Não é a primeira vez que a cidade de Oxford, no Reino Unido, é alvo de notícias sobre um alegado reforço de restrições, para combater o impacto das alterações climáticas. Agora, uma publicação que está a ser partilhada no Facebook recorre a uma tabela, com metas climáticas a atingir até 2030, para referir que Oxford está desde junho do ano passado a adotar fortes medidas de combate às alterações climáticas, que estão a ser recebidas com “violenta contestação” por parte da população. Entre as metas referidas está a erradicação do consumo de carne e lacticínios, o fim da utilização de todos os carros particulares e, ainda, a restrição por pessoa a apenas três peças de roupa por ano.

O autor deste post rejeita que, com este alerta, esteja a espalhar “teorias da conspiração” anti-clima, acrescentando que a Câmara Municipal de Lisboa tem, igualmente, projetos semelhantes para a capital “a serem aprovados”. A publicação é acompanhada por uma tabela, escrita em inglês, e que aponta objetivos a atingir até 2030 em várias áreas, divididas em duas colunas diferentes — uma “progressiva”, outra “ambiciosa”. Nessa tabela, o autor sublinha, a cor vermelha, seis das metas referidas, todas na coluna dos objetivos “ambiciosos”: são elas o consumo de zero quilos de carne e o consumo de zero quilos de produtos laticínios até ao final da década. Alega também, neste post, que estes objetivos são para “implementar até 2030 sem voto democrático”. Mas serão estas alegações verdadeiras?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Uma simples pesquisa no Google pelo título do quadro exibido — “Food: consumption interventions” — permite-nos perceber que as imagens em análise foram retiradas do relatórioThe Future of Urban Consumption in a 1.5°C World“, desenvolvido pela Universidade de Leeds, pela empresa de desenvolvimento sustentável Arup e pelo projeto de networking de cidades “C40”. As cidades “C40” correspondem a uma rede que reúne grandes cidades do mundo comprometidas com a luta contra as mudanças climáticas e que têm como principal objetivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

No relatório em questão, os autores escrevem que o documento pretende avaliar o “impacto do consumo urbano sobre o clima” e ainda explorar “o tipo de mudanças necessárias para garantir que as cidades C40 reduzem as emissões de GEE, em linha do que está acordado internacionalmente”. Apontam também seis áreas de intervenção prioritárias onde líderes, empresas e população podem agir para mudar hábitos de consumo e reduzir as emissões de gases: alimentação, vestuário e têxteis, construção, veículos, aviação e, ainda, eletrónica.

Olhando de forma mais detalhada para este documento “The Future of Urban Consumption in a 1.5°C World”, encontramos na página 78 do relatório o quadro que é partilhado na publicação em análise. Não há nesta página, nem nas restantes, qualquer referência à cidade de Oxford que, de resto, não faz também parte da lista de cidades C40. Lisboa faz parte da lista mas não é, igualmente, referida. O documento não faz, também, qualquer referência ao facto de as medidas estarem a ser implementadas “sem voto democrático”, tal como é mencionado no post.

Ainda em análise ao relatório, importa referir que as medidas que o autor da publicação diz estarem em vigor em Oxford desde o ano passado estão na coluna de objetivos “ambiciosos” e, por isso, não dizem respeito às propostas mais “realistas” deste relatório — serão, por essa razão, mais dificilmente colocadas em funcionamento.

Já em relação à referência à Câmara de Lisboa e às “cidades dos 15 minutos”, a expressão foi cunhada por um professor da Universidade de Paris. Descreve um novo conceito de urbanismo que várias metrópoles já estão a pôr em prática e que tem como génese a ideia de que os habitantes tenham tudo acessível num raio de 15 minutos,  seja a pé, de bicicleta ou através de transportes públicos. Paris é o exemplo mais evidente deste conceito, sendo que várias cidades europeias estão também empenhadas em abraçar a ideia.

Por enquanto, Lisboa ainda não passou dos desejos à prática. O conceito “cidades dos 15 minutos” vai, de resto, ser tema da segunda edição do Conselho dos Cidadãos de Lisboa, marcado para o próximo dia 25 de março.

Conclusão

Não é verdade que cidade de Oxford tenha erradicado o consumo de carne e laticínios e o uso de carros privados, bem como aplicados restrições nos voos comerciais e na utilização de peças de roupa. Os dados referidos na publicação em análise correspondem a um relatório com metas ainda a atingir, não a medidas já implementadas na cidade, tal como alega o autor deste post. Também não é verdade que a Câmara de Lisboa já tenha aprovado medidas semelhantes e que se insiram no conceito de “cidades dos 15 minutos”.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

IFCN Badge