A entrevista que o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, deu à RTP no final de junho serve de mote a uma publicação do Facebook que acusa o ex-ministro das Finanças de dois governos PS de ter deixado três afirmações. A primeira é que as taxas de juro vão continuar a subir; a segunda é “aconselhar os jovens a emigrar”; e, a última, que não podem existir “grandes subidas de salários”.

“Aguenta povo se faz favor”, conclui esta publicação que aconselha a ver “a Grande Reportagem da RTP”, embora a citação seja de outro programa, a “Grande entrevista” que, no caso, foi com Mário Centeno, o “ex-ministro socialista”.

Comecemos pela afirmação relativa às taxas de juro, que têm sido decididas pelo Banco Central Europeu. Na entrevista, o governador do Banco de Portugal (BdP) explica o objetivo desta subida, que coloca como uma forma de “reprimir o consumo”. E refere que “estamos a chegar ao momento em que a política monetária poderá pausar. Estamos muito próximos”. O responsável admite que “as taxas euribor vão continuar a subir até setembro, novembro, deste ano”, detalhando que nas taxas a 12 meses isso acontecerá em setembro e no caso das taxas a três e seis meses no mês de novembro.

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“Os futuros indicam que a partir destas datas as taxas vão começar a cair lentamente, muito lentamente. São ajustamentos modestos face ao aumento que houve. E a queda não vai ser tão rápida como a subida”, acrescenta mesmo. Ou seja, Centeno admite, sim, que as taxas vão continuar a subir, embora indique momentos específicos em que prevê que, ainda este ano, possam começar a descer.

Passemos agora para a afirmação sobre os salários. O governador do BdP diz que os rendimentos subiram 12%, no grupo de rendimentos mais baixos, devido ao aumento do salário mínimo e dos “apoios diferenciados dados às famílias”. “A política orçamental dirigiu-se aos mais vulneráveis”, diz o ex-ministro que, quando questionado sobre se há margem para aumentos mais significativos em 2024, é contido. Para Centeno, neste momento os números da economia “são de enorme responsabilidade e não se deve estragar. Não podemos tomar decisões que ponham em causa o ciclo económico”, afirma. A posição, não é favorável a grandes aumentos salariais em 2024.

Quanto à outra afirmação, relativa aos jovens, Mário Centeno não fala do assunto na entrevista. Há uma parte em que o ex-ministro é questionado sobre as questões da formação de jovens e da emigração da população qualificada e Centeno responde que isso “é um mito”. Começa por admitir que “a nova geração em Portugal tem um nível de qualificação mais elevado do que a generalidade dos países” e que as famílias estão a investir mais em formação escolar.

Depois disse que “a economia portuguesa tem reagido gradualmente e tem conseguido criar em Portugal postos de trabalho qualificados com salários acima da média”. Para refutar a ideia de uma fuga de cérebros, Centeno apresentou dados. Desde 2019, o país “criou 112 mil postos de trabalho em setores como comunicação e consultoria, setores científicos, setor do imobiliário”, afirmou, acrescentando que, nestes setores, “o salário médio é de 1.800 euros” mensais. Garantiu ainda que o emprego nestes setores era, em 2019, 10% e hoje está entre os 14% e os 15%.

Para o governador do BdP, o país está a passar “por uma transição” na criação de empregos mais qualificados e esse processo “é lento”. “Não será de repente que as ambições desses jovens serão satisfeitas”, assumiu, garantindo que até quer “que as ambições dos jovens sejam muito mais elevadas”.

O ex-ministro não aconselhou jovens a emigrar e a sua linha nesta matéria tem sido oposta, com várias declarações do tempo em que assumiu as funções nas Finanças a criticar o Governo anterior e a colocar como objetivo económico “estancar o fluxo de emigração”.

Conclusão

Não há nenhum momento da entrevista em que o governador do Banco de Portugal e ex-ministro das Finanças aconselhe os jovens portugueses a emigrar. Existe uma parte da entrevista onde é questionado sobre a fuga de jovens qualificados do país, mas Mário Centeno refuta a ideia, argumentando com os níveis de emprego qualificado no país e o salto que registaram nos últimos quatro anos. Também diz que as famílias estão, de facto, a investir mais na formação. E admite que as duas realidades ainda estão em ajustamento, mas em nenhum momento apresenta a emigração como um conselho, como é referido na publicação. Já quanto ao aumento de juros, é verdade que o ex-ministro diz que continuarão a subir, embora também apresente um calendário próximo em que isso vai deixar de acontecer. E quanto ao aumento significativo dos salários, tem, de facto, uma posição mais cautelosa.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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