[Correção: na versão inicial, este fact check contabilizava o total de casos registados em Portugal e não o total de casos ativos. Não há dúvidas de que o utilizador verificado escreveu que “nem 0,01% da população está de facto infetada” e que se referia aos casos ativos no momento da publicação e não ao acumulado de casos em Portugal. A classificação atribuída pelo Observador estava correta — uma vez que a alegação continua a ser falsa — mas os números utilizados na conta eram errados. Pedimos desculpas aos nossos leitores pelo erro, já retificado.

Foi também acrescentado o esclarecimento de um especialista sobre a sensibilidade dos testes à Covid-19 e os últimos parágrafos alterados por essa razão.]

Na rede social Facebook, um utilizador, alegando a fraca precisão dos testes à Covid-19, referiu que “nem 0,01% da população” portuguesa “está de facto infetada” com o novo coronavírus. Será mesmo assim? Olhando para os dados disponibilizados pela Direção-Geral de Saúde no dia 5 de setembro estavam ativos em Portugal 15.312 casos de Covid-19. O número corresponde a 0,15% da população total residente no país (que, segundo os dados de 2019 do Instituto Nacional de Estatística, é de 10.295.909) e é, portanto, muito superior aos 0,01% referidos na publicação do Facebook.

O post do Facebook onde se afirma que “nem 0,01% da população está de facto infetada” com o novo coronavírus

A afirmação do utilizador tem por base a ideia, amplamente divulgada nas redes sociais, de que os testes ao novo coronavírus têm uma margem de erro elevada. Em agosto, uma publicação do Facebook afirmava que esta era superior a 80%, o que não corresponde à verdade.

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Fact Check. Testes à Covid-19 têm margem de erro superior a 80%?

O teste utilizado em Portugal para diagnóstico laboratorial à Covid-19 é, de acordo com as recomendações das autoridades de saúde, o RT-PCR (“reverse transcriptase polymerase chain reaction”), um teste molecular que permite identificar a presença de material genético do SARS-CoV-2 no organismo. É “o padrão de ouro”, isto é, o mais fiável de todos os testes disponíveis no mercado, como explicou ao Observador o patologista Germano de Sousa.

Para obter um resultado positivo ao PCR é necessário que o teste seja realizado três ou quatro dias após o contágio e que seja identificada a presença de uma taxa de replicação de pelo menos cinco a dez cópias do vírus por microlitro (100 vezes inferior ao mililitro) no organismo de um doente. Se o teste for feito corretamente e na altura certa, isto é, após o período de incubação, a sensibilidade, ou seja, “a capacidade de realmente encontrar um resultado real independentemente do que pode acontecer”, “é de 100% para o PCR e a especificidade é também de 100%”, garantiu Germano de Sousa.

Afastando a possibilidade de existirem falsos positivos, o patologista e administrador de uma rede de laboratórios privados que realiza este tipo de testes, admitiu que podem, contudo, “acontecer erros de laboratório”. “Tirando esses casos de erro, o RT-PCR é o padrão dourado”, frisou. O que pode sim acontecer é “o doente já estar curado, mas ter o resto da cadeia molecular do genoma do vírus” e o teste dar, por isso, positivo. O patologista garantiu, no entanto, que esses “casos são muito poucos” e que um teste positivo corresponde quase sempre a um doente que está infetado com o novo coronavírus.

Conclusão

Tendo em conta a precisão dos testes disponíveis no mercado e os estudos feitos à sua fiabilidade, é mais provável que o número de casos  de Covid-19 seja superior ao confirmado e não o contrário. Já olhando para os dados disponíveis, a percentagem de infeções pelo novo coronavírus corresponde a 0,15% da população total residente, um número que é muito superior ao adiantado pelo utilizador do Facebook.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota 1: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

Nota 2: O Observador faz parte da Aliança CoronaVirusFacts / DatosCoronaVirus, um grupo que junta mais de 100 fact-checkers que combatem a desinformação relacionada com a pandemia da COVID-19. Leia mais sobre esta aliança aqui.

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