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O que é a psicoterapia?

É um tipo de intervenção na qual, através da relação e do diálogo, o psicoterapeuta e o paciente trabalham em conjunto para identificar e melhorar questões relacionadas com o bem-estar psicológico do doente. Na prática, traduz-se numa série de consultas em que ambos conversam sobre o que afeta o paciente e procuram um caminho para esse bem estar.

“A psicoterapia não inclui medicamentos e o foco são os pensamentos, emoções e comportamentos da pessoa, em particular aqueles que causam problemas”, resume Alexandre Vaz, doutorado em psicologia clínica, investigador e docente na Sentio Counseling Center, na Califórnia (EUA). “Estes pensamentos negativos, emoções desreguladas e comportamentos desadaptados deixam frequentemente as pessoas presas num ciclo vicioso. A psicoterapia tenta interromper esse ciclo e co-construir outros mais adaptados.”

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Então, que tipo de questões trata a psicoterapia?

A psicoterapia intervém sobretudo em problemas comportamentais, emocionais, cognitivos ou relacionais. Pode ajudar com questões como a depressão, a ansiedade e o trauma, mas também com perdas, mudanças de hábitos, problemas nas relações ou uma sensação de falta de sentido.

As intervenções são amplas porque, para as ciências psicológicas, mais importante do que o evento em si, é a forma como ele é vivido e interpretado por cada um. “O fim de uma relação amorosa, por exemplo, pode ser interpretado por uma pessoa como ameaçador, criando uma ansiedade intensa e pensamentos como ‘agora vou ficar sozinho para sempre’. Outra pessoa poderá passar pelo fim de uma relação com alívio, por ficar disponível para procurar outra relação mais satisfatória. O evento é o mesmo, mas as emoções e interpretações podem ser radicalmente diferentes, sendo umas tendencialmente mais adaptativas do que outras”, explica Alexandre Vaz.

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Isso quer dizer que posso beneficiar de psicoterapia sem ter uma doença ou perturbação mental?

Sim. A intervenção psicológica não serve apenas para tratar a doença, mas também para manter a saúde. “Há quem procure psicoterapia por estar em sofrimento e já com dificuldades em manter uma relação, um emprego ou ter estabilidade emocional. No outro extremo, há pessoas que usam a psicoterapia como uma forma de desenvolvimento pessoal”, refere Alexandre Vaz.

A intervenção pode ser benéfica para quase toda a gente, em vários níveis. O psicoterapeuta exemplifica com a ansiedade: “Há pessoas que têm uma perturbação de ansiedade social ao ponto de não conseguirem sair de casa, estabelecer contacto visual ou dar um aperto de mão. Mas quem não tem esta perturbação também sente ansiedade social em certos contextos. Se tiver de fazer uma apresentação para 300 pessoas, por exemplo”. A gravidade, a intensidade e o impacto das duas situações são diferentes, mas ambas podem ser trabalhadas em psicoterapia.

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Qual é a diferença entre um psicólogo, um psicólogo clínico e um psicoterapeuta?

Um psicólogo é um profissional com formação e experiência profissional em Psicologia e, para alguém se intitular psicólogo, tem de estar registado como Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Mas, sendo a psicologia um campo muito vasto, foram criadas especialidades que reconhecem competências em áreas específicas.

Três são especialidades gerais: Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações e Psicologia da Educação. O psicólogo pode exercer sem especialidade, mas, de acordo com a Ordem, “o título de Especialista reconhece que o/a psicólogo/a possui a formação e experiência necessária para intervenção numa área específica da Psicologia”. Assim, um Psicólogo Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde (um psicólogo clínico) é alguém que está reconhecido como apto para fornecer respostas especializadas nessa área, pelo seu conjunto de competências e percurso profissional.

Além das três especialidades gerais, a Ordem reconhece ainda 12 especialidades avançadas, sendo uma delas a Psicoterapia, para quem tenha feito mais formação numa das 24 associações ou sociedades profissionais protocoladas ou tiver elementos curriculares e/ou experiência profissional equivalentes. Através do diretório de membros, no site da Ordem dos Psicólogos Portugueses, é possível confirmar se o profissional em questão é psicólogo, ou seja, se está inscrito na Ordem, e as suas especialidades gerais e avançadas, caso as tenha.

Há também outros profissionais de saúde, como médicos psiquiatras, que têm formação em psicoterapia, sendo, assim, psiquiatras e psicoterapeutas.

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O que esperar da primeira sessão?

Geralmente, as primeiras sessões servem para o terapeuta e o cliente se conhecerem e perceberem se querem trabalhar juntos, para o paciente falar sobre os seus sintomas, objetivos, preocupações ou motivação para iniciar psicoterapia e, também, para serem esclarecidas algumas questões como a confidencialidade, o valor, frequência e forma de pagamento das consultas e a política de cancelamentos e remarcações.

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Como é que eu sei o que devo dizer?

O tempo das sessões é do paciente. Pode usá-lo para falar do que lhe parecer mais importante, que será necessariamente diferente de pessoa para pessoa. Pode falar de tudo, mas não há temas obrigatórios e não precisa de falar sobre assuntos que não queira abordar.

