano.

11 ações grahamiana
Esta carteira está pouco diversificada, porque cinco empresa dedicam-se à construção de imóveis: as britânicas Barratt, Bellway, Berkeley e Taylor Wimpey e a norte-americana D.R. Horton. A Oracle e a Qualcomm mantêm-se da seleção do ano passado.
Empresa Rácio preço-lucros Rácio preço-valor contabilístico Rentabilidade dos dividendos Rácio de liquidez geral Passivo de longo prazo ÷ fundo de maneio Bolsa
Investidor empreendedor
Barratt Developments 8,61 1,19 6,52% 3,30 4,70% Londres
Bellway 7,51 1,62 4,39% 3,55 0,00% Londres
Berkeley Group 8,08 1,99 6,95% 2,01 0,00% Londres
Taylor Wimpey 9,86 1,97 7,00% 3,06 5,78% Londres
Investidor defensivo
Corning 21,77 1,53 2,17% 3,70 63,31% Nova Iorque
D.R. Horton 12,17 1,62 1,15% 6,46 34,30% Nova Iorque
Foot Locker 17,04 3,98 1,36% 4,64 6,43% Nova Iorque
Johnson & Johnson 18,01 4,15 2,84% 2,73 58,73% Nova Iorque
Oracle 18,48 3,49 1,49% 4,92 89,46% Nova Iorque
Qualcomm 17,93 3,18 3,02% 3,14 63,87% Nasdaq
Snap-on 19,31 3,76 1,47% 2,17 69,26% Nova Iorque
Fonte: Bloomberg. 9 de dezembro de 2016

Peter Lynch: uma carteira à semelhança da lenda da bolsa

Jason Zweig, o colunista do The Wall Street Journal que atualizou “The Intelligent Investor”, não é unicamente fã de Benjamin Graham. “A mais alta rentabilidade de 20 anos de que há registo na história dos fundos de investimento foi de 25,8% por ano, alcançada pelo lendário Peter Lynch do Fidelity Magellan nas duas décadas que terminaram em 31 de dezembro de 1994”, escreveu Zweig na edição revista da obra de Graham.

Em 1989, Peter Lynch publicou o seu primeiro livro, “One Up on Wall Street”, em que defendia que os investidores comuns têm vantagens face aos investidores profissionais. O conselho de Peter Lynch era facilmente resumido: ignore os profissionais do mercado, esqueça as previsões económicas, evite ações em alta e invista em empresas cujos negócios compreenda. Os seus livros seguintes, como “Beating the Street”, já dão exemplos mais concretos, que usámos como ponto de partida para a seleção de ações do Observador.

Lynch defende que é entre as empresas mais pequenas que se encontram as verdadeiras perólas da bolsa. Ao reduzir o universo de pesquisa a um milhar de grandes empresas da Europa e dos Estados Unidos da América, excluímos muitas ações que o guru poderia preferir.

Mesmo assim, os critérios lynchianos que desenvolvemos foram:

  • Exclusão de empresas muito diversificadas e setores de tecnologia de ponta. Para aplicar a regra do “investe no que conheces”, não foram incluídas empresas que atuam em muitas indústrias em simultâneo, como conglomerados, e firmas cujos produtos e serviços são dificilmente entendidos por investidores fora dessas áreas, como soluções biotecnológicas.
  • Rácio preço-lucros inferior à média da indústria. O rácio P/L resulta da divisão da cotação da ação pelo resultado líquido de 12 meses que lhe é atribuído. Tal como para muitos investidores, é o ponto de partida de análise de Peter Lynch. Assumindo a manutenção dos lucros anuais, este indicador revela o número de anos que os investidores teriam de esperar para receber o que investiram na compra dos títulos, se a empresa distribuísse todos os resultados como dividendos. Em princípio, deseja-se um rácio baixo.
  • Rácio PEG ajustado pelos dividendos inferior a 0,75. O rácio P/L é um bom ponto de partida, mas Lynch vai mais longe: se a empresa crescer muito, o guru está disposto a aceitar P/L mais altos. Também pode ceder nos P/L altos se os dividendos forem generosos. Por isso, desenvolveu um rácio, o PEG ajustado pelos dividendos, que resulta da divisão do P/L pela soma da taxa de dividendos e do crescimento dos lucros. A taxa de dividendos é equivalente aos dividendos distribuídos nos últimos 12 meses a dividir pela cotação, enquanto usámos a variação média anual dos resultados líquidos por ação nos último cinco anos para aferir o crescimento dos lucros. Peter Lynch diz que as pechinchas têm PEG ajustados pelos dividendos inferiores a 0,5, mas que pode haver bons negócios abaixo da unidade. O Observador ficou a meio: limitámos os PEG ajustados pelos dividendos a 0,75.
  • Crescimento anual médio dos lucros por ação nos últimos cinco anos inferior a 50%. Lynch quer lucros a aumentar, mas não demasiado. O guru defende que mais de 50% por ano é insustentável.
  • Grau de endividamento inferior a 80%. Este rácio, que compara o passivo com os capitais próprios, procura as empresas menos dependentes da dívida.
  • Variação do rácio existências-vendas inferior a 10% nos últimos cinco anos. O ideal seria que o rácio decrescesse, o que quereria dizer que as vendas aumentaram mais depressa que as existências. O contrário – existências a crescer mais depressa que as vendas – poderia indicar que os produtos em armazém não estão a ser despachados tão depressa como a administração estimava. No entanto, aceitámos sociedades que aumentaram o rácio até 10%, o que, no limite, permite que as existências aumentem cerca de 2% por ano acima das vendas.

