Nas redes sociais está a circular uma tese que dá conta de que o jornal norte-americano The New York Times apoiou Kamala Harris nas presidenciais que se realizam no próximo dia 5 de novembro e que não o fazia há mais de meio século. E, de facto, é verdade que o jornal manifestou apoio à atual vice-presidente dos EUA.

No dia 30 de setembro, o conselho editorial do New York Times apoiou a candidatura de Kamala Harris à Casa Branca, defendendo que a democrata é a “única escolha patriótica para Presidente” e alertando para um quadro sombrio de um eventual segundo mandato do ex-presidente e candidato republicano Donald Trump.

“É difícil imaginar um candidato mais indigno de servir como Presidente dos Estados Unidos do que Donald Trump. Ele provou ser moralmente inapto para um cargo que pede ao seu ocupante que coloque o bem da nação acima do interesse próprio”, refere o conselho editorial, frisando que Trump “provou ser temperamentalmente inapto para um papel que requer as mesmas qualidades — sabedoria, honestidade, empatia, coragem, contenção, humildade, disciplina — de que ele mais carece”.

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Mais do que as características que descreveu como “desqualificantes”, o conselho editorial do jornal norte-americano recordou ainda que o ex-presidente é alvo de “muitas acusações criminais”, mas também tem uma “idade avançada”. Além disso, acrescentaram, tem uma “falta fundamental de interesse em política” e a sua equipa é um grupo “cada vez mais bizarro de associados”.

“Por essa razão, independentemente de quaisquer divergências políticas que os eleitores possam ter com ela, Kamala Harris é a única escolha patriótica para Presidente”, escreveu na altura o conselho editorial, que recordou o percurso de uma “dedicada funcionária pública que demonstrou cuidado, competência e um compromisso inabalável com a Constituição”.

Coisa diferente é a segunda premissa da publicação, que revela que o New York Times não manifestava publicamente apoio a qualquer candidato à Casa Branca há mais de meio século, desde a eleição de Dwight D. Eisenhower, o 34.º Presidente dos Estados Unidos que liderou o país entre 1953 e 1961.

Para começar, no site do New York Times há uma linha cronológica que desmente a publicação e que dá conta de todos os candidatos presidenciais que o New York Times apoiou ao longo dos últimos anos, uma tradição que começou em 1860 e que nunca terminou — o que comprova que a publicação é falsa. De facto o apoio a Eisenhower, em 1952 e em 1956, existiu, mas depois dessa data houve mais 15 eleições com apoios declarados.

Além da prova, que permite perceber que a publicação é falsa, Charlie Stadtlander, porta-voz do New York Times, respondeu à agência Reuters frisando que se tratava, “de facto, de uma alegação falsa”, esclarecendo que o jornal apoia candidatos desde 1860 e desmentindo o argumento de que o estaria a fazer agora, 70 anos depois do último posicionamento público sobre umas presidenciais, pelo risco de Trump ser eleito.

Conclusão

É falso que o jornal norte-americano The New York Times tenha apoiado Kamala Harris para a presidência dos EUA depois de mais de meio século sem se pronunciar sobre a preferência de candidatos à Casa Branca. Além de o porta-voz ter confirmado que se trata de uma alegação “falsa”, o próprio jornal tem um cronologia online onde recorda todos os apoios prestados desde 1860, o que deita por terra a narrativa que circula nas redes sociais. É verdade que o New York Times apoia Kamala, não é verdade que este apoio seja raro ou inexistente há décadas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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