Alguns dos assuntos frequentes em psicoterapia são as emoções, sobretudo as mais difíceis, como a tristeza, zanga ou ansiedade; o que sente perante episódios de vida; as relações familiares ou desafios profissionais; a maneira como algum acontecimentos da história pessoal ainda o marcam ou condicionam; os seus pensamentos sobre alguns temas ou a maneira como se comporta em algumas situações. Não se preocupe: o psicoterapeuta, com base na avaliação do que vai ouvindo, também sabe encaminhar a conversa de forma a explorar aquilo que lhe parece mais relevante.

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E quanto tempo vai durar o processo?

A duração do processo é muito variável, dependendo da problemática em questão ou dos objetivos que vão sendo definidos. Há processos muito breves (de seis a dez sessões, quando a pessoa está focada na resolução de um problema muito específico), outros podem durar muitos anos, sendo que a decisão de continuar ou interromper é sempre do paciente.

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Toda a psicoterapia é igual?

Existem centenas de tipos de psicoterapia diferentes, mas Alexandre Vaz explica que a maioria enquadra-se em quatro grandes modelos teóricos: abordagens Cognitivo-Comportamentais, abordagens Psicodinâmicas ou Psicanalíticas e abordagens Humanistas, Existenciais ou Experienciais. Além disso, há também Terapia Familiar e Intervenção Sistémica, que se distingue por trabalhar com vários indivíduos, sejam casais ou mais elementos da família, tentando compreender e resolver os problemas que ocorrem na interação entre os membros da família.

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Que características deve ter um psicoterapeuta?

Em relação às características do terapeuta, a investigação mostra que importa “ser empático, ter uma aceitação incondicional do paciente, ser flexível, promover expectativas positivas e ser fluente verbalmente”, esclarece Alexandre Vaz. Além disso, um estudo que avalia a personalidade dos terapeutas cruzando-a com a sua eficácia clínica mostra que a generalidade dos terapeutas mais eficazes “são pessoas com uma baixa autocrítica, ou seja, uma boa aceitação de si mesmos, mas que autoquestionam constantemente o trabalho clínico, tentando perceber se o que fazem está a funcionar, confirmando isso com o cliente e adaptando a terapia”.

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Então como é que eu escolho?

Tal como acontece com outros profissionais – os médicos, por exemplo –, podemos olhar a uma série de fatores de decisão: referências que temos de pessoas conhecidas ou outros profissionais de saúde, a proximidade de casa ou do trabalho, o fator económico — nomeadamente os valores praticados ou acordos com seguradoras.

A maioria dos profissionais têm sites ou páginas nas redes sociais com muita informação sobre si, como as principais áreas de intervenção, a formação académica, experiência profissional e forma de trabalhar.  “O melhor é experimentar, ver se faz sentido, se há ‘química’ e, com base nisso, continuar ou escolher outro profissional”, sugere Alexandre Vaz. Ou seja, se sentir que a sua primeira escolha não é um ‘match’, isso não significa que a psicoterapia não funciona para si: só tem de tentar com outra pessoa.

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E a psicoterapia é realmente eficaz?

“Milhares de estudos, que avaliam resultados de terapias diferentes e problemáticas diferentes, mostram que cerca de 50% das pessoas em terapia têm ganhos clínicos significativos”, diz Alexandre Vaz. “Pode parecer pouco, mas é uma percentagem igual ou superior a muitas intervenções medicamentosas, como por exemplo os antidepressivos. A investigação também mostra que os efeitos da psicoterapia tendem a ser mais duradouros”, explica o psicólogo clínico e investigador.

A investigação mostra que os resultados alcançados em psicoterapia dependem de quatro conjuntos de fatores: 40% está dependente das variáveis do paciente (nomeadamente o problema em causa e os acontecimentos de vida); 15% está relacionado como as expectativas; 15% pode ser atribuído às técnicas psicoterapêuticas específicas que são utilizadas pelo terapeuta; e 30% resulta dos chamados fatores-comuns, ou seja, os elementos comuns a todos os tipos de psicoterapia, sendo que o mais importante é a aliança terapêutica, constituída por três elementos: “A qualidade da relação terapêutica; ter objetivos terapêuticos claros e haver uma definição de tarefas ou métodos para atingir esses objetivos”, explica Alexandre Vaz.

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Mas há tipos de psicoterapia mais eficazes para certas pessoas?

Alguns estudos mostram que o estilo de coping da pessoa — a forma como lida com a sua experiência e o conjunto das estratégias que habitualmente utiliza para se adaptar — prevê o tipo de terapia que, pelo menos inicialmente, lhe pode ser mais útil.

Assim, “pessoas com um estilo de coping “internalizador”, que são mais introspectivas e autoreflexivas, tendem a dar-se bem com terapias mais exploratórias, sejam elas psicodinâmicas e psicanalíticas ou humanistas e experienciais”, refere Alexandre Vaz.  “Isto contrasta com quem tem um tipo de coping externo ou “externalizador”, ou seja, pessoas que querem resolver os seus problemas por ação e que têm menos interesse ou predisposição em explorar a sua vivência interna. Estas acabam por beneficiar inicialmente de um tipo de terapia com um estilo mais ativo, que proponha atividades, mudanças de comportamento e, por exemplo, que estabeleça trabalhos de casa, como é o caso das terapias cognitivo-comportamentais.”