Depois da pandemia de Covid-19 que virou o mundo do avesso, nas redes sociais começou a ser partilhada recentemente a alegação de que se estava a aproximar um grande surto de gripe das aves — “mais mortal” que o coronavírus –, levando a Organização Mundial de Saúde a ordenar aos diferentes governos que cancelassem os próximos atos eleitorais.

“A Organização Mundial de Saúde (OMS) ordenou aos governos de todo o mundo que cancelem as próximas eleições e se preparem para implementar confinamentos rigorosos devido a um ‘surto de emergência’ de gripe das aves”, lê-se numa partilha feita no início do mês passado.

De acordo com esta publicação, a OMS teria alertado no seu site que a gripe das aves “está prestes a tornar-se a próxima pandemia” e que seria “mais mortal do que a Covid”, capaz de superar as 7 milhões de mortes, de acordo com os últimos dados divulgados pela OMS.

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No entanto, esta publicação não é verdadeira. Questionado pelo Observador, o porta-voz da OMS Christian Lindmeier desmentiu a alegação: “Isto é falso”. E acrescentou, no mesmo email: “A OMS não ordenou aos governos que cancelem as eleições e nem o pode fazer.”

De facto, em abril a OMS classificou como sendo de “enorme preocupação” o risco de transmissão da gripe aviária H5N1 para os humanos, porque traz consigo uma taxa de mortalidade “extraordinariamente alta”. E o responsável da OMS Jeremy Farrar disse à época que há uma preocupação cada vez maior porque há mais mamíferos a serem infetados, aumentando o risco de que o vírus “evolua”, desenvolva mais capacidades para infetar humanos e depois “viaje de humano para humano”.

Nesse mês, o The Guardian escrevia que, a nível mundial, se tinham registado centenas de casos de humanos que foram, nos últimos 20 anos, infetados através do contacto com animais — e aí houve uma taxa de mortalidade extremamente alta (52%). A OMS apelou, assim, a uma monitorização reforçada e disse estar a trabalhar para desenvolver vacinas e medicamentos para esta gripe.

Para dar resposta a esta preocupação, em junho foi anunciado que a Comissão Europeia irá comprar até 665 mil doses da vacina Segirus, que tem como propósito prevenir o contágio humano, reforçando a prevenção em Portugal e noutros 14 Estados-membros, detalhou a agência Lusa.

De acordo com a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), para que este subtipo de gripe aviária seja transmitido para pessoas, “é necessário que ocorra um contacto direto e estreito com as aves doentes”: “O vírus não é transmissível às pessoas através do consumo de carne de aves e de ovos”. Existem outros subtipos de vírus da gripe aviária que não são transmissíveis ao Homem, como é o caso do subtipo H5N8, acrescenta esta organização.

Portugal vai receber vacinas para a gripe das aves em compra conjunta de Bruxelas

Este mês, em Portugal, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) aplicou uma “restrição sanitária” à circulação de carne de aves de capoeira e ovos para consumo humano na região de Viana do Castelo, Esposende e Barcelos. No total as proibições foram aplicadas em 26 freguesias e devem manter-se até 15 de setembro. De acordo com a DGAV, até à data não foi detetado qualquer caso de infeção em humanos.

Esta entidade já tinha anunciado que tinha detetado, desde “finais de julho”, vários “casos de infeção por vírus da gripe aviária de alta patogenicidade (GAAP) em aves selvagens”. De acordo com um comunicado da DGACV esta gripe foi detetada em três zonas do país — Gafanha da Nazaré (Ílhavo), ilha Deserta (Faro) e Olhos de Água (Albufeira) –, sendo que todos os casos foram detetados em gaivotas.

No entanto, a deteção destes casos não afetou, “o estatuto sanitário de Portugal”, que se mantém livre da gripe das aves de alta patogenicidade (ou seja, alto risco de provocar doença) em aves de capoeira.

Conclusão

O número de casos de gripe das aves tem aumentado — e a OMS tem alertado para essa evolução –, mas não foi exigido aos governos que cancelem atos eleitorais e se preparem para implementar novos confinamentos. Quem o garante ao Observador é o porta-voz da OMS Christian Lindmeier, que acrescenta que a organização nem tem poder para dar essa ordem.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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