O texto replica, do princípio ao fim, o pensamento do chamado Negacionismo do Holocausto, que consiste em afirmar que o genocídio de milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, às mãos dos nazis, não existiu ou que os factos foram exagerados. Em diversos países, negar o Holocausto é crime e na Alemanha é punido com pena de prisão. No site Consciência Nacional são várias as tentativas de desmentir factos históricos: “O tifo foi o verdadeiro assassino da maioria dos prisioneiros nos campos de concentração”, “não houve gaseamento em Auschwitz”, “os judeus declararam guerra à Alemanha em 1933” ou “o número de judeus que morreram na guerra está entre 150.000 e 400.000, como provam os registos da Cruz Vermelha”.
Esta última alegação é o alvo deste fact check, já que ao longo de todo o texto — que foi sinalizado pelo Facebook como potencial fake news depois de ter sido visualizado mais de 8,7 mil vezes — é a que mais se repete. “O número de 6.000.000 é um número mítico”, lê-se no texto.
Nunca será possível determinar o número exato das vítimas dos nazis e quando se aponta o número de seis milhões trata-se sempre de uma estimativa, aceite pelos principais centros de documentação do Holocausto. Ao longo dos anos, várias estimativas foram feitas e todas se aproximam deste número.
O Yad Vashem, memorial oficial de Israel, recolheu a identidades de mais de 4,7 milhões de mortos. Desde 1954 que procura identificar cada uma das vítimas porque “cada nome é importante”, disse, numa entrevista à BBC em 2017, o diretor do Hall of Fame do Yad Vashem, Alexander Avram. “Cada nome que podemos juntar à nossa base de dados é uma vitória contra os nazis, contra a intenção de apagar os judeus. Cada nome é uma pequena vitória contra o esquecimento.”
Em janeiro deste ano, o jornal israelita Haaretz republicou um trabalho intitulado “Factos do Holocausto: de onde veio o número dos seis milhões de vítimas?” (o original é de agosto de 2013) no qual questiona se perante os mais recentes avanços da investigação ainda se pode falar daquele valor. A conclusão é a de que os estudiosos trabalham com um número que varia entre os cinco e os seis milhões e que este continua a ser credível.
O Museu do Holocausto, em Washington, aceita o valor dos seis milhões e faz uma estimativa de onde terão acontecido as mortes. Os dois maiores valores vêm dos campos de concentração de Auschwitz, aproximadamente 1 milhão, e de Treblinka, 925 mil. No entanto, fica a ressalva. Apesar de o Holocausto ser “o mais bem documentado caso de genocídio”, calcular o número exato de mortos “é uma tarefa impossível”, já que não há um único documento que estabeleça quantas pessoas foram mortas.
Desde 1940, explica-se no site, que as estimativas têm sido feitas com base em diferentes documentos como censos, arquivos alemães (muitos deles foram destruídos no final da guerra) e investigações pós-guerra.
Outra fonte citada é Raul Hilberg, um dos mais conhecidos historiadores do Holocausto. No seu livro de 1961, revisto em 1985, “The Destruction of the European Jews” (A destruição dos judeus europeus), aponta para 5,1 milhões de mortos às mãos dos nazis. Nas suas contas, apontava para 3 milhões de vítimas em campos de concentração e 1,3 milhões através dos esquadrões da morte Einsatzgruppen. Hilberg foi um autor contestado pelo Yad Vashem, principalmente por considerar que a maioria dos judeus teve uma reação passiva e sem resistência aos nazis e por se basear essencialmente em documentos alemães.
Já Lucy Dawidowicz, historiadora norte-americana e autora de livros sobre história judaica moderna, aponta para 5.933.900 mortos no seu livro de 1975 “The War Against the Jews” (A Guerra Contra os Judeus).
O historiador alemão Wolfgang Benz coloca a fasquia entre os 5,3 e os 6,2 milhões de vítimas mortais. “Os números são muito abstratos”, escreve no seu livro de 1999, “The Holocaust: A German Historian Examines the Genocide (O Holocausto: Um Historiador Alemão Examina o Genocídio).
No site do Museu do Holocausto, em Washington, estão as palavras que podem servir de conclusão: “As estimativas atuais podem variar à medida que novos documentos são descobertos ou à medida que os historiadores chegam a um entendimento mais preciso do evento. Embora dificilmente algum dia sejam determinados números precisos, passados 70 anos de investigação e de arquivos abertos, o alcance destes números não deverá mudar dramaticamente nos anos futuros.”
Conclusão:
O conteúdo é falso. Mesmo que nunca seja possível determinar o número exato das vítimas do Holocausto, é aceite que as vítimas judias serão entre 5 e 6 milhões, valor muito superior aos 150 mil a 400 mil sugeridos pela publicação.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.