“Avião de passageiros da companhia aérea libanesa do Médio Oriente a aterrar no aeroporto de Beirute esta noite, enquanto caças israelitas bombardeiam alvos civis num bairro próximo”, descreve-se numa de várias publicações no Facebook, datadas de 20 e 21 de outubro. A imagem mostra um avião prestes a aterrar numa pista rodeada de explosões e chamas. Um verdadeiro cenário apocalíptico no meio do qual, alegadamente, os pilotos teriam tido a difícil tarefa de fazer aterrar a aeronave.
Em alguns dos posts em que a história é partilhada são enviadas “saudações especiais” ao “capitão Firas Youssef da Middle East Airlines”.
Nas últimas semanas, sucederam-se as notícias que davam conta de bombardeamos próximos do aeroporto Rafic Hariri, na capital do Líbano. O The Guardian exibiu, no início de novembro, o momento em que uma “enorme bola de fogo iluminou o céu” perto do aeroporto, enquanto os ataques israelitas visavam áreas densamente povoadas do sul de Beirute durante a noite. O mesmo tinha acontecido um mês antes, como reportado pela BBC.
No entanto, tal não significa que a imagem partilhada no Facebook corresponda à realidade. Um porta-voz da Middle East Airlines, a companhia aérea a que o avião alegadamente pertence, questionado pela AFP em relação às fotografias, afirmou que as imagens parecem ter sido geradas por Inteligência Artificial (AI, na siga em inglês) e que estão “longe da realidade”.
A 21 de outubro, inclusivamente, os voos desta companhia — umas das poucas que ainda opera em Beirute enquanto decorrem os ataques israelitas — foram obrigados a mudar de pista de aterragem, para uma secundária, uma vez que alguns dos ataques desse dia atingiram zonas demasiado próximas da pista principal, aquela que aparece retratada nas imagens a circular nas redes sociais.
O Observador fez o upload das imagens em programas de deteção de manipulação de imagens, como o Hive Moderation, para tentar perceber se eram avaliadas como conteúdo manipulado. E o resultado indica uma percentagem superior a 90% de probabilidade de estarmos perante um deep fake ou mesmo uma imagem gerada de raiz através de AI.
A olho nu, de acordo com Matthew Stamm, professor associado de engenharia elétrica e de computação na Universidade Drexel, é possível identificar várias “irregularidades” que sugerem que as imagens foram geradas artificialmente. O especialista, citado pela AFP, menciona a forma estranha do trem de aterragem e o ângulo de uma das asas do avião.
Ministro da Defesa israelita afasta cessar-fogo com o Hezbollah sem capitulação
Na fotografia viral é ainda visível a bandeira libanesa na cauda do avião, logótipo que distingue a companhia aérea Middle East Airlines. A cauda do avião surge oportunamente iluminada, quando comparada com a restante aeronave, para que seja bem visível a árvore verde a figurar no avião.
Desde 23 de setembro que Israel aumentou significativamente as suas operações no Líbano e iniciou uma invasão terrestre na semana seguinte, alegando que pretendia criar condições de segurança para o regresso a casa de cerca de 60 mil deslocados provocados pelas hostilidades no norte do país.
De acordo com as autoridades de Beirute, o conflito no Líbano já provocou mais de três mil mortos num ano, a maioria dos quais no último mês e meio, e mais de 1,2 milhões de deslocados. O novo titular da Defesa israelita, Israel Katz, garantiu a meio de novembro que “não haverá cessar-fogo e não haverá pausa nos ataques contra o Hezbollah”, contrariando os pedidos do governo libanês. Para Katz, a única proposta de cessar-fogo viável tem de significar a “capitulação do Hezbollah” e cumprir todas as condições exigidas por Israel.
Ainda assim, segundo as informações mais recentes, Israel admite a possibilidade de um cessar fogo na região.
Conclusão
As imagens impressionantes de um avião a aterrar no aeroporto de Beirute sob fogo dos ataques israelitas contra o Líbano foram geradas através de AI, como comprova a sua verificação em programas de deteção de manipulação de imagem e pormenores da aeronave retratada. Ainda que vários ataques israelitas nas últimas semanas tenham atingindo zonas muito próximas das pistas do aeroporto libanês, onde já só a Middle East Airlines arrisca operar, a verdade é que não há relatos nem registos fotográficos de um avião ter estado tão próximo do fogo inimigo.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.