A carteira que resulta da aplicação destas regras revela seis títulos. Apenas um deles, da produtora alimentar Tyson Foods, é repetente face à lista publicada em 2015.

Invista no comércio tradicional
As ações lynchianas refletem negócios simples da economia norte-americana, das farmácias até aos sapatos, passando pelos tapetes.
Empresa Negócio Rácio preço-lucros Rácio PEG ajustado
Variação do rácio existências-vendas
(5 anos)
Grau de endividamento Bolsa
CVS Health Farmácias 14,79 0,70 -17,25% 74,35% Nova Iorque
First Solar Painéis solares 6,30 0,15 -32,16% 13,24% Nasdaq
Foot Locker Sapatarias de desporto 17,04 0,53 -18,64% 4,86% Nova Iorque
Michael Kors Vestuário e acessórios 11,35 0,28 2,60% 22,84% Nova Iorque
Mohawk Industries Tapetes e pavimentos 16,49 0,41 -6,91% 47,63% Nova Iorque
Tyson Foods Alimentos 13,71 0,30 -7,61% 65,24% Nova Iorque
Fonte: Bloomberg. 9 de novembro de 2016

Joseph Piotroski: recomendações pela investigação do professor-guru

Ao contrário de Warren Buffett, Benjamin Graham e Peter Lynch, Joseph Piotroski não é um investidor profissional: é professor na Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos da América. Todavia, um estudo desenvolvido pelo académico teve um grande impacto no mundo dos investimentos: “Value Investing: The Use of Historical Financial Statement Information to Separate Winners from Losers”, publicado no Journal of Accounting Research no ano 2000. Essa investigação mostrou que é possível bater os índices de mercado usando apenas indicadores contabilísticos e bolsistas.

A estratégia desenvolvida por Joseph Piotroski começa com o rácio entre o capital próprio da empresa e o seu valor de mercado. Do universo inicial, o investigador apenas retém um quinto das ações, aquelas cujos emitentes têm o rácio mais elevado.

O indicador usado por Piotroski é o inverso do rácio entre preço e o valor contabilístico por ação, popular entre os investidores desde os tempos de Benjamin Graham, que o tinha entre os seus favoritos. Assim, das mil empresas iniciais, reservámos apenas as 200 que apresentam o rácio preço-valor contabilístico mais baixo.

Com o universo reduzido a um quinto, Piotroski avança para nove testes contabilísticos. São binários: as empresas passam ou não passam em cada um dos testes. Se uma sociedade chumbar mais de dois testes, é excluída. Assim, a carteira recomendada é composta apenas pelas ações das firmas que passaram oito ou nove testes.

Em baixo estão os nove testes adaptados pelo Observador na forma de pergunta. São aplicados aos balanços e demonstrações de resultados anuais e precisam de respostas afirmativas para se considerarem transpostos.

  1. A rentabilidade do ativo – lucros excluindo resultados extraordinários a dividir pelo ativo – é positiva? Procuram-se empresas rentáveis.
  2. A rentabilidade do ativo aumentou no último ano? Quanto mais rentáveis, melhor.
  3. O fluxo de caixa operacional é positivo? A atividade corrente tem de gerar dinheiro.
  4. O fluxo de caixa operacional é superior aos lucros excluindo resultados extraordinários? Os lucros não devem ultrapassar o montante gerado pela atividade corrente da firma.
  5. O rácio de endividamento de longo prazo – divide a dívida de longo prazo pelo ativo – diminuiu? A necessidade de mais dívida pode ser um sinal de aflição financeira.
  6. O rácio de liquidez geral – ativo circulante a dividir pelo passivo circulante – aumentou? Uma melhoria na liquidez da empresa é um bom sinal.
  7. A sociedade evitou emitir mais ações ao longo do último ano? A emissão de ações pode indicar que a empresa não está a gerar dinheiro suficiente através da sua atividade.
  8. O rácio de margem bruta – a diferença entre vendas e custo das mercadorias vendidas a dividir pelas vendas – aumentou? Um aumento representa uma melhoria nos custos de produção, uma redução da despesa de armazenamento ou uma subida dos preços de venda.
  9. A rotação do ativo – vendas a dividir pelo ativo – aumentou? As vendas crescerem mais do que o ativo é sinal de maior produtividade.

