Circula nas redes sociais a informação de que os doentes infetados com Covid-19 na Austrália estão a ser medicados com Ivermectina — um antiparasitário indicado para o tratamento de infeções causadas por vermes parasitas e piolhos ou de doenças de pele, como a rosácea.

No vídeo que está a ser partilhado pelos utilizadores, pode ver-se uma mulher, que se identifica como uma enfermeira de 40 anos, a discursar num palco relatando aquilo que “está a acontecer nos hospitais do sul” da Austrália. “Aos que estão vacinados e chegam com Covid, está a ser-lhes dada, adivinhem, ivermectina”, aponta. A mulher garante que nos hospitais australianos “estão a dar-lhes ivermectina e [os doentes] estão a sobreviver à Covid”, acrescentando que não foi a vacina “que salvou” aqueles doentes.

Na descrição da partilha do vídeo em causa, o utilizador de Facebook escreve: “Denúncia: enfermeira australiana confirma uso de Ivermectina em vacinados que dão entrada no hospital com Covid-19 e respiradores para os não vacinados.”

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Contudo, não há evidências de que os médicos nos hospitais da Austrália estejam a tratar os doentes infetados com o novo coronavírus com recurso a este medicamento. A verdade é que a Ivermectina chegou a ser a ser usada em alguns países da América Latina, mesmo sem ainda ter sido comprovada a sua eficácia em doentes com Covid-19. Mas, na Austrália, as autoridades de saúde garantem que o medicamento não está a ser usado nos hospitais do país.

Um comunicado, datado de 10 de setembro de 2021, e que pode ser consultado no site oficial do governo australiano, indica que o regulador nacional colocou novas restrições à prescrição de Ivermectina. O medicamento “não está aprovado para uso em Covid-19 na Austrália nem noutros países desenvolvidos”, pode ler-se, “e o seu uso público em geral para [doentes] Covid é neste momento fortemente desencorajado” pelas autoridades de saúde australianas.

Aliás, citada pela imprensa australiana, a autoridade local de New South Wales, no sul do país, onde se encontram hospitais que alegadamente estariam a usar Ivermectina em doentes com o novo coronavírus, alerta para “notícias falsas e desinformação”. A entidade local, que supervisiona os hospitais, assegura que o uso daquele medicamento “não é recomendado além de ensaios clínicos”.

Também os principais reguladores de saúde mundiais alinham no mesmo discurso. A Organização Mundial de Saúde sublinha, em comunicado, que as atuais evidências para o tratamento de doentes com Covid-19 com recurso à Ivermectina são “inconclusivas”. E até que mais dados sejam conhecidos, a OMS “recomenda que este medicamento seja apenas usado em ensaios clínicos”.

Em Portugal, a Autoridade Nacional do Medicamento também alerta para a “insuficiente evidência para o uso de ivermectina na Covid-19”. Em comunicado divulgado em março de 2021, o Infarmed explica que a Ivermectina “atua como antiparasitário no tratamento da filariose, estrongiloidose e escabiose, profilaxia da recidiva da estrongiloidíase e na escabiose persistente ou escabiose.” E avisa que, de acordo com os dados atualmente disponibilizados, bem como as “dúvidas quanto à dose adequada”, “não existem evidências que apoiem a utilização” de Ivermectina no tratamento de doentes com Covid-19.

Questionada pelo Observador, fonte oficial do Infarmed adianta que a recomendação produzida em março de 2021 mantém-se: atualmente, as autoridades portuguesas não recomendam o uso de Ivermectina para o tratamento da Covid-19, face à falta de evidência científica nesse sentido.

Conclusão

Não há informações que comprovem que hospitais na Austrália estão a medicar doentes infetados com Covid-19 com recurso à Ivermectina. Uma mulher, que se diz enfermeira, relata, num vídeo partilhado nas redes sociais, que os doentes estão a receber esse medicamento e que é este que os está a “salvar” da doença.

No entanto, o governo australiano e as autoridades de saúde nacionais afirmam que não há evidências suficientes para recomendar o uso deste medicamento em tratamentos relacionados com a Covid-19.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebookeste conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.

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