Se recebeu nos últimos dias uma mensagem no Facebook a dar-lhe conta que alho picado fervido em água pode ser a cura milagrosa para o coronavírus — uma mensagem que supostamente “deve partilhar com todos os contactos” —, não estará surpreendido com o início deste texto; se ainda não recebeu pode sempre optar por nem se dar ao trabalho de ler a mensagem até ao fim já que não passa de um conteúdo falso sem qualquer base científica.

Mensagem difundida através do Facebook com receita para curar o coronavírus

A mensagem tem sido replicada por vários utilizadores do Facebook que acreditam neste alegado antídoto e que falam em “boas notícias”.

Um dos utilizadores que difundiu a receita e acredita na sua veracidade

O médico especialista em Medicina Geral e Familiar e Medicina do Trabalho João Júlio Cerqueira explica ao Observador que o alho “tem sido citado frequentemente como uma forma ‘natural’ de combater infeções”, depois de ter sido demonstrado em laboratório que o alho tem “propriedades virucidas e bactericidas”, mas nota que os “estudos laboratoriais são demasiado preliminares para determinar se a utilização de alho é eficaz ou não para o tratamento de infeções”.

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O médico compara aliás a utilização do alho à utilização de lixívia: ” É o mesmo que dizer que beber lixívia trata infeções só porque foi demonstrado numa placa de Petri que as bactérias e os vírus não sobrevivem ao contacto com a lixívia. É verdade, mas não faz da lixívia uma substância útil no combate às infeções”.

Já no que diz respeito aos estudos clínicos que se realizam em pessoas, João Júlio Cerqueira explica que “têm demonstrado que o alho não tem qualquer eficácia no combate às infeções”, como nos casos de doentes com constipações. Isto é: não há qualquer evidência de que a receita apresentada nas redes sociais tenha qualquer efeito na cura do coronavírus.

Numa página dedicada a combater informação errada que está a ser transmitida na sequência do surto de coronavírus, a Organização Mundial de Saúde também já tinha alertado para o facto de não haver “evidências de que comer alho proteja as pessoas do novo coronavírus”.

Ainda segundo João Júlio Cerqueira, a difusão destas mensagens enganadoras pode prejudicar o controlo sintomático eficaz dos doentes infetados (uma vez que ainda não existe tratamento para o novo coronavírus) caso as pessoas optem por “adiar a procura de cuidados médicos eficazes”.

O médico alerta ainda para a difusão de mensagens de pessoas ligadas às terapias não convencionais — como o uso de “ervas chinesas” para combater o vírus —, afirmando que se trata de “desinformação”, uma vez que essas “ervas” não têm qualquer eficácia no combate ao vírus.

Conclusão

Não há qualquer evidência científica que prove que o alho é eficaz no combate ao novo coronavírus — aliás, não existe ainda tratamento para a doença. A própria Organização Mundial de Saúde já classificou esta ideia como um dos “boatos” que corre sobre o surto do coronavírus e é clara nos procedimentos a tomar caso haja alguma suspeita de infeção pelo vírus. Apesar de não existir ainda vacina para o vírus, há vários tratamentos para os sintomas a ele associados.

Assim, de acordo com a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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