Estão a ser difundidas nas redes sociais informações de que Anthony Fauci, epidemiologista que coordenou a resposta à pandemia nos Estados Unidos, foi detido pelas forças especiais norte-americanas a 9 de abril. A notícia começou por ser partilhada a 10 de abril pelo site Real Raw News, que terá já um histórico de partilha de várias notícias falsas e que se assume como um site que contém “humor, paródia e sátira”.
Escreve este site — e replicaram vários posts nas redes sociais — que Anthony Fauci terá sido seguido, de carro, pelas forças especiais em veículos civis. “Eles prenderam-no, tiraram-lhe as armas e ordenaram aos guarda-costas de Fauci que deitassem as suas armas de fogo pela janela”, conta o Real Raw News, explicando que em causa estariam acusações relacionadas com “traição, negligência médica em massa ou homicídio”. Essas mesmas acusações, aliás, são enumeradas também na descrição feita por um dos utilizadores do Facebook que partilharam esta história.
Contudo, Anthony Fauci não foi preso. Epidemiologista-chefe da Casa Branca, ganhou um lugar de maior destaque com a pandemia, tendo tido de gerir a resposta dos Estados Unidos à Covid-19, e sendo considerado um dos mais importantes especialistas em doenças infecciosas do país — tendo sido, também por isso, alvo de várias campanhas de desinformação e até ameaças.
Durante os últimos dois anos e meio, ficou também conhecido por contradizer Donald Trump, quando este ainda estava na presidência norte-americana, quanto a temas como o uso de hidroxicloroquina para tratar a Covid-19, que o especialista defendia ser “ineficaz”, apesar de o então inquilino da Casa Branca entender e divulgar o contrário.
Ora, não é verdade que Anthony Fauci tenha sido detido pelas forças especiais dos Estados Unidos, como defende a publicação aqui em análise. Em primeiro lugar, nenhum órgão de comunicação social norte-americano de referência noticiou tal acontecimento. Aliás, depois da alegada prisão do epidemiologista, Fauci fez várias aparições em vários canais de televisão, como na ABC News, ainda a 10 de abril, sobre aumento de casos de Covid-19 nos Estados Unidos, ou na MSNBC, no dia seguinte. (tendo sido publicado o vídeo no site do canal no dia 12 de abril).
Tais declarações dadas por Anthony Fauci a várias televisões do país também foram citadas por outros jornais, como o New York Times.
Além disso, de acordo com uma lei federal dos Estados Unidos, as forças especiais não estão autorizadas a fazer detenções de cidadãos. Diz a lei que é proibido o “uso intencional de qualquer força do Exército ou da Força Aérea para fazer cumprir a lei, a menos que expressamente autorizado pela Constituição ou por um ato do Congresso”.
Mais. O Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, dirigido precisamente por Anthony Fauci, desmentiu a informação de que este teria sido detido. Citado pela AFP, um porta-voz desta entidade garante que se trata apenas de uma “invenção”.
Também o Pentágono, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, igualmente citado pela agência de notícias, afirmou que a história é “completamente falsa”, configurando-se uma “total e absoluta fabricação e abuso da palavra ‘notícia'”.
Conclusão
É falsa a informação de que Anthony Fauci, homem forte da Casa Branca que comandou a gestão da pandemia nos Estados Unidos, tenha sido detido pelas forças especiais norte-americanas.
A notícia foi divulgada por um site de notícias que se auto descreve como sendo um site satírico e de humor. No dias seguintes à sua publicação, Fauci apareceu em pelo menos dois canais de televisão para falar sobre a evolução da Covid-19 no país. Além disso, a entidade nacional dirigida precisamente pelo epidemiologista desmentiu tais afirmações, bem como o próprio Pentágono, e não há quaisquer relatos dessa alegada detenção de Fauci nos media de referência nos Estados Unidos.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.