Uma publicação que foi partilhada múltiplas vezes nas redes sociais mostra uma imagem de um jornalista com um capacete azul, colete à prova de bala e vários equipamentos de trabalho, como câmaras fotográficas. O jornalista está pregado a uma cruz de madeira, tal e qual Jesus Cristo, com as mesmas chagas. Na publicação, partilhada no passado dia 6 de fevereiro, o utilizador do Facebook descreve a imagem como sendo uma representação dos jornalistas que morreram durante o conflito, em Gaza, desde o início da ofensiva israelita, a 7 de outubro de 2023. A publicação vem acompanhada da legenda: “Banksy sobre o assassinato de jornalistas em Gaza #Gaza #Israel #CeasefireNOW #journalists.”

De acordo com o comité internacional de proteção de jornalistas [Committee to Protect Jornalists], já morreram pelo menos 85 profissionais da comunicação social na Faixa de Gaza desde o início do conflito com Israel, sendo que 78 eram palestinianos, quatro eram israelitas e três eram libaneses. A organização dá ainda conta de 16 jornalistas que ficaram feridos, quatro estão desaparecidos e 25 foram presos.

Foi em homenagem a estes profissionais que surgiu esta fotografia, que é verdadeira. Só que, ao contrário do que alegam vários utilizadores que partilharam a imagem, o trabalho não tem a assinatura de Bansky, artista de rua e ativista britânico.

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Trata-se de uma imagem criada com recurso a Inteligência Artificial, pelo designer Hassan Ragab, um artista egípcio a viver na Califórnia, nos Estados Unidos. Hassan publicou a imagem, pela primeira vez, no Instagram, na véspera de Natal. Na legenda da fotografia, o artista sinaliza que se trata de um trabalho digital, e não uma imagem real, deixando ainda críticas à quantidade de jornalistas que já morreram vítimas do conflito no enclave palestiniano. A descrição do artista termina dizendo que “há milhões de crianças que enfrentam o horror de receber bombas em vez de presentes no Natal, enquanto que os jornalistas estão a ser punidos por nos dizerem a verdade”.

Mais de centenas de partilhas e um mês e meio depois, foi próprio Hassan Ragab que, através da rede social X, desmontou a mentira que circulava nas redes sociais ao confirmar que a imagem era dele e não de Bansky. No entanto, escreveu: “Não sei como me sinto ao ver isto. Mas eu adoro o Banksy, por isso, sem ressentimentos”.

À Reuters, a Pest Control, empresa que faz a verificação da autenticidade das obras de Bansky, também confirmou que esta não era uma obra produzida pelo artista britânico. A Reuters conseguiu ainda obter declarações de Hassan Ragab, o autor da imagem, que explica que a publicação serviu para lembrar “a importância de manter os jornalistas seguros, especialmente aqueles cuja única agenda é apresentar ao mundo uma imagem verdadeira, mesmo que a realidade seja horrível”.

Conclusão

A imagem que mostra o jornalista crucificado não é de Banksy. Foi criada pelo artista egípcio Hassan Ragab, a viver atualmente na Califórnia, nos Estados Unidos, e que recorreu a ferramentas de Inteligência Artificial.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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