Passando à frente da primeira afirmação — é certo que a farmacêutica sediada em Nova Iorque não “obrigou” ninguém a vacinar-se contra a Covid-19 —, concentremo-nos na seguinte: será mesmo verdade que a Pfizer publicou uma lista de quase 1.300 efeitos secundários graves provocados pela inoculação com a vacina que desenvolveu contra o SARS-CoV-2, como defende este post partilhado nas redes sociais?

A tese baseia-se num documento verdadeiro, produzido pela Pfizer e entregue à americana FDA — a entidade que tutela os mercados alimentar e farmacêutico no país — e que foi disponibilizado em novembro de 2021 no site do Public Health and Medical Professionals for Transparency, um grupo que no verão do ano passado apresentou um pedido à FDA, ao abrigo da Lei de Liberdade de Informação dos Estados Unidos, para aceder a todos os dados utilizados para aprovar a vacina da Pfizer-BioNTech.

Depois de o relatório ter sido tornado público, começaram a circular uma série de notícias falsas, numa série de idiomas diferentes, sobre o alegado plano da farmacêutica para ocultar os efeitos perniciosos da vacina.

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Em janeiro deste ano, a FDA disse à Reuters que o documento interno cuja disponibilização tinha sido requerida foi enviado pela Pfizer-BioNTech ao organismo americano como parte do seu Pedido de Licença Biológica (BLA na sigla original) para a introdução da vacina contra a Covid-19 naquele país.

Ao longo de nove páginas, num anexo no final do documento, surge a referência a uma série de “eventos adversos de interesse especial” (AESI na sigla em inglês), em que se incluem, de facto, as quinze doenças ou complicações citadas no post em análise — a lista teria um total de 1.291 eventos, garantem as publicações a circular nas redes sociais.

A questão é que “eventos adversos de interesse especial” não são “efeitos colaterais graves”.

“Esta não é, de forma alguma, uma lista de efeitos adversos reportados da vacina da Pfizer-BioNTech [Cominarty], mas uma compilação de eventos adversos de interesse especial, de manifestações médicas identificadas a priori como possivelmente associadas à administração de uma vacina e que serão especificamente monitorizadas após a comercialização de qualquer vacina, contra a Covid ou outra doença”, explicou à AFP Aurélie Grandvuillemin, uma das responsáveis pelo Centro Regional de Farmacovigilância da região francesa da Borgonha.

Ou seja, estes “efeitos adversos” não foram sequer reportados após a toma da vacina da Pfizer contra a Covid-19, mas sim relatados após a vacinação com outras vacinas — sendo que não foi sequer provada uma relação causa-efeito entre os eventos. Trata-se, portanto, de situações que, por terem sido assinaladas anteriormente, devem receber especial atenção por parte dos profissionais de saúde aquando da inoculação com a nova vacina.

Como explica a Pfizer no documento, esta lista de AESI foi composta a partir das listas de “eventos adversos de interesse especial” compilados por uma série de organismos internacionais “devido à sua associação com a Covid-19 grave e com eventos de interesse para as vacinas em geral” — e não por estarem diretamente relacionados com a vacinação com o fármaco da Pfizer em análise.

Conclusão

É falso que a Pfizer tenha publicado uma lista de quase 1.300 efeitos secundários graves associados à vacina contra a Covid-19. As doenças ou condições em causa, que constam de um anexo de um dos documentos que a farmacêutica submeteu à americana FDA, dizem respeito a uma série de “eventos adversos de interesse especial” que foram reportados anteriormente após a toma de outras vacinas ou até associados à Covid-19 grave e que, por isso mesmo, devem ser monitorizados pela comunidade médica com especial atenção.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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