No início de abril, o massacre de Bucha na Ucrânia, com imagens de cadáveres espalhados pelas estradas daquela região, chocaram milhões de pessoas um pouco pelo mundo inteiro. Esta cidade a noroeste de Kiev foi, entretanto, recuperada pelas tropas ucranianas e, por causa disso, tornou-se pública esta tragédia. Rapidamente surgiram diferentes reações aos acontecimentos de Bucha: houve quem condenasse as tropas lideradas por Vladimir Putin, acusando-as de crimes de guerra e de genocídio, e outros, ligados ao Kremlin, alegaram que se tratava de uma encenação liderada pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. No entanto, em relação à publicação em causa, é possível afirmar que se trata de um conteúdo falso, já anteriormente verificado e desmentido.
São apenas cinco segundos de vídeo. “Imagens terríveis de jornalistas ucranianos de Bucha abandonados por tropas russas”, alega o autor. A publicação denota um tom de ironia, quando refere que “um dos cadáveres, durante a passagem da coluna, começa a acenar com a mão”. “Verdadeira revolta dos mortos. Horror!”, refere o autor. Estas imagens foram filmadas a partir de um comboio militar ucraniano, estando integradas num vídeo maior, publicado no passado dia 2 de abril no canal de Youtube da televisão ucraniana Espreso.TV. Com melhor qualidade, foram igualmente partilhadas pelo Ministério da Defesa daquele país no Twitter.
Através de uma análise mais detalhada, percebe-se que o vídeo foi acelerado. O aparente movimento de braço é, na verdade, uma ilusão provocada por uma gota de chuva que desce no pára-brisas do veículo de onde as filmagens foram feitas. Para isso, basta consultar o vídeo feito pela conta Aurora Intel, no Twitter, que colocou, lado a lado, duas versões da imagem, onde é possível perceber, desmistificar e chegar à conclusão de que estamos perante uma manipulação.
https://twitter.com/AuroraIntel/status/1510641101643919368?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1510641101643919368%7Ctwgr%5E%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fchecamos.afp.com%2Fdoc.afp.com.327R428
Entretanto, alguns meios de comunicação social como a AFP já se deslocaram até Bucha e comprovaram que, de facto, os cadáveres nas ruas são verdadeiros. Já o New York Times, num longo artigo sobre este trágico evento, analisou imagens de satélite publicadas a 4 de abril, que comprovam que os corpos em questão já estavam naquela região, dispostos daquela forma, há várias semanas. Também o canal britânico BBC verificou as imagens de satélite e chegou à conclusão de que as alegações russas não são verdadeiras, tanto quanto foi possível apurar.
Portanto, não surgiram após a retirada das forças de Vladimir Putin de Bucha. Não há, porém, até ao momento, nenhuma prova de que os cadáveres no vídeo sejam de jornalistas ucranianos, tal como alegado pelo autor da publicação original.
Conclusão
As imagens do massacre de Bucha têm gerado muita controvérsia na comunidade internacional. Por um lado, a Rússia diz que se trata de uma encenação do governo da Ucrânia, por outro, o ocidente, aliado ao país liderado por Volodymir Zelensky, defende que se trata de um crime de guerra protagonizado pelas tropas de Vladimir Putin. A verdade é que, olhando para as imagens e consultando os vários fact-checks, notícias do caso e trabalhos dos jornalistas no terreno, não se pode afirmar que se trata de uma encenação, até ao momento. Já o vídeo em causa, que alega que estamos perante cadáveres de jornalistas em Bucha, contém uma manipulação: o suposto movimento de braço de um cadáver de um jornalista morto, nada mais é do que uma gota de água, motivada pela chuva. Por outro lado, não há provas, até agora, que os corpos visíveis nas ruas de Bucha sejam de jornalistas ucranianos.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook.