Várias publicações que circulam na rede social Facebook alegam que o Japão ameaçou o conhecido empresário Bill Gates, depois de terem sido detetadas, nas vacinas usadas para prevenir a Covid-19, substâncias que podem provocar a interrupção da gravidez. “Japão alerta Bill Gates que seus ‘dias estão contados’ após medicamentos abortivos serem encontrados em vacinas”, pode ler-se numa das publicações, que se refere ainda que a descoberta foi feita pela task force criado pelo governo nipónico. Terá sido mesmo assim?

O dono da Microsoft e filantropo norte-americano, de 68 anos, é, desde 2000, o rosto mais conhecido da chamada Aliança Gavi, um projeto da Fundação que criou com a mulher, Melinda, com o objetivo de melhorar o acesso das crianças dos países mais pobres às vacinas — tendo já apoiado a vacinação de mais de mil milhões de crianças em todo o mundo. Quando surgiu a pandemia de Covid-19, a Aliança começou a trabalhar numa forma de facilitar o acesso à vacinação a toda a população mundial, e, em 2024, anunciou que apoiaria a distribuição de 200 milhões de vacinas contra a Covid em crianças de África e da Ásia.

Por causa disto, Bill Gates tem sido alvo das mais variadas teorias da conspiração, que se tornaram ainda mais frequentes desde a pandemia. Já foi acusado de ter criado a pandemia para beneficiar financeiramente com a distribuição de vacinas; de ter dito que as vacinas contra a Covid se destinavam a “controlar” a humanidade; de ter pago 10 milhões de dólares para tornar a gripe das aves transmissível a humanos; ou de ter introduzido o VIH na vacina contra a Monkeypox (a chamada varíola dos macacos) entre outras teorias — todas comprovadamente falsas.

Agora, várias publicações salientam que alguns cientistas japoneses estão a pedir a “promotores internacionais” que abram um caso de crimes contra a humanidade contra Bill Gates. Mas não há nenhuma indicação nesse sentido. Também não existe nenhum dado que suporte a alegação que as vacinas contra a Covid-19 contêm algum tipo de medicamento abortivo nem que cientistas japoneses tenham alertado para isso. Aliás, segundo um estudo feito em três hospitais sauditas, e publicado no jornal científico Cureus, a vacinação não está associada a um aumento do risco de aborto em mulheres vacinadas durante o primeiro e o segundo trimestres de gravidez. Um outro estudo, feito com mulheres neerlandesas, vai no mesmo sentido: não foi identificada uma associação da vacinação contra a Covid-19 durante a gravidez com o risco de aborto espontâneo.

Conclusão

Não há quaisquer dados que comprovem que o Japão ou cientistas japoneses tenham ameaçado o empresário Bill Gates por causa das vacinas anti-covid. Para além disso, os estudos existentes mostram que não existe nenhum relação entre a vacinação e o aborto.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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