- O que é a insónia?
- Qual a relação entre insónia e doença mental?
- E a insónia pode ser considerada uma perturbação mental?
- Diferentes perturbações mentais estão associadas a diferentes tipos de insónia?
- Quais são os fatores de risco para insónias?
- O tipo de personalidade pode influenciar a insónia?
- O que podemos fazer para prevenir insónias?
- E qual o tratamento?
Explicador
- O que é a insónia?
- Qual a relação entre insónia e doença mental?
- E a insónia pode ser considerada uma perturbação mental?
- Diferentes perturbações mentais estão associadas a diferentes tipos de insónia?
- Quais são os fatores de risco para insónias?
- O tipo de personalidade pode influenciar a insónia?
- O que podemos fazer para prevenir insónias?
- E qual o tratamento?
Explicador
O que é a insónia?
A insónia é uma queixa subjetiva de insatisfação com a quantidade e/ou qualidade do sono e que acontece mesmo quando há oportunidade e condições adequadas para dormir.
Toda a gente tem esporadicamente uma insónia, associada a um dia complicado ou a um comportamento pouco favorável ao sono — como beber demasiado café. Estas situações, se pontuais, não são um problema.
Qual a relação entre insónia e doença mental?
Causa e consequência: a insónia pode conduzir a uma perturbação mental e ter uma perturbação mental pode dar origem a insónias.
Por um lado, quando há um problema de insónia persistente surgem outros sintomas que põem a saúde mental em risco, explica o psiquiatra e somnologista (especialista em medicina do sono) Hugo Canas Simião, “nomeadamente, alterações na atenção, na retenção de novas memórias, instabilidade emocional, maior impulsividade, sonolência diurna, menos motivação, falta de energia e diminuição da performance a diversos níveis, quer profissional quer nas relações pessoais”.
Muitas vezes, ao surgir uma insatisfação e preocupação com o próprio sono, isso conduz a que a noite e o ir dormir passem a ser um fator de stress, contribuindo ainda mais para a insónia. “Quando isto acontece, falamos de uma perturbação de insónia – anteriormente designada por insónia primária – e, quando não tratada, pode mesmo levar a uma doença mental, como a depressão”, diz o psiquiatra.
Por outro lado, quando surge uma doença mental, seja a depressão ou outra, “ocorrem alterações neuronais e nas vias de neurotransmissão (como o GABA, a serotonina, a dopamina ou a noradrenalina, por exemplo), que estão associados às vias que regulam o sono e a vigília e que, consequentemente, podem levar a que um dos sintomas seja a insónia”.
E a insónia pode ser considerada uma perturbação mental?
Pode, quando deixa de ser um problema pontual e passa a ser considerada uma perturbação. O Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, contempla o diagnóstico de Perturbação de Insónia perante alguns critérios:
- Insatisfação com a quantidade ou a qualidade do sono, que pode passar pela dificuldade em iniciá-lo (insónia inicial), em mantê-lo (insónia intermédia) e/ou no despertar antes do horário habitual (insónia terminal);
- As queixas causam sofrimento significativo e prejuízo funcional;
- Ocorre pelo menos três noites por semana durante, no mínimo, três meses;
- As dificuldades surgem apesar de haver oportunidades adequadas para dormir;
- A insónia não pode ser explicada por outra perturbação do sono (como a apneia) ou pelos efeitos de uma substância;
- Mesmo que haja outras perturbações mentais ou condições médicas, elas não explicam satisfatoriamente a queixa predominante de insónia.
Diferentes perturbações mentais estão associadas a diferentes tipos de insónia?
Sim. Por norma, as perturbações da ansiedade estão mais relacionadas com insónia inicial — a dificuldade em adormecer — e as perturbações depressivas relacionadas com a insónia terminal — o despertar precoce sem conseguir voltar a dormir.
“No primeiro caso, parece ser claro que, havendo um estado difuso de medo e tensão, haja um alerta que impede o relaxamento e, assim, o início do sono”, explica o psiquiatra.
Já a relação entre a depressão e a insónia terminal é mais complexa e há várias explicações possíveis, mas, uma das mais aceites prende-se com uma desregulação no sono REM (Rapid Eye Movement), essencial no processamento de emoções e na preparação do sistema nervoso central para a vigília. “Na depressão, o sono REM tende a estar aumentado e a chegar mais cedo na noite do que habitualmente”, refere o psiquiatra. “Outra explicação sugere uma desregulação na neurotransmissão em fatores comuns à doença mental e ao sono.”
Quais são os fatores de risco para insónias?
Além das doenças físicas e mentais, há muitos fatores que aumentam o risco de insónia. Muitos não são modificáveis, explica o psiquiatra: trata-se de questões hereditárias, ser mulher ou idoso.
Outros fatores de risco estão relacionados com hábitos e comportamentos, nomeadamente fumar, consumir estimulantes (como café, alguns tipos de chá ou bebidas energéticas), pouca atividade física e ter maus comportamentos, como “a irregularidade nos horários, o tempo em excesso na cama ou sestas durante o dia”.
O tipo de personalidade pode influenciar a insónia?
Sim. “Um dos aspetos importantes em relação ao sono é a nossa capacidade limitada de o controlar — apesar de conseguirmos controlar fatores que o promovem ou inibem”, diz Hugo Canas Simião. Esta falta de controlo pode ser difícil de tolerar para pessoas com certas características de personalidade, “nomeadamente com maior perfecionismo, assim como personalidades mais ansiosas”. Depois entra-se num ciclo: esta necessidade de tentar controlar o sono “só irá aumentar o nosso estado de alerta, em vez de o diminuir”, levando a mais insónia.
O que podemos fazer para prevenir insónias?
“O exercício físico é um dos melhores aliados para um sono profundo”, diz o psiquiatra. Sendo que deve ser feito durante o dia, e não antes de ir para a cama.
Além disso, há uma série de comportamentos que podem ser implementadas: evitar substâncias estimulantes, como o tabaco e a cafeína; não beber bebidas alcoólicas antes de dormir; manter horários de sono constantes todos os dias; não ficar na cama se não se conseguir dormir; evitar sestas durante o dia; não usar ecrãs à noite e ter rotinas relaxantes antes de deitar, como ler um livro, tomar um banho quente ou fazer um exercícios de meditação.
E qual o tratamento?
A primeira abordagem de tratamento — e aquela “com mais evidência de segurança e de eficácia”, explica o psiquiatra Hugo Canas Simião — é a terapia cognitivo-comportamental. Este é um tipo de psicoterapia que inclui um conjunto de técnicas específicas, que podem ser personalizadas, como “medidas de higiene do sono, relaxamento, reestruturação cognitiva [processo que permite identificar e contestar pensamentos disfuncionais]”, sendo que, em alguns casos, “pode incluir períodos de restrição de sono”.
Quando esta abordagem é insuficiente, o médico pode prescrever medicação. “Dependendo da condição associada à insónia, vários fármacos com ação sedativa — como as benzodiazepinas, antidepressivos e antipsicóticos — podem estar indicados.” Nestes casos deve haver sempre um plano definido entre médico e paciente que aborde “riscos e benefícios da medicação, objetivos ou tempo de tratamento, procurando equilibrar sempre os efeitos da medicação com o melhor interesse da pessoa e a sua saúde física e mental”.
Nos casos em que há uma doença que dá origem à insónia, seja ela física ou mental — como hipertireoidismo, problemas respiratórios ou dor crónica —, é preciso tratar a doença.