Uma imagem sem qualquer referência à fonte da informação é partilhada no Facebook e dá conta de uma “última sondagem” em que o partido Chega “apanha” o PSD. Entre os dois partidos há apenas uma décima de distância: 27,8% para o PSD e 27,7% para o partido liderado por André Ventura. Os dados são falsos.

O primeiro problema verificado nestes valores é que somados não dão um total de 100%, mas sim de 113,1%, o que indica que algum dado não estará correto. Como não há qualquer referência à origem deste suposto estudo de opinião, o Observador foi verificar qual a sondagem sobre a intenção de voto em legislativas mais recente à data da publicação, dia 11 de abril de 2021, para poder perceber se os números podiam ter aí alguma sustentação.

A 5 de abril saíram os valores da sondagem da Aximage para o DN, o JN e a TSF. Mas nenhum deles bate certo com os que constam na publicação, ainda que o Chega tenha crescido em relação ao estudo anterior, de fevereiro. Mas comecemos pelo partido que colhe mais na intenção de voto em eleições legislativas.

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O PS teve, nessa sondagem da Aximage, 39,7%, uma décima acima do registado na publicação em análise (39,6%). Já o segundo partido nesta sondagem, o PSD regista 23,6%, abaixo do valor que consta na sondagem que aparece na imagem (27,8%). Além disso, o terceiro partido a surgir é o Bloco de Esquerda e não o Chega, embora a distância entre os dois partidos seja apenas de uma décima: o BE tem 8,6% — e não os 6,2% que aparecem nesta publicação — e o Chega tem 8,5% — e não os 27,7% que constam na partilha.

Os valores apontados para os restantes partidos também saem ao lado da última sondagem conhecida à data daquela publicação. A CDU, na sondagem da Aximage, chega aos 6%, enquanto que na publicação fica pelos 5,2%. O Iniciativa Liberal tem 4,8% e não os 2,5% da imagem, o PAN surge com 3,2% na sondagem do DN, TSF e JN e 2,1% na publicação e, por fim, o CDS, que tem 1,1% na sondagem de 5 de abril e 2% na que estamos a analisar.

Nenhum valor bate certo, mas a maior diferença é mesmo a do Chega, partido que aparece nesta imagem com mais de 19 pontos percentuais do que tem na última sondagem de que havia registo a 11 de abril.

E mesmo que esta publicação de Facebook diga respeito a outra sondagem e não a esta específica da Aximage, ela apresenta uma irregularidade já referida: os valores, somados, não representam 100%. Não havendo, além disso, nenhum estudo de opinião que, até agora, tenha resultado num valor tão elevado para o Chega em termos de intenções de voto — pode verificar, por exemplo, neste histórico disponibilizado pela Marktest. Ainda que seja verdade que, em alguns estudos, o partido liderado por André Ventura já tenha surgido no lugar de terceira força política, à frente do Bloco de Esquerda.

Há, no entanto, uma sondagem sobre a intenção de voto nas legislativas, da Eurosondagem para o jornal Nascer do Sol, que tem valores idênticos a esta que surge na publicação do Facebook, mas há dois problemas: um deles é que este estudo foi publicado um dia depois do post em análise, pelo que não poderia ser o referido pelo utilizador de Facebook que a divulgou; o outro é, mais uma vez, o valor do Chega, o único que não corresponde ao que foi apurado pela Eurosondagem (7,7% e não 27,7%).

Conclusão

Esta sondagem é falsa. O primeiro problema detetado é a falta de uma fonte e o segundo o problema do universo da sondagem: os valores somados resultam numa percentagem superior a 100. Além destas duas fragilidades, a última sondagem sobre a intenção de voto em legislativas não tem nenhum valor dos referidos na publicação. E, por fim, não houve até agora nenhuma sondagem relativas a eleições à Assembleia da República que tenha dado um valor tão elevado ao partido Chega que nunca conseguiu mais de 10% em nenhum estudo de opinião.

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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