No Threads foi partilhada a imagem de um cartoon, assinado pela autora francesa Camille Besse, com o título “Trégua humanitária”, como tendo sido publicado no Charlie Hebdo. Mas este desenho, que tem associada uma crítica aos termos do cerco a Gaza e à difícil entrada de ajuda humanitária na região, não saiu na revista satírica francesa.

O cartoon mostra uma chuva de mísseis e no meio uma única imagem de uma caixa de primeiros socorro, a simbolizar a escassa ajuda humanitária disponibilizada na Faixa de Gaza. Foi publicado em novembro do ano passado, quando o conflito na região se intensificou com o cerco de Israel ao enclave após o ataque do grupo fundamentalista islâmico Hamas a 7 de outubro. Existem acusações mútuas frequentes de violação das tréguas para a passagem de ajuda humanitária para Gaza.

O Observador contactou o Charlie Hebdo que nega ter publicado este cartoon. Numa resposta enviada por email, a revista satírica confirma que “não publicou este desenho e que a autora não desenha para o jornal”. A própria Camille Besse, também ao Observador, afirmou que o cartoon “foi publicado na revista Marianne”. Numa pesquisa no Google, o desenho aparece publicado no final de novembro do ano passado pelo jornal francês l´Humanité.

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No final de outubro passado, antes desta publicação no Threads, corria uma polémica em França a envolver o jornal satírico e o partido da extrema-esquerda francesa França Insubmissa. Em causa estava um cartoon publicado pela revista semanal em que surgia uma caricatura de uma deputada do partido, Danièle Obono, ao lado da frase “Gaza/Israel: a paz é possível! A França troca Obono por reféns israelitas”.

Isto depois de a deputada ter descrito, em declarações públicas, o Hamas como um “movimento de resistência” contra “uma ocupação” — o partido da extrema-esquerda estava então a ser muito criticado por se recusar a classificar o Hamas como uma organização terrorista (o ministro do Interior chegou a anunciar que ia remeter o caso para o Ministério Público por considerar existir “apologia do terrorismo na frase da deputada). Vários deputados do França Insubmissa acusaram o Charlie Hebdo de “racismo” e “antisemitismo” na sequência desta caricatura.

Recorde-se que em janeiro de 2015 a redação do jornal satírico, em Paris, foi alvo de um atentado terrorista, reivindicado pela célula terrorista da Al-Qaeda no Iémen, pela publicação de sátiras sobre o mundo islâmico. Na altura, quando a responsabilidade pelo ataque que matou 12 pessoas foi assumida, foi referido que se tratou de uma operação para “vingar o profeta Maomé”. As referências satíricas anti-Islão prosseguiram depois disso.

Conclusão

O cartoon sobre a situação de Gaza e as dificuldades nas tréguas humanitárias decretadas não foi publicado pelo Charlie Hebdo, ao contrário do que refere esta publicação. O próprio jornal satírico francês esclarece ao Observador que esta autora não colabora com a publicação.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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