“Deus ama os pedófilos.” Seria difícil de acreditar que a frase é verdadeira, fosse quem fosse o autor das palavras, mas, neste caso, são atribuídas ao Papa Francisco, líder espiritual da Igreja Católica, o que põe ainda mais em causa a sua credibilidade, tendo em conta a assumido que o Papa tem sido sobre os casos de pedofilia na igreja.
No Facebook, corre uma publicação que atribui estas palavras ao Sumo Pontífice, além de outras. “Papa Francisco ‘declara que pedófilos têm um lugar especial no céu'”, pode ler-se na imagem. Além de a notícia surgir num site brasileiro conhecido por ter sido dezenas de vezes desmascarado pelas suas notícias falsas, a publicação não atribui nem data nem local às supostas declarações de Francisco.
Se estas fossem reais, a polémica em torno de tais palavras do Papa teriam surgido em jornais de todo o mundo, o que não aconteceu. De resto, qualquer procura nos diferentes motores de busca da internet, no jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, ou em qualquer uma das contas oficiais de Francisco têm resultado zero.
Pelo contrário, é fácil encontrar declarações do Papa Francisco a condenar a pedofilia, como aconteceu a 6 de outubro de 2021, depois de apresentado o relatório da comissão encarregada pelos bispos e religiosos franceses para averiguar abusos sexuais no seio da igreja.
“Desejo expressar às vítimas a minha tristeza e o meu pesar pelos traumas sofridos e a minha vergonha, nossa vergonha, pela demasiada longa incapacidade da Igreja em colocá-las no centro das suas preocupações, assegurando-lhes as minhas orações. Rezo e todos nós rezamos juntos: ‘A ti, Senhor, a glória, a nós a vergonha’. Este é o momento da vergonha”, disse o Papa, numa saudação aos peregrinos francófonos presentes na audiência geral daquele dia.
“Encorajo os bispos e vocês, queridos irmãos que vieram aqui para compartilhar este momento, encorajo os bispos e superiores religiosos a continuarem a fazer todos os esforços para garantir que dramas semelhantes não se repitam. Expresso aos sacerdotes de França proximidade e apoio paternal diante desta provação, que é dura, mas saudável, e convido os católicos franceses a assumirem as suas responsabilidades para garantir que a Igreja seja uma casa segura para todos”, acrescentou Francisco.
Como o Observador escreveu em 2022, ano em que se começou a falar de forma mais frequente e aprofundada sobre a dimensão dos abusos sexuais na Igreja Católica Portuguesa, “foi o Papa Francisco que mudou o discurso quando denunciou, numa carta publicada no verão de 2018, o clericalismo — a subversão da lógica de serviço dos ministros da Igreja e a sua transformação numa lógica de poder e autoridade inquestionáveis atribuídos aos mediadores entre os homens e o divino — como a grande causa da crise dos abusos e da ocultação dos crimes dentro da Igreja Católica”.
O Papa chamou a Roma, nesse ano, os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo para uma cimeira destinada a mudar a abordagem da Igreja à crise, obrigando os bispos a ouvirem horas e horas de testemunhos de vítimas de abuso.
Conclusão
Falso. Nunca tais palavras do Papa foram ditas em público ou escritas em qualquer conta oficial nas redes sociais. Pelo contrário, o Papa Francisco já considerou que os escândalos sexuais na Igreja são uma vergonha e pediu desculpa às vítimas.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.