Alertas de polícia falsos a divulgar os mais recentes métodos dos assaltantes circulam frequentemente nas redes sociais. Um deles está a ser partilhado há vários anos e voltou a ser (mais uma vez) na página do Facebook do Bligz. “ALERTA DA POLÍCIA: Se vir uma garrafa de plástico no pneu do seu carro, tenha cuidado”, lê-se no título. Mas este alerta nunca existiu. Não só nem a GNR, nem a PSP o emitiram como não têm qualquer registo de assaltos ocorridos em Portugal com recurso a este método.
De acordo com o suposto alerta explicado no texto, o método dos assaltantes consiste em colocar uma garrafa de água vazia junto à roda do carro — o que faz com que o condutor, ao ligar o carro e tentar arrancar, seja surpreendido pelo som da garrafa a ser esmagada. Na lógica do texto, este barulho estranho levaria o condutor a sair do carro para tentar perceber o que se passa com o carro. “Normalmente, quando as pessoas saem para verificar a viatura, elas deixam a chave na ignição. Então, os criminosos aproveitam esse momento de distração para roubar o automóvel”, lê-se no texto.
O texto do Bligz é feito com base num vídeo de youtubers mexicanos de 2017 colocado, aliás, no final do artigo. Nele, dois jovens (um a fazer-se passar por condutor e outro por assaltante) simulam aquele que será o novo “truque” dos criminosos para roubar carros. O vídeo que procura credibilizar este texto — e muitos outros feitos noutros países — já ultrapassou as seis milhões de visualizações. No entanto, este canal de YouTube não só não pertence a nenhum órgão de comunicação, nem a nenhuma força de segurança, como também não refere que se trata de um alerta da polícia.
O texto refere-se a um alerta da polícia, sem referir ao certo qual a força de segurança que o terá emitido. Por isso, o Observador questionou quer a GNR quer a PSP. Ambas negaram que alguma vez tenha sido emitido um alerta neste sentido. Mais: não há registo sequer de algum assalto feito em Portugal com recurso a este método.
A Guarda Nacional Republicana não tem registo de ocorrências relacionadas com o método descrito de assalto a veículos”, lê-se na resposta escrita enviada ao Observador.
Fonte da GNR explicou que alertas como estes só são feitos quando são detetados casos em Portugal. Ou seja, mesmo que houvesse confirmação de registo de assaltos com recurso a este método noutros países, a GNR nunca emitiria um alerta destes se não houvesse casos em Portugal. Também a PSP nunca emitiu um alerta semelhante, segundo confirmou esta força de segurança ao Observador:
A Polícia de Segurança Pública informa que não foram registadas, até ao momento, queixas ou participações que refiram este método de assalto. Informamos, também, que a PSP não emitiu qualquer tipo de alerta sobre este tema.”
Aliás, os alertas da PSP são todos publicados no seu site e nas redes sociais. Uma rápida pesquisa aos que foram feitos nos últimos anos é suficiente para perceber que este alerta aconteceu. Mais: os alertas da PSP são sempre acompanhados pelo logótipo desta força de segurança. Um exemplo deste tipo de comunicados é o feito em agosto do ano passado, relativamente ao desafio Momo, no WhatsApp:
Embora não seja indicada a data de publicação deste texto, o Bligz partilhou-o pela primeira vez na sua página do Facebook ainda em 2017. Nessa altura, as partilhas foram mais de 400. Desde então, tem vindo a partilhar o texto, contribuindo para que um alerta de polícia falso não pare de circular nas redes sociais. A mais recente partilha foi feita no início deste mês. A par disso, outros utilizadores e outras páginas têm vindo a partilhar individualmente esta informação errada.
Conclusão
O texto, baseado num vídeo feito por dois youtubers mexicanos, espalha a ideia errada de que a polícia emitiu um alerta sobre uma nova forma de assaltar carros — o que é falso. Nenhuma autoridade alguma vez emitiu um alerta deste género, em Portugal, nem sequer a PSP ou a GNR têm registo de ocorrências relacionadas com recurso ao método descrito.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas a reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.