O quadro em baixo mostra as empresas de baixo rácio preço-valor contabilístico que passaram pelo menos oito dos testes piotroskianos. Três ações francesas mantêm-se da carteira do ano passado: Peugeot, Renault e Saint-Gobain.

Uma carteira muito internacional
Esta lista inclui ações alemãs, espanholas, francesas, norueguesas e norte-americanas.
Empresa Rácio preço-valor contabilístico Rentabilidade do ativo Rácio de endividamento de longo prazo Rácio de liquidez geral Rácio de margem bruta Bolsa
Acciona 0,92 2,35% 29,00% 0,92 -1,36% Madrid
CenturyLink 0,95 1,93% 38,86% 0,58 54,45% Nova Iorque
K+S 0,98 3,55% 25,36% 2,16 31,38% Frankfurt
Norsk Hydro 1,15 4,75% 2,73% 2,11 12,57% Oslo
Peugeot 1,07 3,04% 10,08% 1,08 19,45% Paris
Renault 0,81 3,23% 4,91% 1,00 21,14% Paris
Saint-Gobain 1,31 2,89% 13,38% 1,23 25,84% Paris
Transocean 0,36 4,48% 27,48% 1,95 30,34% Nova Iorque
Veolia Environnement 1,10 1,01% 20,55% 0,92 17,98% Paris
Fonte: Bloomberg. 9 de dezembro de 2016

William O’Neil: o guru que segue as ações que mais sobem

William O’Neil, agora com 83 anos, foi um dos primeiros investidores profissionais a usarem computadores para selecionar ações. Ao contrário de Warren Buffett e Peter Lynch, O’Neil defende que não é preciso conhecer profundamente os negócios das empresas para fazer boas compras. “O primeiro passo para aprender como escolher os vencedores dos mercados acionistas é examinar os líderes do passado”, avisou o guru em “How to Make Money in Stocks: A Winning System in Good Times and Bad”, publicado em 1988.

Para descobrir as melhores ações no mercado recorremos ao método CAN SLIM, desenvolvido na década de 1950 mas sucessivamente apurado por William O’Neil. Nesta estratégia, cada letra representa uma das sete regras para selecionar títulos. Seguimos a descrição do CAN SLIM em Investors.com, o portal que serve de estandarte à estratégia do guru norte-americano, mas elaborámos alguns ajustamentos, em particular para eliminar qualquer subjetividade na seleção.

Há, todavia, um ensinamento de O’Neil que não respeitaremos. Deve vender-se imediatamente as ações “quando se têm pequenas perdas de 7% ou 8% em vez de aguardar e ter esperança que recuperem”, defende. Só dentro de um ano é que o Observador fará o balanço às recomendações neste artigo, mesmo que, entretanto, as ações apresentem fortes desvalorizações.

Estes foram os critérios que aplicámos na busca das melhores ações à William O’Neil:

  • Empresas nas 40 indústrias mais recomendadas pelos analistas. William O’Neil quer investir em negócios que estejam num ciclo positivo. Foram avaliadas as recomendações médias em 139 indústrias.
  • Ações com mais recomendações de compra do que de venda. As expectativas dos analistas são importantes para aferir o sentimento do mercado.
  • Ações entre as 25% que mais subiram nas últimas 52 semanas. Não são desejáveis as que estão a cair, nem as que não estão a subir mais do que os índices de mercado.
  • Preço da ação desceu até 10% face ao máximo das últimas 52 semanas. A cotação não deve estar muito afastada do seu pico.
  • Crescimento homólogo dos lucros por ação é superior a 20% no último trimestre fiscal. As melhores ações terão tipicamente ganhos superiores a 50%, defende o guru.
  • Crescimento anual dos lucros por ação é superior a 20% nos últimos três anos. É possível aos administradores das empresas manipularem crescimentos de curto prazo, mas é mais difícil no médio ou no longo prazo, explica O’Neil.
  • Crescimento homólogo das vendas é superior a 15% no último trimestre fiscal. Além dos lucros, a faturação também é um bom indicador para o crescimento da firma.
  • A sociedade tem, pelo menos, dez investidores institucionais. É um sinal de que os grandes investidores, como fundos de pensões, têm as ações na sua mira.
  • O número de investidores institucionais aumentou no último ano. Além de terem a ação na mira, os grandes investidores devem ser cada vez mais.

O CAN SLIM, adaptado pelo Observador, identifica agora quatro ações entre cerca de um milhar de títulos europeus e norte-americanos.

Quatro ações representam fraca diversificação
Os investidores menos agressivos não devem aplicar o dinheiro unicamente em quatro títulos, apesar de as empresas selecionadas operarem em indústrias diferentes.
Empresa Indústria Variação de 52 semanas Variação desde máximo de 52 semanas Crescimento homólogo Crescimento anual dos lucros em 3 anos Recomendação média Bolsa
Lucros trimestrais Vendas trimestrais
Actelion Biotecnologia 52,93% -4,49% 37,58% 18,80% 24,34% 3,59 Zurique
Amazon.com Comércio eletrónico 15,85% -9,43% 203,06% 29,01% 135,50% 4,78 Nasdaq
Applied Materials Semicondutores 74,45% -0,65% 125,87% 39,23% 40,42% 4,67 Nasdaq
Charter Communications Telecomunicações por cabo 37,37% -2,88% 43,12% 309,67% 115,59% 4,65 Nasdaq
Fonte: Bloomberg. Variações na divisa de cotação. Recomendação média entre 1 (venda) e 5 (compra). 9 de dezembro de 2016

Martin Zweig: os títulos que o excêntrico investidor poderia comprar

Na noite do dia 16 de setembro de 1987, num programa norte-americano de televisão, Martin Zweig disse, timidamente, que esperava um crash, mas que não gostaria de falar publicamente sobre o assunto, porque seria como “gritar ‘fogo’ num teatro lotado”. O guru acreditava numa queda violenta, mas que não duraria muito tempo. A sessão bolsista seguinte ao episódio televisivo ficou conhecida por Segunda-Feira Negra: o índice norte-americano Dow Jones Industrial Average registou a maior queda de sempre, de 22,61%. Nesse dia, a carteira do “The Zweig Forecast”, um boletim financeiro assinado por Zweig, subiu 9%.

Martin Zweig transformou o seu reconhecimento público num negócio multimilionário de gestão de ativos. A sua crescente fortuna permitiu-lhe um “estilo de vida extravagante e esbanjador”, de acordo com a revista Forbes. Comprou, entre outras coisas, o apartamento mais caro dos Estados Unidos da América, o equipamento do basquetebolista Michael Jordan quando era estreante nos Chicago Bulls, a guitarra de Buddy Holly, a guitarra-baixo de Paul McCartney e o vestido que Marilyn Monroe usou quando cantou “Happy Birthday” ao presidente John Kennedy.

A maior parte do livro escrito por Martin Zweig, “Winning on Wall Street”, debruça-se sobre indicadores técnicos para saber quando investir e desinvestir na bolsa. Nos reduzidos capítulos em que Zweig explica o seu método para escolher ações, o especialista confessa que o verdadeiro guru é o seu sócio Joseph DiMenna. “Eu faço a previsão geral do mercado. (…) DiMenna trata da análise das ações, estando quase sempre a navegar por documentos financeiros e a falar com analistas e representantes das empresas”, escreveu Zweig.

Apesar disso, Martin Zweig garante que a sua estratégia deverá dar bons frutos à maioria dos pequenos investidores. “O meu processo de escolha de ações envolve a busca das seguintes variáveis: forte crescimento dos lucros e das vendas; um rácio preço-lucros razoável face à taxa de crescimento da empresa; compras pelos administradores ou, pelo menos, a ausência de muitas vendas por administradores; e um forte movimento relativo do preço das ações”, resumiu o guru.

Estes são os critérios que o Observador usou a partir do livro de Zweig:

  • Resultados líquidos positivos no último trimestre, nos últimos 12 meses e no último ano fiscal. Zweig não quer empresas que percam dinheiro.
  • Variação homóloga positiva dos resultados líquidos e das vendas em cada um dos últimos quatro trimestres. Tem de haver crescimento trimestral.
  • Variação anual positiva dos resultados líquidos e das vendas em cada um dos últimos três anos. O crescimento também tem de se verificar no último triénio.
  • Crescimento anual dos resultados líquidos superior a 14,5% no último triénio. Zweig não é claro quanto ao mínimo que exige para o crescimento, embora apresente exemplos em “Winning on Wall Street”. Definimos o mínimo igual à média das mil empresas.
  • Crescimento anual das vendas superior a 3,7% no último triénio. A faturação também deve ter crescido mais do que a média.
  • Rácio preço-lucros entre 5 e 45. Zweig defende que este rácio pode desvendar empresas em dificuldades se for inferior a 5. O guru está disposto a comprar ações cujos rácios se estendem até uma vez e meia a média do mercado, atualmente cerca de 45.
  • Administradores compraram tantas ou mais ações do que venderam nos últimos seis meses. A equipa de gestão não pode estar a vender títulos em massa.
  • Ações devem estar entre as 50% que mais valorizaram no último semestre. Exclui metade dos títulos, aqueles que menos apreciaram nos últimos seis meses.

