A tese

O líder do CDS-PP sublinhou, no debate com a porta-voz do Bloco de Esquerda, que é preciso investimento e confiança na economia para que exista criação de emprego. E só com criação de emprego será possível animar o crescimento económico. Foi aí, quando estavam percorridos cerca de três quartos do debate com Catarina Martins, que Paulo Portas afirmou que a economia portuguesa está a crescer a um ritmo mais rápido do que a média da zona euro. É mesmo assim?

Os factos

A jornalista da SIC Notícias que moderou o debate confrontou o líder do CDS-PP com os números divulgados nessa mesma manhã pelo Eurostat, o gabinete europeu de estatísticas. Paulo Portas manteve-se firme.

Vamos aos números. Como poderá ter lido nesta notícia publicada na terça-feira aqui no Observador, o Eurostat acaba de atualizar os seus números sobre as taxas de crescimento na zona euro e na União Europeia. Em rigor, trata-se da segunda estimativa, porque o Eurostat já tinha divulgado uma primeira leitura algumas semanas antes.

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Paulo Portas teria razão se o debate tivesse ocorrido um dia antes. Ou, claro, se os números atualizados pelo Eurostat tivessem saído um dia depois. Isto porque a primeira estimativa apontava para um crescimento de 1,2% na zona euro, em termos homólogos. Em Portugal, a taxa de crescimento era – e continua a ser – de 1,5%. Portugal crescia, portanto, segundo essa primeira estimativa, a um ritmo superior ao da média ponderada da zona euro.

Crescia mais rapidamente do que a zona euro em termos homólogos (uma diferença, então, de 0,3 pontos percentuais) mas, também, em cadeia – ou seja, em comparação com o trimestre antecedente. Portugal crescia 0,4% e a zona euro 0,3%.

Mas estas estimativas foram revistas pelo Eurostat. A economia da zona euro cresceu, afinal, 0,4% em cadeia e 1,5% em termos homólogos. O mesmo, portanto, que Portugal.

Recuperemos o gráfico, sobre o crescimento em cadeia, que extraímos do artigo publicado na terça-feira, a propósito dos números do Eurostat.

eurostat

Fonte: Eurostat. Dados de Irlanda e Luxemburgo não disponíveis

Esclarecida a questão sobre os últimos trimestres, vale a pena perguntar: “Indo um pouco mais atrás, qual tem sido a tendência?”.

No primeiro trimestre, o Eurostat calculou que Portugal tenha crescido 1,5% em termos homólogos e os mesmos 0,4% na comparação com o trimestre anterior (o quarto trimestre de 2014). Por comparação, na zona euro cresceu-se 1,2% no primeiro trimestre, em termos homólogos, e 0,5% em cadeia – ou seja, um pouco mais do que Portugal.

Já no quarto trimestre de 2014, Portugal tinha crescido os mesmos 0,4% na comparação em cadeia mas apenas 0,6% na comparação homóloga. Na zona euro, 0,4% em cadeia (o mesmo que Portugal) mas 0,9% na comparação com o mesmo período do ano anterior (mais do que Portugal).

Uma vez que estamos com a mão na massa, acrescentamos os números do terceiro trimestre de 2014. Segundo o Eurostat, Portugal cresceu 0,2% no terceiro trimestre face ao segundo trimestre (de 2014) e 1,2% na comparação homóloga. Na zona euro, as taxas de crescimento foram, respetivamente, de 0,3% e 0,8%.

Conclusão

Errado. Paulo Portas ter-se-á baseado em dados desatualizados para dizer que Portugal estava a crescer a um ritmo mais rápido do que a zona euro. Não foi isso que aconteceu de forma consistente nos últimos trimestres e não foi, de facto, o que aconteceu no segundo trimestre – de acordo com a estimativa revista publicada pelo Eurostat na manhã do debate.

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