A atriz brasileira Camila Pitanga teria sido diagnosticada com malária no início de agosto, doença que tratou com cloroquina, para entretanto ter descoberto que o diagnóstico correto era, afinal, Covid-19. Esta informação tornou-se viral no Facebook mas é falsa. Na origem desta publicação no Facebook, apresentada como verdadeira, está uma publicação satírica do Twitter.

Publicação satírica no Twitter foi partilhada no Facebook como se fosse verdadeira

O texto original foi publicado a 20 de agosto no Twitter, num perfil chamado “Estabão”, um trocadilho com o jornal “O Estado de São Paulo”, conhecido como “Estadão”. A página era identificada como sendo uma “paródia” mas muitos utilizadores estava a partilhar este e outros conteúdos como sendo verdadeiros. Para que não haja mais confusões, o “Estabão” passou, entretanto, a chamar-se “Revista Diário Digital” e descreve-se como “a maior revista de notícias fictícias da internet”. “Não acredite em nada do que encontrar aqui”, especifica o projeto.

Assim , não é verdade que Camila Pitanga tenha descoberto que estava infetada com Covid-19. Nas redes sociais da atriz não há referências a supostos erros encontrados nos exames que fez no início do mês e que indicaram que ela e a filha, Antônia, tinham contraído malária. Foi a própria que, no dia 10, revelou no respetivo Instagram o diagnóstico.

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Foram 10 dias de muito sufoco. Entre picos de febre alta, calafrios e total incerteza. Havia a sombra da possibilidade de estar com covid-19. Somente no domingo recebi o resultado negativo do meu PCR. Mas no lugar de me aliviar, permanecia a agonia pois eu não fazia ideia do que eu poderia ter. Estava à deriva. Pois bem, uma amiga minha suspeitou que esses picos de febre associados ao fato de estar em isolamento social numa zona de Mata Atlântica no litoral de SP, podia ser malária. Fui indicada a conversar com dois infectologistas. Os dois extremamente generosos em falar comigo num domingo já de noite. Dr Luiz Fernando Aranha e o Dr André Machado. Agradeço ao último pelas orientações que me levaram ao Hospital das Clínicas da USP. Uma vez que a supeita era malária, doença muito rara, não há melhor lugar para você ser tratado do que a rede SUS, local de referência e excelência para doenças endêmicas. No HC, fui prontamente atendida por uma mulherada. Sim, uma equipe 100% de mulheres fantásticas do laboratório da Sucen. Faço questão de dar seus nomes: Drª Ana Marli Sartori, Drª Silvia Maria di Santi, Drª Dida costa, Drª Simone Gregorio, Drª Renata oliveira e tão importantes quanto, as agentes de saúde Cida Kikuchi e Gildete Santos. Todas foram extremamente profissionais, eficientes e gentis. Bom, os resultados dos exames sairam dando positivo para malária. Eu e minha filha. Uma doença que ainda existe, é curável, mas precisa de cuidados. O tratamento é gratuito. Faço cá meus votos de gratidão a todas e todos agentes de saúde, que além de estarem na trincheira nessa luta contra a covid-19, estão aí atendendo inúmeras outras demandas com seu profissionalismo em meio a condições e incertezas muito grandes. É de suma importância valorizar a existência desse sistema de saúde que cuida de tanta gente, principalmente dos que não tem condições de pagar um plano de saúde. Estamos num país onde uma doença matou mais de 100 mil pessoas em poucos meses. Esse número poderia ser o triplo ou mais se não fosse o SUS. A catástrofe seria ainda maior. Muito obrigada e parabéns a todas e todos os profissionais de saúde desse país!!!

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“Foram 10 dias de muito sufoco. Entre picos de febre alta, calafrios e total incerteza. Havia a sombra da possibilidade de estar com covid-19”, escreveu Pitanga.

O teste para o novo coronavírus deu negativo, sendo o resultado positivo para malária. A atriz começou então a ser tratada com cloroquina — medicamento polémico, defendido pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro para tratar a Covid-19, que ainda suscita muitas dúvidas — e logo surgiram publicações nas redes sociais que sugeriam que Camila Pitanga estava a mentir sobre o seu estado de saúde. Estaria infetada com o novo coronavírus, mas, em vez de admiti-lo, teria preferido dizer que tinha malária para poder tomar cloroquina livremente.

Para clarificar a situação, os assessores da atriz enviaram à “Lupa”, plataforma brasileira de fact checking, o resultado do teste de Camila Pitanga referente ao SARS-CoV-2. No documento é possível ler “não detectado”.

Além disso, outro site de verificação de notícias, o “Aos Fatos”, contactou o Laboratório de Malária do Sucen, que confirmou o diagnóstico de Camila Pitanga e da filha e disponibilizou os registos médicos de ambas. Em ambas foi detectado plasmódio virax, um dos três parasitas existentes no Brasil, que são responsáveis pela malária.

Registo médico de Camila Pitanga e a filha

Conclusão

Camila Pitanga não descobriu erros nos exames médicos que, inicialmente, teriam indicado malária em vez de Covid-19. Não há qualquer referência a esse engano nas redes sociais da atriz ou na imprensa brasileira. A informação é falsa e começou a circular numa página satírica existente no Twitter. Esta é a segunda informação errada sobre esta história que se torna viral. A primeira indicava que a atriz teria mentido quanto ao seu diagnóstico, dizendo que tinha malária para poder tomar cloroquina livremente. Tudo isso foi desmentido pelos assessores de Camila Pitanga, que divulgaram os relatórios médicos: o teste relativo ao novo coronavírus apresentou resultado negativo e os exames para detetar malária foram positivos.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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