A publicação de uma fotografia de Kaja Kallas, a primeira-ministra da Estónia indigitada em janeiro passado, aparece no Facebook com um texto longo onde a comunicação social portuguesa é acusada de não ter noticiado esse momento. “A razão óbvia: Kaja Kallas não é de esquerda”, argumenta-se. Nos comentários é pedida permissão para partilha, por outro utilizador, mas a afirmação que é feita tem algum fundamento? Não houve notícias em Portugal sobre Kaja Kallas?

“A comunicação social portuguesa nada noticiou. Não têm vergonha. 15 milhões € bastaram para selecionar notícias.” Começa assim o post, relacionando uma suposta ausência de notícias sobre a indicação da líder do Partido Reformista (centro-direita) como chefe do Executivo da Estónia com a compra anunciada pelo Governo socialista, em 2020, de 15 milhões de euros de publicidade institucional antecipada para ajudar o setor dos media. Depois continua com a descrição da política de “43 anos, mulher emancipada, que começou como advogada no sector privado, é uma mulher progressista nos costumes”.

E explica o suposto “silêncio informativo” — do qual não são apresentadas quaisquer provas — com o facto de Kallas ser “a líder do partido liberal, membro da Internacional Liberal e filiado no partido europeu da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa”. “Em todo o lado esta é uma história motivadora. Menos no país das tugas canhestras e das burocratas do batom vermelho”, refere ainda a publicação partilhada por um utilizador do Facebook.

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Em janeiro, foram várias as notícias publicadas na comunicação social portuguesa sobre esta nomeação. Veja-se este artigo do jornal Público, por exemplo, ou este do Jornal de Notícias, ou este ainda do Diário de Notícias, e ainda outro no site da SIC Notícias, que se trata de uma reprodução de um artigo da Lusa, a agência de notícias nacional que noticiou o momento para todos os seus clientes.

O caso estónio foi, aliás, exemplo recorrente apresentado noutros artigos sobre a liderança feminina no mundo — já que também a Presidente do país é uma mulher –, tal como este da Reuters, publicado pelo jornal Público, ou este, do Diário de Notícias, e ainda este texto da revista Visão.

Kallas tinha vencido as legislativas de 2019, numa eleição também noticiada em Portugal, com referências à incerteza que existia quanto à estabilidade que delas sairiam e já apontando, nessa altura, Kallas como possível futura primeira-ministra. Mas a líder dos liberais não teve maioria suficiente (28,8%) para formar Governo que, depois dessas eleições, acabou por resultar de uma coligação formada entre o Partido Centrista de Juri Ratas, o Partido Popular Conservador da Estónia (direita nacionalista) e o conservador União Pró Pátria. Esse executivo caiu depois de um escândalo de corrupção no partido de Ratas, em janeiro deste ano.

Desta demissão resultou, assim, o convite pela Presidente do país, Kersti Kaljulaid, a Kaja Kallas, líder da oposição, para que formasse Governo. O Parlamento da Estónia aprovou a indigitação no final de janeiro.

Conclusão

É falso que a tomada de posse da primeira-ministra Kaja Kallas, a primeira mulher no cargo na Estónia, tenha sido alvo de “silêncio informativo” em Portugal, como alega a publicação do Facebook em análise. As eleições de 2019 tinham sido noticiadas, bem como a queda do Governo na Estónia, em janeiro, e a consequente indigitação de Kallas como primeira-ministra. Isso mesmo é facilmente verificável em publicações de diversos órgãos de comunicação social portugueses.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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