Há muito que circula nas redes sociais a ideia de que a China tem vindo a procurar lucrar com a pandemia do novo coronavírus, que teve origem no país, concretizando negócios que nunca seriam possíveis em situações normais. Um post, partilhado por vários utilizadores portugueses no Facebook, alega que, “enquanto o mundo está de quarentena”, a China comprou “a Volvo, Pirelli, Thomas Cook e grande parte da Mercedes Benz”. Será assim? Não, estes negócios não aconteceram no decorrer da quarentena.
Comecemos pela Volvo. Em 2010, a Volvo, que pertencia à Ford, foi comprada pela Gelly, um fabricante automóvel chinês sediado em Hangzhou, por 1,7 mil milhões de euros, um negócio que, na altura, foi o maior alguma vez feito por um país asiático envolvendo uma empresa de automóveis estrangeira. A transação afirmou a China como o maior mercado automóvel, depois de ter ultrapassado os Estados Unidos da América no ano anterior.
A venda da Pirelli também aconteceu já há alguns anos, mais precisamente em 2015. Nesse ano, a China National Chemical Corp (ChemChina) adquiriu 65% das ações da multinacional, o que levou à retirada da empresa, uma das maiores fabricantes de pneus do mundo, da bolsa de Milão. A Pirelle só regressou dois anos depois, altura em que a ChemChina vendeu uma parte da sua participação.
O negócio envolvendo a operadora turística britânica Thomas Cook aconteceu mais recentemente, em 2019, mas antes do surgimento dos primeiros casos de Covid-19 na China, em dezembro desse ano. A marca e toda a propriedade intelectual da Thomas Cook, que tinha entrado em colapso em setembro de 2019, foram compradas a 1 de novembro pela Fosun, por cerca de 12,7 milhões de euros. A Fosun já era acionista da empresa, detendo uma posição superior a 18%.
Também de 2019 e também anterior à Covid-19 é a compra de 5% da Daimler, o grupo que detém a Mercedes Benz, pela Baic, empresa do Estado chinês que detém vários negócios ligados à indústria automóvel. Este negócio, que envolveu 2,5 mil milhões de euros, aconteceu em junho.
Conclusão
Os negócios de compra da Volvo, Pirelli, Thomas Cook e Mercedes Benz, envolvendo empresas chinesas, aconteceram antes do início do surto de Covid-19 na China e antes da sua propagação pela Europa e outros continentes, o que significa que, ao contrário do que está a ser partilhado nas redes sociais, os chineses não concretizaram estas transações enquanto o mundo estava de quarentena.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
De acordo com o sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts/DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.