Os critérios de Martin Zweig são muito restritos na situação atual do mercado. Apenas cinco ações passaram nas regras zweiguianas.

Outra carteira pouco diversificada
Tal como a lista à William O’Neil, a estratégia de Martin Zweig gera uma carteira pouco diversificada de cinco ações.
Empresa Variação anual de três anos Rácio preço-lucros Variação do preço
nos últimos 6 meses
Bolsa
Lucros Vendas
Brembo 37,24% 14,29% 15,19 4,03% Milão
Fresenius 15,30% 12,24% 25,28 3,16% Frankfurt
GN Store Nord 24,11% 10,03% 20,58 2,44% Copenhaga
Hexagon 15,69% 8,67% 21,20 1,48% Estocolmo
Wirecard 44,39% 27,66% 19,43 1,02% Frankfurt
Fonte: Bloomberg. Variação na divisa de cotação. 9 de dezembro de 2016

James O’Shaughnessy: as ações descobertas pela estatística

O início da era dos computadores marcou o perfil de investidor de James O’Shaughnessy. “Imagine-se num quarto com os relatórios trimestrais de 1.600 empresas. Assumindo que cada um dos 6.400 relatórios [publicados durante um ano] tem cerca de um terço de centímetro de espessura, empilhá-los criaria uma torre de 21 metros de informação”, calculou O’Shaughnessy no seu primeiro livro, “Invest Like the Best: Using Your Computer to Unlock the Secrets of the Top Money Managers”, publicado em 1994.

Foi, no entanto, no segundo livro, “What Works on Wall Street: A Guide to the Best-Performing Investment Strategies of All Time”, que O’Shaughnessy desenhou a sua estratégia, que inclusivamente mereceu uma patente. Desde a primeira edição do livro, em 1997, a tática do guru tem evoluído até se tornar demasiado complexa para a maioria dos investidores. Por isso, o Observador não usou a versão mais recente da sua estratégia.

O método começa por excluir as ações que não tenham simultaneamente os rácios preço-vendas e preço-fluxo de caixa entre os 30% mais baixos. O rácio preço-vendas resulta da divisão da cotação da ação pela faturação anual por ação. Um rácio unitário indica que a empresa custa o equivalente às suas vendas anuais. Logo, quando mais baixo o indicador, mais barato está o título. O rácio preço-fluxo de caixa é semelhante: obtém-se dividindo a cotação pelo fluxo anual de caixa por ação.

Ao contrário do resultado líquido, que resulta da diferença entre as receitas e os custos do exercício, o fluxo de caixa mede a diferença entre os recebimentos e os pagamentos. O resultado líquido regista as operações quando são geradas, enquanto o fluxo de caixa contabiliza os movimentos de dinheiro. O’Shaughnessy diz que o fluxo de caixa é um indicador superior para os investidores.

Analisando o grupo de ações de preço-vendas e preço-fluxo de caixa baixos, retivemos apenas 60%, aquelas com a rentabilidade do dividendo mais elevada. A rentabilidade do dividendo resulta da divisão dos dividendos por ação dos últimos 12 meses pela cotação.

Na lista de ações de rácios baixos e dividendos altos, elegemos as 25 que mais valorizaram nos últimos 12 meses. O’Shaughnessy defende que este é o número mínimo para conseguir uma boa diversificação, essencial na sua estratégia bolsista.

