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Há um ano, Mark Zuckerberg fez uma revelação surpreendente: não só a dona do Facebook queria fazer uma viragem para o metaverso como, para refletir essa vontade, estava disposta a mudar de nome para Meta. A mudança de nome só não foi uma surpresa maior porque o site norte-americano The Verge avançou estes planos, cerca de uma semana antes do anúncio oficial. “Deram-nos muito trabalho”, confessou em entrevista ao The Verge, divulgada após o final do evento Meta Connect.

Um ano depois e já a operar enquanto Meta, a gigante das redes sociais pode estar num ponto mais agitado para o negócio, com a inflação e o abrandamento das receitas a pesar, mas Zuckerberg continua a demonstrar o mesmo entusiasmo pelo metaverso.

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No Meta Connect, o evento dedicado à realidade virtual (e agora ao metaverso), Zuckerberg voltou a enfrentar os mais céticos em relação a estes planos. E tirou uma carta do bolso: uma parceria de peso com outra grande tecnológica, a Microsoft. As palavras do fundador e CEO da gigante de redes sociais, proferidas há um ano, cumpriram-se: realmente o metaverso é algo “demasiado grande” para se fazer sozinho.

Mas nem só de demonstrações de que tem aliados no metaverso se fez esta apresentação. Também houve tempo para revelar um novo e bem mais dispendioso headset de realidade virtual, que também promete experiências de realidade mista.

E, tal como aconteceu na apresentação do ano passado, Zuckerberg também fez uma parte da apresentação já enquanto avatar no metaverso. Aliás, foi possível ver três versões do CEO da Meta nesta apresentação: o real, o avatar de segunda geração e ainda em modo de avatar codec, quase tão realista e com a mesma expressividade do original.

A versão mais realista do avatar de Zuckerberg.

Um headset de realidade mista que custa quase quatro vezes do que o antecessor

Depois de vários meses a partilhar vídeos e a deixar pistas sobre um novo headset de realidade virtual, conhecido pelo nome de código Project Cambria, está oficializado o novo equipamento da Meta para esta área.

Na apresentação, Zuckerberg precisou de alguma solenidade para o momento – afinal, uma boa parte desta aposta no metaverso está dependente de se ter um equipamento capaz de acompanhar as necessidades gráficas dos planos mais ambiciosos.

“Isto é o Meta Quest Pro. É o primeiro da nova linha de headsets avançados, construídos para ampliar o que é possível em realidade virtual”, explicou o fundador da Meta. É assumido pela empresa que este equipamento é uma linha topo de gama – especialmente no preço. Já era esperado um equipamento mais caro do que o Quest 2, muito devido ao anúncio da empresa de que iria subir preços dos equipamentos de realidade virtual.

Mas o Quest Pro é significativamente mais caro: nos Estados Unidos, vai custar cerca de 1.500 dólares, quase quatro vezes mais do que o antecessor, que custa cerca de 400 dólares. Nos mercados europeus, vai ser ainda mais caro, nos 1.799 euros. As pré-vendas arrancam esta terça-feira, com o equipamento a ficar disponível a 25 de outubro. Portugal fica de fora desta lista de disponibilidade, que no mercado europeu inclui países como Áustria, Bélgica, França, Itália ou Espanha.

O que tem este equipamento para justificar valores desta ordem? É o primeiro do género a usar um processador Qualcomm Snapdragon XR2+, que é otimizado para realidade virtual e promete ser 50% mais poderoso em comparação com o headset anterior. O Quest Pro chegará com 12 GB de RAM e 256 GB de armazenamento. As lentes foram desenvolvidas para serem mais finas e os ecrãs LCD prometem imagens mais nítidas. Estes óculos também foram redesenhados para serem mais ergonómicos, promete a empresa.

Os novos Meta Quest Pro.

Nas câmaras e sensores (são 10 sensores de alta resolução, cinco no interior e cinco no exterior) há outra novidade, algo que a empresa chamou de Expressões Faciais Naturais. A ideia é que o avatar, a representação do utilizador em realidade virtual, consiga replicar os gestos que são feitos pelo utilizador no mundo real. Se sorrir ou fizer um movimento com o nariz, o avatar vai reproduzi-lo.

Este equipamento vai também permitir ajustar a distância a que as lentes estão dos olhos, o que poderá dar alguma margem de manobra e conforto aos utilizadores mais exigentes. E, já que também tem a componente de realidade mista, onde se mistura realidade virtual com aumentada, o equipamento não deixa o utilizador completamente isolado. Ou seja, pode continuar a usar a visão periférica para perceber o que se passa à sua volta e fazer coisas no mundo real e virtual. Quando for para jogar e ter a experiência mais tradicional e imersiva de realidade virtual, haverá um acessório para bloquear a luz.

Há também novidades nos comandos. Há sensores em cada um dos comandos para ter uma ideia da posição espacial das mãos, que será independente da posição do headset. Há a particularidade de estes novos comandos, que prometem ser mais precisos, poderem ser usados com o headset anterior – a questão é que um par custará 300 dólares, quase tanto quanto um Quest 2.

Mais jogos a caminho do Meta Quest 2

A empresa de Zuckerberg garante que, com a existência do Quest Pro, o dispositivo anterior continuará a ter novidades. Houve vários anúncios de jogos a chegar em breve, como “Iron Man VR”, a 3 de novembro, ou ainda o popular “Among Us” em realidade virtual, a 10 de novembro.

Já em dezembro, chegará “The Walking Dead: Saints & Sinners – Chapter 2: Retribution”, ainda sem data concreta.

