Chamam-lhes Morgellons e dizem ser uns estranhos parasitas negros que se movem dentro das máscaras cirúrgicas. A alegação é feita em várias publicações que correm as redes sociais, e que têm sido largamente partilhadas, normalmente acompanhadas de um vídeo onde se vê filamentos negros a mexer-se. Haverá estranhos parasitas dentro das máscaras? As publicações têm surgido em várias línguas, desde português, inglês e alemão, e a conclusão, em todos os países, é a mesma: é falso.
Na publicação analisada pelo Observador, o vídeo é acompanhado de um texto: “Olhem o que tem nas máscaras. Já mostrámos dois testes que apresentam uma espécie de verme muito estranho, cujo nome é Morgellons, encontrados no teste de Covid e também nas máscaras descartáveis, ambas da China.” Sobre o verme, a publicação diz ainda que os Morgellons “reagem ao calor” e “absorvem humidade”.
Primeiro facto: não existem vermes Morgellons. O que existe é a doença de Morgellons em que um dos sintomas é a sensação de ter insetos a rastejar na pele. No entanto, a comunidade científica ainda não chegou a acordo sobre o que poderá provocar esta doença, ou se ela é antes uma perturbação psiquiátrica. O Centro de Controle e Doenças (CDC) dos EUA analisou o caso, com amostras de 115 pessoas que sofrem de Morgellons, e concluiu que a condição não é causada por infeção ou parasitas.
Quanto ao que se vê nos vídeos, tanto a AFP como a Reuters fizeram uma verificação de factos e concluíram que os filamentos não são parasitas. A AFP pediu mesmo a especialistas de diversos países que replicassem as experiências feitas por amadores nos vídeos que correm as redes sociais e estes foram unânimes em rejeitar essa possibilidade.
“O mais provável é que sejam pedaços de tecido. O ar está cheio destes fragmentos de tecido que flutuam livremente juntamente com pólen, mofo, partes de células mortas da nossa pele, pedaços microscópicos de terra, etc”, defendeu Jana Nebesarova, professora adjunta do laboratório de Microscopia Eletrónica da Academia checa de Ciências.
Marina Jovanovic, especialista em Ciências Biológicas e investigadora do Instituto de Química Geral e Física de Belgrado, criticou a forma amadora como foram feitas as experiências virais em que as máscaras estão constantemente a ser tocadas com as mãos, “onde temos germes” que podem ser transferidos para o objeto em análise. “Além dos micróbios, é possível transferir resíduos às máscaras, como pelos, fibras vegetais e outras impurezas. O que vimos no microscópio numa máscara usada não são parasitas, nem nada vivo. São apenas restos de material”, disse.
Na Universidade de Boston, Jeffrey Marlow, professor adjunto de biologia, também só encontrou fios. “Depois de tirar uma máscara nova da embalagem e analisá-la com um microscópio vertical Nikon a 80x, vi uma rede de fios claros e translúcidos. Aproximadamente uma ou duas vezes a cada centímetro quadrado, havia fios mais escuros, curtos e muitas vezes retorcidos. Durante os 10 minutos que durou a minha observação no laboratório, nenhum dos filamentos se moveu.”
Por último, Christian Scarlach, porta-voz da fabricante alemã D/Maske, explicou que “as máscaras com uma boa eficiência de filtragem bacteriana têm uma carga eletrostática particularmente alta”, o que faz com que atraiam e capturem pequenas partículas no tecido. “Se transportar a máscara no bolso, as fibras aderem-se automaticamente.” E é exatamente a eletricidade estática que pode criar a ideia de movimento ou simplesmente uma corrente de ar, visto que as experiências não são feitas segundas as regras que têm de ser respeitadas num laboratório profissional.
Conclusão:
Falso. Os filamentos negros observados no vídeo não são parasitas nem nenhum tipo de organismo vivo. Vários especialistas acreditam tratar-se de filamentos de tecido que se movem devido à eletricidade estática.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.