Um post do Facebook, publicado em 16 de fevereiro de 2021 e desde então amplamente partilhado, exibe uma fotografia de uma alcateia supostamente liderada por três lobos anciãos, enquanto o macho alfa, o líder do grupo, segue isolado na retaguarda.

Eis o texto, ipsis verbis, que acompanha a imagem da alcateia, com o título de Sabedoria: “O exemplo dos lobos: Os três primeiros os mais velhos ou os doentes vão à frente e marcam o ritmo do grupo. Eles são seguidos pelos cinco mais fortes que os defenderão em um ataque surpresa. No centro seguem os demais membros da alcateia, e no final do grupo seguem os outros cinco mais fortes que protegerão o grupo. Em último, sozinho, segue o lobo ‘alpha’, o líder. Em resumo, a alcateia segue o ritmo dos anciões e sob o comando do líder que impõe o espírito de grupo não deixando ninguém para trás. O verdadeiro sentido da vida, não é chegar em primeiro, mas chegar todos juntos ao mesmo destino.”

A foto partilhada nas redes sociais

Comecemos pela origem da fotografia que acompanha uma publicação que apareceu pela primeira vez no Facebook em 2015. A imagem é, segundo o Snopes, um site norte-americano de fact-checking, retirada do documentário “Frozen Planet”, produzido pela BBC em 2011 e foi captada pelo produtor Chadden Hunter, tendo sido incluída, em 19 de outubro desse ano, numa fotogaleria publicada no jornal britânico The Guardian, de promoção ao filme.

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A legenda que acompanha a foto não podia estar mais longe do texto que acompanha a publicação do Facebook: “Uma enorme alcateia de 25 lobos  à caça de bisontes no círculo ártico, no norte do Canadá. A meio do inverno, no Parque Nacional de Wood Buffalo, as temperaturas rondam os -40 ° C. A alcateia, liderada pela fêmea alfa, desloca-se em fila indiana pela neve profunda para poupar energia.”

A fotografia publicada no jornal britânico

Ou seja, segundo os autores do documentário, a alcateia não é liderada pelos anciãos, mas sim por um lobo alfa, no caso, uma fêmea.

Um fact-check feito pela Associated Press dá conta disso mesmo, nas palavras do etólogo e especialista em lobos espanhol David Nieto Maceín: “Os grupos de lobos são compostos pelo casal reprodutor e suas crias, ou seja, os seus descendentes da última ninhada e, talvez, da anterior. Em grupos tão grandes como o desta foto, que caçam bisontes, costuma haver alguns acrescidos, que são lobos espalhados de outros grupos (são os que, quando completam um ano, se dispersam e vão à procura de um território e uma parceira para formar uma família)”, explica, acrescentando: “Neste caso, quem vai à frente é a fêmea reprodutora e os demais são, simplesmente, os lobos que seguem a reprodutora. Andam em fila única para uma economia de esforço. Quando vão pela neve, os lobos seguem o caminho de outros”.

Ainda assim, esta ideia é contestada por alguns cientistas, como dá conta o Snopes, citando um estudo de 1999 do biólogo norte-americano David Mech, “Alpha Status, Dominance, and Division of Labor in Wolf Packs”. Nele, o especialista afirma que o conceito de um lobo alfa, seja macho ou fêmea, que reivindica o seu domínio sobre os restantes lobos da alcateia não existe na natureza selvagem.

Em resumo, a fotografia é real, mas o texto que a acompanha não é sustentável factualmente, existindo mesmo divergências entre especialistas quanto à hierarquia no seio das alcateias.

Conclusão:

Falso. A publicação no Facebook que refere que a alcateia que aparece na imagem — real, retirada de um documentário da BBC de 2001, “Frozen Planet” — é liderada por três lobos anciãos, com o macho alfa na cauda, não tem qualquer base factual ou científica que confirme tal afirmação, sendo que os próprios cientistas se dividem quanto à hierarquia dos lobos no seio de uma alcateia.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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