A polémica já tem alguns anos e motivou até um desmentido do próprio jornal Folha de S. Paulo. Mas nem isso — nem os sucessivos fact-checks feitos por outros jornais brasileiros — foram suficientes para que a publicação de 2018 deixasse de ser divulgada como verdadeira. Uma imagem nas redes sociais dá conta de um alegado “escândalo nos bastidores!” do Brasil e aponta que o ex-Presidente Lula da Silva detém 52% das ações do jornal paulista. “Trocando em miúdos: Lula é o dono da Folha de S. Paulo”, lê-se. Para um dos utilizadores que publica a imagem, isso explica “porque a foice de SP [S. Paulo] só ataca Bolsonaro”. Mas será mesmo assim?

As primeiras publicações sobre o tema datam de 2018, por altura da segunda volta das eleições presidenciais (que ocorreu a 28 de outubro desse ano) e que opôs Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (então candidato do PT e sucessor de Lula da Silva). O “boato”, como lhe chamou a Folha de S. Paulo, foi de tal forma densamente publicado que o jornal acabou por rebatê-lo. Num artigo, explica que a Folha pertence à Empresa Folha da Manhã S.A. que, por sua vez, é detida a 100% pela família Frias de Oliveira.

Mais concretamente, a publicação foi fundada em 1921, tendo sido comprada no início dos anos 60 por Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, dois empresários que se separaram em 1991. A partir daí, a família Frias ficou como única detentora da empresa. Essa informação foi, aliás, confirmada por vários jornais de fact-checking brasileiros. Por exemplo, o AosFatos mostra um excerto do registo da empresa na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp), segundo o qual a Folha é detida pela “Larimus Participações CNPJ” — também controlada pela famílias Frias, de acordo com um outro documento —, “Luis Frias CPF” e “Octavio Frias de Oliveira Filho CPF”.

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Já o Boatos.org, outro jornal de fact-checking, associa a divulgação da suposta polémica nas redes sociais com a publicação de reportagens pela Folha sobre Jair Bolsonaro. Uma delas dava conta de uma campanha no Whatsapp organizada por empresários apoiantes do então candidato contra o PT, com recurso a bases de dados vendidas por agências de estratégia digital, o que é ilegal no país. Na altura da publicação, Lula da Silva estava detido por corrupção e lavagem de dinheiro (acabaria por vir a ser libertado no final de 2019).

A publicação que associa Lula da Silva ao jornal voltou, porém, a ser amplamente divulgada nos últimos dias, numa altura em que Lula se mantém à frente de Bolsonaro nas sondagens para as eleições de 2022. Uma delas, da Ipec, revela que Lula soma 48% das intenções de voto, mais 25 pontos percentuais que o atual presidente. Lula da Silva, que já disse estar disponível para a corrida à presidência pelo PT, foi autorizado a candidatar-se depois de ter visto os tribunais anularem-lhe duas condenações por corrupção.

Conclusão

Não é verdade que Lula da Silva detivesse, em 2018, ações da Folha de S. Paulo. Os registos disponíveis sobre a detenção do capital social do jornal mostram que a publicação é detida pela família Frias, que não está ligada a Lula da Silva. O próprio jornal já desmentiu que a informação veiculada nas redes sociais fosse verdadeira.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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