25 ações para diversificar os riscos
Cinco títulos – Best Buy, BP, Exelon, HP e Wm Morrison Supermarkets – são repetidos da seleção do ano passado.
Empresa Rácio preço-vendas Rácio preço-fluxo de caixa Rentabilidade do dividendo Variação do preço no último ano Bolsa
AES 0,57 2,77 3,72% 28,70% Nova Iorque
Aetna 0,73 7,91 0,77% 24,41% Nova Iorque
Allstate 0,75 7,35 1,80% 12,23% Nova Iorque
Amec Foster Wheeler 0,31 8,93 4,80% 15,20% Londres
Best Buy 0,41 7,18 4,00% 59,79% Nova Iorque
BP 0,62 7,91 6,67% 37,15% Londres
Logista 0,29 7,24 3,77% 12,50% Madrid
Exelon 1,05 3,39 3,68% 28,86% Nova Iorque
HP 0,58 8,57 3,85% 32,57% Nova Iorque
Humana 0,56 6,14 0,56% 21,56% Nova Iorque
International Paper 1,05 8,67 3,28% 36,54% Nova Iorque
Kohl’s 0,57 4,63 3,28% 25,91% Nova Iorque
Macy’s 0,51 6,67 4,30% 12,04% Nova Iorque
MetLife 0,92 4,58 2,71% 16,17% Nova Iorque
Navient 1,12 3,64 3,74% 45,82% Nasdaq
NRG Energy 0,31 2,38 2,85% 23,49% Nova Iorque
Progressive 0,87 8,29 2,61% 9,98% Nova Iorque
Prudential Financial 0,79 2,47 2,63% 25,61% Nova Iorque
PVH 1,07 8,10 0,17% 35,72% Nova Iorque
Ryder System 0,67 2,89 1,97% 45,97% Nova Iorque
Seagate Technology 1,06 8,10 6,42% 10,73% Nasdaq
Tyson Foods 0,64 8,73 0,97% 17,07% Nova Iorque
Wal-Mart Stores 0,45 6,90 2,83% 18,00% Nova Iorque
Wm Morrison Supermarkets 0,33 4,61 2,26% 55,82% Londres
Fonte: Bloomberg. Variação na divisa de cotação. 9 de dezembro de 2016

Joel Greenblatt: uma pitada de fórmula mágica

Se viu “A Queda de Wall Street”, recorda-se do investidor milionário que aplicou dinheiro no fundo de Michael Burry, o personagem princial, e que, ao longo do filme, o pressiona a fechar as posições contra o mercado hipotecário? Esse personagem é baseado em Joel Greenblatt, o fundador do Gotham Capital, um hedge fund, isto é, um fundo de investimento que é alvo de pouca regulação e supervisão. O filme não é completamente fiel ao livro homónimo, do jornalista Michael Lewis. Nele, Michael Burry defende Greenblatt. Sobre o livro do guru, “You Can Be a Stock Market Genius”, Burry diz: “Detestei o título, mas gostei do livro.”

Depois dessa obra, Joel Greenblatt escreveu “Invista e Fique Rico”, em que apresenta uma “fórmula mágica” para escolher ações. Estes são os dois rácios que o guru apresenta como ideais para os investidores:

  • Rentabilidade do capital tangível. Há várias maneiras de calcular a rentabilidade do capital da sociedade, mas Greenblatt prefere dividir os resultados operacionais pelo capital tangível (capitais próprios subtraídos dos ativos não tangíveis). Uma empresa que consiga reinvestir os seus resultados a uma taxa mais elevada terá mais sucesso.
  • Rentabilidade do fluxo de caixa livre. Resulta da divisão do fluxo de caixa livre por ação dos últimos 12 meses pela cotação dos títulos. O guru prefere o fluxo de caixa ao resultado líquido, porque é menos manipulável. Quanto mais afastados os fluxos monetário por ação do preço da ação, mais barato fica o investimento.

O processo de Greenblatt cria duas listas de ações ordenadas: a primeira atribui o valor 1 à ação que tenha a rentabilidade do capital tangível mais elevada, 2 à que tenha a segunda rentabilidade mais alta e assim sucessivamente; a segunda lista dá 1 à ação com a rentabilidade do fluxo de caixa livre mais elevada, 2 à segunda com a rentabilidade mais alta, etc. Depois somam-se os valores atribuídos nas duas listas a cada ação. O investidor deve comprar as 20 ações, pelo menos, que têm as somas mais baixas. São os títulos das empresas mais rentáveis em termos de capital tangível e de fluxo de caixa livre.

Entre as 20 empresas que a fórmula mágica de Joel Greenblatt revela, uma é portuguesa: a EDP.

Uma vintena de ações mágicas
Cinco destas ações – Amgen, Gilead Sciences, Navient, Next e Oracle – mantêm-se da lista greenblattiana de 2015.
Empresa Rentabilidade do capital tangível Rentabilidade do fluxo de caixa livre Bolsa
ABB 156,33% 7,84% Zurique
Amgen 176,90% 8,14% Nasdaq
Brenntag 6.608,16% 6,59% Frankfurt
Citrix Systems 380,62% 7,10% Nasdaq
EDP 1.895,19% 16,96% Lisboa
Faurecia 310,50% 11,87% Paris
Gilead Sciences 304,42% 17,57% Nasdaq
Invesco 1.428,77% 6,50% Nova Iorque
Michael Kors 95,13% 9,98% Nova Iorque
Navient 120,85% 27,48% Nasdaq
Next 607,46% 6,30% Londres
Novo Nordisk 125,66% 9,36% Copenhaga
NRG Energy 5.411,11% 9,33% Nova Iorque
Oracle 180,03% 7,50% Nova Iorque
Software AG 259,74% 7,72% Frankfurt
Thales 1.498,24% 7,06% Paris
UbiSoft Entertainment 114,27% 18,76% Paris
United Continental 1.684,73% 13,84% Nova Iorque
Universal Health Services 165,33% 7,46% Nova Iorque
Valeo 307,74% 7,51% Paris
Fonte: Bloomberg. 9 de dezembro de 2016

John Neff: as ações desconfortáveis da sua estratégia

Embora possa ser classificado como guru, John Neff não gostava do estrelato. O gestor dizia que o fundo que geria, o gigantesco Vanguard Windsor, era “relativamente banal, aborrecido e conservador”, apesar de os resultados oferecidos aos subscritores serem o oposto: ganhou cerca de 13,7% por ano durante a liderança de Neff.

Neff gostava de investir em empresas e setores em crise e, por isso, dizia que comprava “ações desconfortáveis”. O gestor defendia que o rácio preço-lucros (P/L), que resultada da divisão da cotação da ação pelos lucros que lhe são atribuídos, é um bom indicador, mas que poderia ser melhorado. Por isso, usava o rácio P/L ajustado pelo retorno total.

“Somos investidores de P/L baixo. Mas as ações têm de produzir um retorno total, que defino como a taxa de crescimento dos lucros mais a rentabilidade do dividendo. Gostamos de pagar cerca de metade em P/L relativamente ao retorno total. Isto significa que uma ação com um crescimento dos lucros de 10% e uma rentabilidade do dividendo de 4% – um retorno total de 14% – valeria cerca de sete vezes os lucros estimados”, disse à revista Kiplinger’s em março de 1994.

Na prática, o P/L ajustado pelo retorno total, que resulta da divisão do P/L pela soma do crescimento esperado dos lucros e da rentabilidade do dividendo (dividendos de 12 meses a dividir pela cotação), deveria ser, no máximo, 0,5, segundo John Neff.

Embora o P/L ajustado fosse a sua principal métrica, o guru tinha outros indicadores na sua lista de preferências. Usando os ensinamentos em “John Neff on Investing”, o único livro que publicou até hoje, o Observador desenhou os seguintes critérios para buscar ações neffianas:

  • Rácio P/L ajustado pelo retorno total inferior à unidade. Neff reconhecia que era difícil limitar a métrica a 0,5, por isso o Observador aumentou o nível até 1. Depois de ouvir analistas e outros especialistas, Neff traçava as suas próprias estimativas de crescimento dos lucros, muitas vezes com base também nas suas previsões macroeconómicas. Optámos por usar as estimativas médias dos analistas do mercado para a taxa de crescimento dos lucros nos próximos três a cinco anos.
  • Fluxo de caixa livre positivo nos últimos 12 anos. É fundamental que a empresa esteja a produzir dinheiro.
  • Margem operacional nos últimos 12 meses acima da média do setor. Uma margem operacional acima da média mostra que a firma está a trabalhar confortavelmente. Mede a percentagem da faturação que chega aos resultados operacionais.
  • Rentabilidade do capital próprio acima da média do setor. Este rácio resulta da divisão dos lucros de 12 meses pelos capitais próprios. Indica a percentagem dos capitais próprios gerados anualmente em lucros.
  • Taxa anual de crescimento das vendas de, pelo menos, 7% nos últimos cinco anos. Neff procura firmas que consigam aumentar os seus mercados todos os anos.
  • Taxa estimada de crescimento dos resultados líquidos no longo prazo de, pelo menos, 7%. Neff fazia as suas próprias estimativas. Usámos a média do analistas que acompanham as ações. Por vezes, o guru limitava o crescimento a 20% por ano.

Estas regras são muito restritivas: encontraram apenas quatro ações entre as mil que investigámos.

