A vitória de Gabriel Boric nas eleições do Chile tem fomentado a divulgação de muita informação falsa nas redes sociais. Uma das mais recentes é a do discurso de uma mulher, identificada como primeira-ministra que alegadamente estaria a anunciar a “extinção de todas as forças armadas e policiais” e que “todas as empresas passa[riam] a ser estatais”. A mulher nas imagens não é primeira-ministra, até porque esse cargo nem existe no país — recorde-se que o Chile tem um regime presidencialista –, e a proposta também não era exatamente a que a publicação refere.

Publicação falsa no Facebook

Ainda que haja algumas pessoas a defender a extinção das forças armadas no país, uma das propostas já foi inclusivamente chumbada pela Assembleia Constituinte e a probabilidade de que as restantes passem é diminuta, de acordo com a imprensa internacional.

A mulher nas imagens é María Magdalena Rivera Iribarren, escolhida pela La Lista Del Pueblo na região metropolitana de Santiago. María Rivera tem 58 anos e é advogada na Universidade Bolivariana, como se lê na curta biografia disponível na página oficial da Assembleia Constituinte do país.

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O vídeo usado na publicação foi gravado na sessão do dia 9 de fevereiro (e está disponível na íntegra aqui) quando María Rivera tomou da palavra para apresentar uma iniciativa que tinha por objetivo dissolver os atuais poderes do Estado chileno e criar uma Assembleia Plurinacional de Trabalhadores e do Povo.

O objetivo da iniciativa era substituir as atuais instituições do Estado por uma Assembleia que elegesse democraticamente representantes de cada centro de trabalho e da população, para que fossem eles a gerir localmente as áreas da justiça, economia e política.

Ainda assim, segundo este artigo, a proposta de María Rivera teve zero votos a favor. Sem qualquer hipótese de ser aprovada pela Assembleia Constituinte, a proposta não passou disso mesmo e o vídeo da apresentação da iniciativa está agora a ser usado fora de contexto.

Conclusão

Não só a mulher nas imagens não é a primeira-ministra do Chile, já que o país nem sequer tem um sistema com esse cargo, como também não defende aquilo que está no texto que acompanha a partilha do vídeo.

Além disso, María Rivera não defendia a dissolução das forças armadas ou a estatização de todas as empresas, mas a criação de assembleias plurinacionais. Caso não fosse suficiente todo o contexto e mensagem errados, acresce ainda que a proposta da deputada constituinte não recebeu um único voto a favor, o que levou ao chumbo em toda a linha da iniciativa apresentada.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

 

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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