“Político Holandês faz pirete a António Costa“. O título do artigo é completamente falso, embora seja verdade que o primeiro-ministro criticou de forma veemente o ministro das Finanças holandês. O artigo, publicado na página PTNews, não só tem um título falso como também é acompanhado de uma fotografia que mostra um homem a esticar o dedo do meio. Mas nada disto tem a ver com o ministro Wopke Hoekstra. É verdade que António Costa se indignou com declarações do governante holandês — numa reunião onde nem esteve — mas é falso que Wopke Hoekstra lhe tenha dirigido qualquer gesto.
Desde logo, a imagem que acompanha o artigo não é a de nenhum político holandês a mostrar o dedo do meio a António Costa. É, na verdade, de um frame de uma reportagem do Channel 4 onde aparece A. Nawan, antigo vice-procurador-geral do Sri Lanka. A imagem foi recolhida, em 2011, após serem exibidos vídeos no edifício da ONU, em Genebra, que provavam a existência de crimes de guerra no Sri Lanka. Durante a declaração e enquanto negava a autenticidade desses vídeos, Nawan fica com o dedo médio esticado a meio da declaração. E o que tem esta a fotografia a ver com António Costa, com Wopje Hekstra ou com o Conselho Europeu? Absolutamente nada.
António Costa não esteve sequer na mesma sala, nem na mesma videoconferência em que esteve Wopje Hekstra. Na verdade, o primeiro-ministro português esteve reunido por vídeoconferência no Conselho Europeu com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte.
O que é verdade é que foi após esse Conselho Europeu, a 26 de março, que o primeiro-ministro reagiu com violência às declarações de um político holandês com quem não tinha reunido, Wopke Hoekstra. No final da reunião com os restantes chefes de governo, António Costa mandava a primeira indireta, a que não falava a mesma língua que Haia. “Mark Rutte é muito simpático, mas não fala português nem eu falo holandês”. Quando lhe faziam a pergunta sobre Hoekstra: “Esse ainda fala menos português“, respondeu.
Na fase das perguntas, Costa foi questionado pelos jornalistas sobre as declarações do ministro das finanças holandês, Wopke Hoekstra, no início da semana no Ecofin. O ministro terá sugerido uma investigação a Espanha depois de Madrid ter afirmado que não tinha margem orçamental para responder à crise provocada pelo novo coronavírus sem o apoio financeiro da União Europeia.
António Costa respondeu assim: “Esse discurso é repugnante”. E reforçou com ênfase, soletrando: “A expressão é mesmo esta: re-pug-nan-te”. No final da reunião de quinta-feira do Conselho Europeu, por videoconferência, António Costa assumiu-se como porta-voz do descontentamento sobre a desunião na União Europeia, mas já depois de apontar mira a três países que não chegou a nomear e de atacar ferozmente a posição assumida pelo Governo dos Países Baixos.
No dia seguinte, Costa reiterava as declarações e, quando questionado sobre se se tinha excedido, respondeu: “Estão a brincar comigo?”.
De onde vem então a história do dedo do meio? Na verdade, de um jornal holandês e sobre esta mesma polémica. O diário de Volkstrant escreveu um artigo sobre a reunião do Ecofin que tem como título: “Hoekstra luta contra o pacote de apoio da UE: ‘Um dedo médio holandês ao sul’“. Este dedo médio é no sentido figurado — por ter atacado Espanha e Itália — e não literal.
O mesmo artigo citava fontes diplomáticas e altos funcionários da UE que se mostravam “chocados” e “profundamente indignados” com a posição holandesa. Fontes essas que consideraram as declarações como “um insulto à Itália” ou um “dedo médio holandês” aos países do sul. O ministro das finanças português, Mário Centeno, assistiu a tudo por videoconferência.
O ministro das Finanças holandês até já veio retratar-se e disse esta terça-feira numa entrevista à RTL, citada pela agência Reuters, que as suas declarações revelaram “pouca compaixão“.
Conclusão
É absolutamente falso que o ministro holandês Wopke Hoekstra tenha dirigido um gesto obsceno a António Costa. A fotografia que acompanha o artigo tem o objetivo de tornar o título falso ainda mais enganador. É verdade que o primeiro-ministro português classificou o discurso de Hoekstra de repugnante e que dirigiu duras críticas ao holandês, mas foram motivadas pelas declarações que o governante fez relativamente a Espanha e Itália. O primeiro-ministro português nem sequer esteve em reunião com Hoekstra, mas sim com o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
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FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.