Várias publicações que circulam na rede social Facebook partilham um longo texto, que alegam ser o manifesto escrito por Luigi Mangioni, o jovem de 26 anos suspeito de ter assassinado a tiro, no início de dezembro, o diretor-executivo da maior empresa de seguros de saúde dos EUA, Brian Thompson. “O manifesto de Luigi Mangione que ele escreveu. Leiam-no e compreendam que estamos fartos de estar fartos e cansados”, lê-se na publicação.
No texto partilhado, intitulado “O Complexo Alopático e Suas Consequências”, é alegadamente contada a história da mãe de Mangione, que sofre de “neuropatia grave”, é descrito o custo do tratamento para a doença e os limites da cobertura da UnitedHealthcare — precisamente a companhia de seguros que era liderada por Thompson. Também menciona a dor nas costas do autor, o que condiz com os relatos feitos por Luigi Mangione nas redes sociais.
No entanto, o texto partilhado não é o manifesto de Mangione. Existe, de facto, um manifesto escrito por Mangione, e cujos detalhes foram divulgados pelo jornalista norte-americano Ken Klippenstein. O manifesto real — endereçado às próprias autoridades — é mais curto e foi escrito à mão, tendo sido encontrado pela polícia na mochila do suspeito.
“Peço desculpa por qualquer conflito ou trauma, mas tinha de ser feito.” Ao longo das 262 palavras que compõem o texto, Mangioni explica a motivação para alvejar Thompson em Nova Iorque, expressando as várias discordâncias com o sistema de saúde pública dos Estados Unidos da América e a indústria das seguradoras, como a UnitedHealthcare. “Sinceramente, estes parasitas estavam a pedi-las“, escreveu na nota.
O primeiro ponto abordado pelo acusado de homicídio é a estrutura do sistema de saúde do EUA. Luigi refere que o país tem o sistema de saúde mais caro do mundo para os utilizadores mas que é apenas o 42.º com maior esperança de vida. Para o suspeito, existe uma clara discrepância entre o montante investido e a qualidade dos cuidados de saúde.
Mangione acusa também a United, a maior seguradora do país de ter uma elevada capitalização bolsista, “apenas atrás da Apple, Google e Walmart”. A United “cresceu e cresceu, tal como a nossa esperança de vida? Não”. “A realidade é a seguinte, tornaram-se simplesmente demasiado poderosos e continuam a abusar do nosso país para obterem lucros porque o público americano permitiu que se safassem”, criticou ainda.
O problema, defendeu ainda, não é apenas uma “questão de sensibilização” da população, mas sim de “jogos de poder”. Luigi considerou que “muitos iluminaram a corrupção e a ganância há décadas”, mas que os problemas permanecem intactos nos dias de hoje. “Evidentemente sou o primeiro a enfrentá-los com uma honestidade brutal“.
Conclusão
As imagens não mostram o manifesto escrito por Mangione. O texto real, muito mais curto do que manifesto partilhado no Facebook, foi encontrado na mochila de Mangione e era endereçado à polícia.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.