Ainda na área do entretenimento, a empresa anunciou uma parceria com a NBCUniversal, que quer fazer chegar experiências imersivas de alguns dos maiores fenómenos televisivos, como “The Office”, à realidade virtual. Não foram apresentados pormenores, mas já é o suficiente para ficar a pensar numa visita à Dunder Mifflin em realidade virtual. Através da parceria, o Peacock, o serviço de streaming da NBC, também vai chegar aos Quest.

Uma parceria de peso com a Microsoft

Satya Nadella, o CEO da Microsoft, foi um convidado inesperado nesta apresentação. A Meta e a Microsoft firmaram uma parceria para colaborar no metaverso. Afinal, ambas estão a tentar trabalhar nesta área: a Meta quer tanto o entretenimento como a produtividade, enquanto os esforços da dona do Windows estão mais virados para a área do trabalho. No caso da Microsoft, a multimilionária aquisição da Activision Blizzard está também ligada a estes esforços para o metaverso. Afinal, quem melhor do que uma empresa que cria mundos nos jogos para ajudar a desenhar o metaverso?

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A parceria anunciada agora vai ter efeitos concretos, através da chegada de alguns dos principais serviços da Microsoft aos equipamentos Quest. É um “casamento” em que ambas as partes têm a ganhar: enquanto a Microsoft leva o Teams,  Windows, Office ou mesmo o Cloud Gaming da Xbox para os equipamentos da Meta, a dona do Facebook ganha um aliado relevante para os ambiciosos planos do metaverso.

O momento do anúncio da parceria entre a Meta e a Microsoft.

“Estamos a levar a experiência imersiva do Microsoft Teams para o Meta Quest, de forma a dar às pessoas novas formas de se ligarem umas às outras”, explicou Satya Nadella, CEO da Microsoft. A experiência do Teams nos equipamentos de realidade virtual até vai incluir a possibilidade de usar o avatar.

Também vai ser possível entrar em reuniões do Teams diretamente a partir do Workrooms da Meta, a experiência desenvolvida pela empresa de Zuckerberg para a área das reuniões no metaverso. Outra das novidades foi a transição dos avatares da Meta também para outro serviço de videoconferência, o Zoom.

Até aqui, a Microsoft tem alinhado as suas apostas para o metaverso com um uso profissional, mas esta parceria vai permitir que o serviço da Xbox Cloud Gaming chegue aos equipamentos da Meta. Não será a mesma experiência, é certo, mas será possível recorrer a um comando da Xbox para, por exemplo, ter o jogo mesmo à frente dos olhos e em realidade virtual.

Mas há um terceiro vértice nesta aliança: a Accenture. Julie Sweet, a CEO da empresa, explicou que o trio vai colaborar para mostrar às empresas o que é possível fazer com o metaverso. “Esta colaboração é uma oportunidade muito entusiasmante para as nossas três empresas”, detalhou Julie Sweet.

O metaverso e o conceito de gémeos digitais tem sido muito falado para usos empresariais. Nesse sentido, a Meta a criação do Quest for Business, que será lançado no próximo ano, com um pacote de assinatura para Meta Quest 2 e Meta Quest Pro. O serviço vai incluir recursos administrativos, como a gestão de dispositivos e aplicações.

A próxima geração de avatares quer ser mais realista e vai ganhar pernas

A representação gráfica dos utilizadores no Horizon Worlds da Meta tem sido alvo de críticas pelo visual mais simplista. Zuckerberg já tinha prometido mudanças nesta área, com avatares mais detalhados e expressivos, que escolheu revelar no Meta Connect.

Em jeito de resposta às críticas, Mark Zuckerberg fez parte da apresentação no metaverso, já com um avatar bem mais detalhado. Vêm aí os avatares de nova geração, mais realistas e expressivos. E há ainda outra novidade – vão ganhar pernas. Até aqui, os avatares apresentados nos serviços da Meta só tinham tronco e braços, parecendo que “flutuavam” no espaço.

Zuckerberg na nova geração de avatares.

A partir da próxima geração, vão ser avatares de corpo inteiro, já com pernas. E Zuckerberg reconhece que fazer as pernas “é difícil, o que faz com que outros sistemas de realidade virtual também não as tenham”, mas que poderá ser uma forma de fazer com que os utilizadores estejam mais dispostos a embarcar nesta aventura do metaverso.

Não há ainda data concreta para a chegada das pernas aos avatares, mas é já sabido que chegarão primeiro à plataforma Horizon. Na transmissão, foi possível ver os avatares a saltar ou a dar pontapés no ar, mas vale a pena lembrar que isto foi uma apresentação gravada e só quando chegar à mão dos utilizadores é que será possível perceber se realmente são o tal avanço prometido por Zuckerberg.

Ainda nos avatares, a Meta quer que ganhem maior presença noutros produtos da empresa, nomeadamente nos vídeos curtos do Reels ou no Messenger.

No fecho da apresentação do evento deste ano, Mark Zuckerberg reconheceu que estes ainda são os primeiros passos do metaverso, mas explica que a forte aposta na componente social está ligada à missão da empresa. “A razão pela qual estamos nisto é porque pode deixar os utilizadores mais próximos de outras pessoas. É o ADN da nossa companhia.” E aproveitou para deixar um recado à Apple, que tem “um sistema fechado”: “Os sistemas abertos criam valor e crescimento para muitas empresas.”

Volta ao metaverso. Quem quer ditar tendências num mundo digital onde já se compram casas e moda de luxo?