A narrativa não é nova: uma carrinha estará supostamente a tentar raptar crianças junto a escolas — neste caso, na zona de Loures. Só que, desta vez, a publicação no Facebook onde é (mais uma vez) repetida tomou proporções, de tal forma que a PSP está até a ser inundada com chamadas telefónicas de pais preocupados com a possibilidade de haver tentativas de rapto junto às escolas dos seus filhos.
A dimensão é semelhante nas redes sociais: a publicação que lançou o rumor, feita a 30 de janeiro, já ultrapassa as 400 partilhas. No entanto, fonte oficial do Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) da PSP desmentiu esta informação ao Observador e adiantou até que as equipas da Escola Segura costumam andar naquela zona e não têm registo de tentativas de rapto. Ainda assim, a mesma fonte explicou ao Observador como é que este rumor pode ter surgido.
A publicação enumera quatro escolas onde uma carrinha branca e outra carrinha azul (ou verde, de acordo com um dos comentários) andará a fazer “abordagens” aos alunos. E alerta ainda para outra situação semelhante que teria acontecido na semana anterior: um aluno teria sido aliciado por quatro homens encapuzados. Mais: na publicação, lê-se que a PSP já anda a rondar as escolas à paisana, devido a estes casos. Nos comentários, outros utilizadores vão acrescentando novos dados à publicação, que apenas contribuem para difundir o alarme.
Ao que o Observador apurou junto de fonte oficial do COMETLIS, o caso teve origem, na verdade, num aluno de seis anos que frequenta o primeiro ano de escolaridade. A criança disse aos pais que uma carrinha teria parado junto dele, perto da escola, e que a pessoa que ia lá dentro lhe teria oferecido um chupa-chupa — o caso referido na publicação. A mãe da criança terá então ido à esquadra da PSP e os elementos desta força de segurança deslocaram-se à escola.
Desde logo, no relato inicial da criança não eram mencionados quaisquer homens encapuzados como refere a publicação em causa. Depois, segundo garantiu fonte oficial do COMETLIS, não foram encontrados indícios de qualquer tentativa de rapto ou mesmo que a situação tenha acontecido. “[Os agentes da PSP] falaram com funcionários e diretores de turma e todos disseram que não sabiam da situação, não detetaram qualquer carrinha e que o aluno em causa não tinha partilhado esse história. Ninguém confirmou ou se apercebeu de nada”, assegurou a mesma fonte garantindo que foram feitas várias diligências e que nenhuma apontou para que a história fosse verdade.
Depois desta situação, vários pais preocupados começaram a ligar para a esquadra da PSP local. Um deles disse que sabia de outra situação de uma carrinha que tinha parado junto a um rapaz, perto da escola básica João Villaret, a pedir indicações — o que é também referido na publicação. Também aqui a PSP não encontrou indícios de que tivesse havido uma tentativa de rapto de alguma criança, acreditando que este alegado caso não tivesse apenas passado de um rumor. Fonte oficial do COMETLIS lembrou ao Observador que a zona que é mencionada, em Loures, costuma ser vigiada por agentes da PSP, no âmbito do programa Escola Segura, que se teriam apercebido de alguma tentativa de rapto caso tivesse acontecido.
A mesma fonte esclareceu que, além das equipas da Escola Segura, agentes da PSP à paisana andaram numa das escolas referidas, mas por causa de outra situação que em nada está relacionada com supostas tentativas de rapto — o que pode ter gerado alguma suspeita por parte dos pais que associaram as duas situações. “Não há nenhuma situação alarmante”, disse a fonte, lamentando que esta publicação esteja a tomar proporções que não correspondem à realidade. E lembrou: as queixas devem ser feitas junto das autoridades competentes e não difundidas no Facebook — o que só acaba por gerar alarme social.
Casos destes são frequentes. Já em novembro do ano passado, um alegado alerta — desmentido pelo Observador — sobre uma carrinha que andaria a tentar raptar crianças em Mirandela também levou dezenas de pais preocupados a ligar para a PSP.
Fact check. Uma carrinha anda a tentar raptar jovens em Mirandela?
Em janeiro deste ano, por exemplo, circulou no Facebook uma denúncia falsa de uma carrinha branca, que teria sido usada para tentar raptar uma criança junto à Escola D. João II, em Santarém. A carrinha pertencia a um homem de 44 anos que ficou surpreendido ao ver a publicação que o acusava de tentar raptar crianças. O proprietário da carrinha chegou mesmo a apresentar uma queixa contra desconhecidos. À data, Jorge Soares, subintendente responsável pelo Núcleo de Imprensa e Relações Públicas do Comando Distrital de Santarém da PSP, desmentiu o suposto aviso, lamentando que estes casos sejam cada vez mais frequentes e alertando para os perigos das partilhas de casos não confirmados.
Fact check. Há uma carrinha branca a raptar crianças em Vila Nova de Gaia?
No mês seguinte, surgiu um suposto alerta — já desmentido pelas autoridades ao Observador — para uma carrinha branca que estaria na origem de várias tentativas de rapto de crianças na zona de Vila Nova de Gaia. Tal como todas as outras, esta publicação também é falsa.
Conclusão
Uma publicação pede aos pais para estarem atentos uma vez que andará uma carrinha branca e outra azul (ou verde, de acordo com um dos comentários) a tentar raptar crianças. O rumor começou com o caso de um aluno de seis anos que disse aos pais que uma carrinha teria parado junto dele, perto da escola, e que a pessoa que ia lá dentro lhe teria oferecido um chupa-chupa. A mãe da criança terá então ido à esquadra da PSP e os elementos desta força de segurança deslocaram-se à escola.
No entanto, segundo garantiu fonte oficial do COMETLIS, não foram encontrados indícios de qualquer tentativa de rapto ou mesmo que a situação tenha acontecido. Foram feitas várias diligências e nenhuma apontou para que a história fosse verdade. Apesar disto, o caso levou a que a esquadra da PSP de Loures fosse inundada com telefonemas de pais preocupados.
Mas os agentes da PSP que, no âmbito do programa Escola Segura, costumam andar junto aos estabelecimentos de ensino mencionados não têm registos de tentativas de rapto.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
Errado
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.