Mais uma carteira com poucas ações
Tal como as recomendações à William O’Neil e à Martin Zweig, a carteira neffiana tem poucos títulos: apenas quatro títulos passam nos seus critérios.
Empresa P/L ajustado pelo retorno total Margem operacional Rentabilidade do capital próprio Crescimento anual das vendas (5 anos) Estimativa de crescimento anual dos lucros (3 a 5 anos) Bolsa
Pandora 0,74 37,27% 96,55% 24,32% 23,13% Copenhaga
Plastic Omnium 0,74 9,23% 22,03% 7,47% 20,60% Paris
Skyworks Solutions 0,94 34,94% 29,70% 17,20% 15,56% Nasdaq
Vestas Wind Systems 0,93 14,92% 31,26% 20,16% 12,11% Copenhaga
Fonte: Bloomberg. 9 de dezembro de 2016

David Dreman: os títulos que remam contra a maré bolsista

Um investidor no contrário “é uma forma de investidor em valor, em que tendemos a comprar ações com os rácio preço-lucros mais baixos (…) ou também podemos usar o rácio preço-valor contabilístico ou preço-fluxo de caixa ou, mesmo, a rentabilidade do dividendo”, explicou David Dreman à revista Forbes em 2012. “Têm sido feitos muitos estudos que remontam até à década de 1930 que mostram que [estratégias de] baixo preço-lucros e baixo preço-valor contabilístico têm desempenhos superiores ao mercado em cada década desde, penso, 1940”, concluiu.

Com 80 anos, David Dreman continua a gerir dinheiro seguindo a filosofia do investimento no contrário. É fácil saber no que está a investir no guru. É possível analisar a informação das carteiras da Dreman Value Management, a sociedade gestora que fundou em 1977: as mais recentes compras foram de ações da Manulife Financial, Magna International e CVS Health, de acordo com o Guru Focus. Também é possível ler recomendações que Dreman escreve na edição norte-americana da revista Forbes: Apple, Cisco Systems, PNC Financial Services e Wells Fargo são sugestões no artigo que sairá na edição do próximo dia 20 de dezembro, quando o guru desaconselhará o investimento no mercado obrigacionista.

Todavia, como a vida profissional de David Dreman está focada no mercado dos Estados Unidos da América, o Observador prefere aplicar diretamente os seus ensinamentos – escreveu cinco livros desde 1977 – às mil empresas europeias e norte-americanas. Estes são os critérios:

  • O rácio preço-lucros, que resultada da divisão da cotação pelo lucro por ação nos últimos 12 meses, está entre os 30% mais baixos. Atualmente, esta condições impede a seleção de ações com indicadores superiores a 15,80.
  • O rácio preço-valor contabilístico, que se obtém dividindo a cotação pelo último valor contabilístico unitário conhecido, está entre os 30% mais baixos. Não se escolheram títulos com rácios superiores a 1,78.
  • O rácio preço-fluxo de caixa livre, que divide a cotação pelo fluxo de caixa livre por ação dos últimos 12 meses, está entre os 30% mais baixos. Evitaram-se as ações com esta métrica superior a 14,07.
  • A taxa de rentabilidade dos dividendos, que se calcula dividindo os dividendos por ação dos últimos 12 meses pela cotação, está entre os 30% mais altos. Todas as ações escolhidas têm taxas superiores a 3,28%.
  • O grau de endividamento, o rácio entre o passivo e os capitais próprios, é inferior à média da indústria.
  • O lucro estimado pelos analistas de mercado para o ano corrente é superior ao lucro obtido no último ano fiscal e o lucro estimado para o próximo ano é superior ao lucro estimado para o ano corrente.

Embora Dreman esteja mais voltado para os EUA, o Observador apenas encontrou uma ação dremaniana nesse mercado, a Staples. É, no entanto, um título que o guru efetivamente adquiriu para as carteiras que gere. As restantes sete são europeias.

Pouca diversificação setorial
Metade das ações à David Dreman são do setor dos seguros: Axa, CNP Assurances, Old Mutual e Talanx. Além disso, outras três – Acea, Enel e Hera – são companhias italianas de serviços básicos. A concentração representa um risco acrescido. As ações da Old Mutual e da Staples mantêm-se das recomendações de 2015.
Empresa Preço-lucros Preço-valor contabilístico Preço-fluxo de caixa livre Taxa de rentabilidade dos dividendos Grau de endividamento Bolsa
Acea 10,38 1,38 5,83 4,92% 171,01% Milão
Axa 9,92 0,85 3,85 4,51% 14,62% Paris
CNP Assurances 11,58 0,83 1,68 4,28% 23,70% Paris
Enel 13,67 1,15 10,26 4,04% 89,85% Milão
Hera 15,29 1,29 5,28 4,40% 127,30% Milão
Old Mutual 15,12 1,34 1,73 4,55% 42,79% Londres
Staples 10,82 1,40 11,22 4,80% 22,49% Nasdaq
Talanx 9,10 0,89 1,53 4,12% 23,95% Franfurt
Fonte: Bloomberg. 9 de dezembro de 2016

David Almas é analista financeiro independente registado na CMVM com o número oito. O autor trabalha subordinado ao Código Deontológico dos Jornalistas.