Se existem teorias espalhadas pelas redes sociais sobre frutas e legumes com capacidades milagrosas para tratar doenças oncológicas, existem também as versões contrárias, de que há determinados compostos que aceleram o desenvolvimento de doenças — nenhuma delas, na maior parte das vezes, está correta. No Facebook, surgiu agora uma nova teoria, que diz que a casca da maçã contém células cancerígenas.

Um dos utilizadores desta rede social mencionou o laboratório de ciência da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, para sustentar a sua ideia, e referiu que, nesta faculdade, alguns estudantes “curiosos” estavam a testar “um aparelho novo para detetar células humanas cancerígenas”. E é aqui que entra a casca da maçã: “Vendo no lanche da colega uma bela maçã, e como a maçã possui células vegetais, levaram essa maçã para o aparelho, que detetou células cancerígenas na casca da maçã.”

Os tais estudantes, continuou a descrever este utilizador no dia 9 de junho, descobriram ainda que “aquelas células cancerígenas foram formadas pelo agrotóxico acumulado na casca da maçã”.

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No entanto, existem nesta publicação vários erros. Nutricionista na área da oncologia da equipa AIM Cancer, Inês Onofre Domingues desconstruiu, em resposta ao Observador, cada uma das informações expostas no texto partilhado. Primeiro, “não existe nenhuma referência ao aparelho em causa, nem nenhum estudo efetuado”.  “Não há nada que demonstre que exista este tal aparelho descrito em funcionamento”, explicou Inês Onofre Domingues, acrescentando que, dentro da comunidade cientifica, “não há informação que sustente” que a casca da maçã contêm células cancerígenas.

“Só podemos dizer que há fundamento científico quando há um estudo criterioso, com uma equipa multidisciplinar e vários profissionais. Neste caso, estamos a falar de um aparelho que ainda está para estudo, portanto, não vejo referência de rigor. Este aparelho, se está para estudo, não há ainda evidências da sua existência para uso científico. As conclusões tiradas a partir daí não podem ser corroboradas pela sociedade cientifica, muito menos [se podem] tirar ilações para alterações celulares a nível de características humanas.

No limite, e a ter existido este estudo — cujas conclusões não existem na comunidade cientifica –, pode ter sido detetada uma alteração a nível molecular na casca da maçã, uma vez que é possível que sofram alterações.

A doença oncológica não é transmissível, tem origem nas células, e apenas uma parte muito reduzida dos cancros detetados — entre 10 a 15% — é hereditária. E, como explicou a nutricionista Inês Onofre Domingues, é possível encontrar agentes oncogénicos em vários alimentos, uma vez que depende da cadeia de consumo — desde que são produzidos até que chegam ao prato — dos alimentos em causa. “Se vão encontrar-se alguns agentes oncogénicos na casca da maçã? Vão, não posso negar. Não sei onde todas as maças são produzidas, não controlo a cadeia”, acrescentou em relação ao fruto mencionado na publicação. No entanto, “não é por consumir uma maçã com um agro químico muito reduzido que [uma pessoa] vai desenvolver células cancerígenas”.

Conclusão

A informação partilhada no Facebook não é verdadeira. Não existe evidência na comunidade cientifica da existência de um aparelho capaz de detetar células cancerígenas na Universidade de Yale, nem de nenhum estudo que diga que a casca da maçã tem “células cancerígenas”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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