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O que é a Perturbação da Personalidade Dependente (PPD)?

A personalidade é o conjunto de características de uma pessoa — a sua forma habitual de pensar, sentir e comportar-se. Ora, as perturbações da personalidade correspondem a um grande desvio em relação aos padrões habituais, que fazem com que a pessoa tenha dificuldade em relacionar-se com os outros e seja pouco funcional.

No caso da Perturbação da Personalidade Dependente (PPD), que faz parte do grupo de perturbações de personalidade de tipo ansioso e/ou emocionalmente instável, a pessoa tem uma necessidade excessiva de atenção, de ser guiada e cuidada pelos outros, com tendência a ser muito submissa para conseguir isso.

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Mas são muito mais dependentes do que o habitual?

Sim, muito mais.

Em vez de terem o apego saudável que todos sentimos por algumas pessoas, sentem um apego que é excessivo e muito disfuncional, acompanhado de baixa autoestima e de um medo intenso de abandono.

“A dependência começa a comprometer de forma significativa a autonomia e o funcionamento saudável do indivíduo e impede a pessoa de viver de forma independente”, diz a psicóloga clínica Dénis Valéria Sousa.

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Que tipo de comportamento tem alguém com esta perturbação?

A necessidade excessiva de se ser cuidado ou ajudado e a extrema dependência dos outros leva a um conjunto de comportamentos muito típico desta perturbação. Dénis Valéria Sousa destaca os seguintes:

  • Grande dificuldade em tomar decisões sozinho, mesmo sobre banalidades do dia a dia, sem uma quantidade excessiva de conselhos e sugestões dos outros;
  • Procura constante de aprovação e de garantias dos outros, causada pelo medo acentuado de abandono e rejeição;
  • Grande relutância em iniciar projetos ou tarefas, devido à falta de autoconfiança e ao medo de não ser capaz de lidar com os desafios ou dificuldades;
  • Tendência para se submeter às vontades de outras pessoas, mesmo que isso vá contra os seus próprios desejos ou necessidades;
  • Muita dificuldade em discordar das opiniões ou convicções dos outros, por medo de represálias ou abandono.
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Quais são as causas da personalidade dependente? 

Como acontece com quase todas as perturbações mentais, a PPD resulta da combinação de fatores ambientais e genéticos, nomeadamente hereditários. Ou seja, está relacionada com o ambiente em que se cresce e com algumas questões que poderão ser herdadas.

“Indivíduos com histórico familiar de perturbações de personalidade podem ter um risco aumentado e traços de personalidade herdados, como timidez extrema ou comportamento ansioso desde a infância, e podem fazer com que tenham alguma predisposição a desenvolver PPD”, explica Dénis Valéria Sousa.

Mas o ambiente em que a criança cresce e é educada também parece ter um papel importante. As pessoas que são criadas em ambientes excessivamente protetores ou autoritários podem ter dificuldade em desenvolver competências relacionadas com a sua autonomia, o que aumenta o risco de PPD.

E algumas experiências traumáticas, como o abandono, a rejeição ou uma perda significativa durante a infância, podem levar a um medo profundo de abandono e à necessidade de apoio constante que sentem as pessoas com esta perturbação.

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Mas não somos todos um pouco dependentes uns dos outros?

Sim. Todos sentimos apego pelas pessoas que amamos e precisamos de nos sentir apoiados, valorizados e amados. Mas essa dependência é considerada saudável, “na medida em que não afeta o nosso funcionamento nem condiciona o nosso dia a dia”, explica a psicóloga.

Ou seja, “as pessoas com este apego saudável são capazes de tomar decisões e cuidar de si mesmas, mesmo que em determinados momentos procurem apoio nos outros”. O suporte emocional existem mas ninguém depende de ninguém de forma exclusiva, tendo uma autoestima positiva e encontrando-se “segura das suas competências, independentemente da opinião e validação constante dos outros”.

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Com que idade se manifesta esta perturbação? 

Um diagnóstico formal de PPD é geralmente reservado para pessoas a partir dos 18 anos.

Na infância é natural que haja comportamentos de dependência em relação aos cuidadores, mas isso é quase sempre natural, porque as crianças ainda estão a desenvolver a autonomia e são, efetivamente, dependentes dos adultos.

Durante a adolescência, quando se começam a consolidar os traços de personalidade, ao mesmo tempo que é esperada mais autonomia, há alguns adolescentes nos quais já se pode “observar uma maior necessidade de aprovação dos pares e dos pais, mas isso ainda pode estar dentro da faixa normal do desenvolvimento”, explica a psicóloga clínica.

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Esta perturbação tem tratamento? 

Esta é uma perturbação da personalidade — e não apenas do humor, como a depressão ou a ansiedade — e a personalidade tende a ser relativamente estável ao longo da vida.

Apesar disso, a PPD tem tratamento e a psicoterapia é a abordagem mais eficaz, com consultas regulares com um psicólogo ou psiquiatra. “O suporte farmacológico [medicação] também é importante, mas não é a principal forma de tratamento”, diz a psicóloga clínica. “O grande objetivo é que a pessoa desenvolva maior independência, autoestima e competências pessoais e sociais.”

As três abordagens psicoterapêuticas com mais resultados comprovados, de acordo com a especialista, são a Terapia Cognitivo Comportamental (que vai ajudar a identificar pensamentos negativos e distorcidos e a modificar comportamentos dos dependentes), a Terapia Dialética Comportamental (que ajuda o doente a adquirir competências de regulação emocional, a lidar com a ansiedade e com o medo de abandono) e a Terapia Psicodinâmica (que permite a exploração das experiências passadas e dos relacionamentos que o paciente teve em criança com os seus cuidadores e que podem ter contribuído para a dependência).

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Como ajudar alguém com esta perturbação?

“Ajudar alguém com PPD requer paciência, empatia e conhecimento, de forma a seguir um plano estruturado para incentivar a independência”, diz a psicóloga.

“Em vez de resolver os problemas da pessoa”, o que só reforça o padrão de dependência que já tem, é importante motivá-la a tomar as suas próprias decisões gradualmente, elogiando-a quando o consegue fazer. “É essencial também o incentivo para procurar ajuda profissional.”

Mas as pessoas próximas, sobretudo aquelas de quem a pessoa se sente mais dependente, devem também saber estabelecer limites. “Quem ajuda deve proteger a sua própria saúde mental e bem-estar, estabelecendo limites claros, praticando o autocuidado e mantendo redes de suporte, social e emocional”, para não ficar demasiado envolvida na dependência do outro.