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O que são Primeiros Socorros Psicológicos?

Os primeiros socorros psicológicos ajudam pessoas que estejam em choque, na sequência de uma catástrofe natural, um acidente de automóvel ou a morte inesperada de um familiar próximo, por exemplo.

São, na prática, uma intervenção prestada por pessoas com formação específica que, perante uma crise, desenvolvem técnicas de ajuda a quem precisa. Numa situação dessas sentem-se emoções intensas como desespero ou apatia, e os primeiros socorros psicológicos são usados para estabilizar a pessoa, dando-lhe ajuda prática e conforto emocional, para que se sinta um pouco mais calma, segura e acompanhada.

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Em que situações podem ser usados?

Este suporte ou intervenção pode ser útil em todos os cenários de crise, individual ou coletiva. Alguns exemplos de situações de crise são as catástrofes, como terremotos, cheias ou incêndios, acidentes de viação com feridos graves ou mortes, violência sexual ou outro tipo de agressão, más notícias inesperadas ou contextos de guerra ou migração forçada.

Imediatamente a seguir aos incêndios que ocorreram em Leiria e Pedrógão Grande em 2017, por exemplo, foram mobilizadas muitas equipas para prestar este apoio aos familiares dos sobreviventes e população afetada.

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Quais são as reações habituas numa pessoa que está em crise?

Durante ou depois deste tipo de situações, as pessoas podem ter sintomas muito perturbadores e intensos — a que os especialistas chamam habitualmente de “reação aguda de stress”.

A psicóloga clínica e da justiça Ana Cristina Oliveira, voluntária da Cruz Vermelha Portuguesa com experiência na intervenção em situações de crise, emergência e catástrofe e formadora de operacionais de emergência pré-hospitalar, explica que há quatro categorias de sintomas:

  • Reações físicas: suores, dormência, sede, respiração rápida, náuseas, hipertensão arterial;
  • Reações emocionais: medo, choque, raiva, culpa, ansiedade, desespero ou irritabilidade;
  • Reações cognitivas: dificuldade de concentração, confusão, atenção dispersa, preocupação, negação e alterações de memória;
  • Reações comportamentais: agitação, alienação, imobilização, luta ou fuga e obediência automática.

A psicóloga, que também é técnica da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) no Gabinete do Departamento de Investigação e Ação Penal de Faro, alerta para o facto de que todas estas reações “são expectáveis, e por norma, transitórias, mas além de poderem ser intensas e difíceis de gerir, algumas permanecem durante mais algum tempo, podendo evoluir para sintomas clínicos como Perturbação de Stress Pós-Traumático, ansiedade ou depressão”.

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E para que servem, ao certo, os primeiros socorros psicológicos?

Quando as reações são muito intensas e difíceis de gerir, explica a psicóloga, os primeiros socorros psicológicos são úteis para avaliar as necessidades e preocupações das pessoas, para fazer uma estabilização emocional, fornecer  ajuda prática e a facilitar a ligação à rede de apoio da pessoa e/ou dar acesso a serviços formais de apoio.

“As ações centrais estão em sintonia com os cinco princípios orientadores de intervenções em situações de crise ou catástrofe:

  1. Promover a calma…
  2. …a sensação de autoeficácia…
  3. … a segurança…
  4. … a conexão à rede social de apoio…
  5. … a esperança.”

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Que efeitos se espera que tenha esta intervenção?

Espera-se que esta ajuda, no imediato, minimize o impacto negativo de uma situação destas. Por um lado, no presente, ajudado a pessoa a sentir-se mais calma, acompanhada e protegida. Por outro, no futuro, criando as bases para que comece a lidar com a situação e a adaptar-se.

Cristina Oliveira refere que faltam estudos a comprovar este tipo de eficácia no futuro, mas “surgem evidências da sua utilidade e efeito positivo na regulação de sintomas de ansiedade, depressão, stresse traumático e mal-estar, e na melhoria da avaliação do humor, perceção de segurança, sensação de controlo e conexão aos outros”.

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Este apoio tem de ser feito por psicólogos/as?

Não. Pode ser feito por qualquer pessoa desde que tenha formação e treino em Primeiros Socorros Psicológicos. Muitos trabalhadores de organizações humanitárias que atuam em situações de catástrofe ou conflito, por exemplo, têm esta formação.

“No imediato, podem ser as pessoas que estão mais próximas a prestar este primeiro auxílio, pondo em prática as ações centrais: oferecer ajuda, ajudar a acalmar, tentar compreender as preocupações e necessidades e perceber se esta pessoa tem alguém a quem possa ligar para vir ao seu encontro”, diz Ana Cristina Oliveira.

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Sem esta formação específica, o que é que cada um de nós pode fazer?

No caso de não se ter treino para dar este apoio, pode contactar o serviço de aconselhamento psicológico da Linha SNS 24 (808 24 24 24) para pedir ajuda para outra pessoa ou, se for uma situação de emergência, contactar o Número Europeu de Emergência (112).

Enquanto essa ajuda não chega, pode tentar abordar a pessoa, sem se colocar em risco a si, no sentido de oferecer a sua companhia e a sua escuta ativa, ou seja:

  • Aproximar-se da pessoa e perguntar-lhe o que precisa;
  • Ajudá-la a contactar alguém de referência (marido, mulher, filho, amigo, pais);
  • Escutar a pessoa, no caso de ela querer falar, sem fazer julgamentos sobre o que diz ou sente.