Uma publicação partilhada a 18 de abril no Facebook afirma que a NASA, a agência espacial norte-americana, iria utilizar um “satélite infravermelho” para “medir a temperatura corporal de toda a população” e “mapear a taxa de contaminação do Covid-19”. A informação é, no entanto, falsa e anedótica — como pode depreender-se com o restante teor da mensagem: “É muito importante que você esteja todo nu do lado de fora da sua casa, na sua varanda, no jardim ou em frente à porta de entrada. Enquanto segura o seu BI [bilhete de identidade] na mão”, escreve o utilizador. Ou seja, a ideia era brincar com a ideia de as pessoas virem nuas para a rua.
No entanto, nem todos os utilizadores do Facebook compreenderam a dita piada escrita por este utilizador, como provam alguns dos comentários que foram feitos à publicação, e levaram a sugestão a sério. Resultado? A mensagem acabou por ser partilhada algumas dezenas de vezes, por outros utilizadores, nas redes sociais. Contudo, no dia seguinte à publicação — o tal em que era suposto a NASA medir a temperatura à população que estava nua –, nada aconteceu às 22h. Porque não estava prevista nenhuma monitorização da temperatura corporal. A NASA nãoe mitiu nenhum comunicado oficial a avisar que iria fazer isto.
Os satélites de que fala a publicação captam ondas infravermelhas (uma região no espectro da radiação eletromagnética), que, de facto, também podem ser emitidos pelos objetos sob a forma de calor — incluindo pelos humanos, esclarece a NASA. Mas os satélites infravermelhos servem para captar a radiação emitida pelas nuvens, água ou pela superfície da Terra, acrescenta o departamento de Ciências Atmosféricas e Oceânicas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Ou seja, não servem para medir a temperatura corporal dos humanos. Não é esse o seu objetivo.
Essa radiação pode ser usada para estudar mudanças na temperatura da terra, da atmosfera e do mar, permitindo vigiar as alterações climáticas, antecipar fenómenos meteorológicos (como o El Niño, por exemplo) ou monitorizar incêndios florestais. É para isso — e apenas para isto — que os satélites infravermelhos da NASA são utilizados. Não servem para medir a temperatura corporal das pessoas a partir do espaço.
De resto, mesmo que se utilizassem satélites para captar a temperatura das pessoas, as autoridades de saúde nunca informaram os cidadãos de que deviam estar nus para participarem neste mapeamento. Até porque não seria necessário: as técnicas de termografia conseguem captar as radiações infravermelhas mesmo que os corpos estejam cobertos por materiais opacos, como confirma o Instituto de Tecnologia da Califórnia. Mais uma vez, nada do que foi escrito na publicação faz qualquer sentido.
Apesar de a NASA não estar a utilizar estes satélites para monitorizar a Covid-19, como sugerido na publicação partilhada no Facebook, a agência espacial norte-americana também tem contribuído no esforço para combater a pandemia, tanto estudando o impacto do isolamento e da quarentena no ambiente, como desenvolvendo soluções para hospitais e laboratórios. Mas não acionou nenhuma medida para medir a temperatura das pessoas.
Os satélites já permitiram saber como a qualidade do ar melhorou nos países que impuseram medidas de contenção mais apertadas, como foi o caso da China, por exemplo. E os engenheiros também conseguiram desenvolver um ventilador em 37 dias para os doentes internados nos cuidados intensivos.
Conclusão
Não é verdade que a NASA utilize os satélites infravermelhos para mapear a taxa de contaminação da Covid-19. Esses satélites são usados para estudar os oceanos, os continentes e a atmosfera. Apesar de a publicação ter sido feita como uma piada nas redes sociais, houve quem julgasse que a informação era verdadeira e a disseminasse, quando, na verdade, é falsa. As autoridades da saúde nunca informaram os cidadãos de uma ação desta natureza. A NASA nunca emitiu nenhum comunicado sobre isto. E nem squer seria necessário estar nu para captar as ondas infravermelhas emitidas por uma pessoa.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:
ERRADO
De acordo com a classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook.
Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.