Uma publicação que circula na rede social Facebook alega que Portugal está a bater todos os recordes de mortalidade nesta fase e relaciona essa afirmação com a intensa adesão à vacinação contra a Covid-19 e com o uso intensivo de máscaras durante a pandemia. “Portugal foi o país que mais uso intensivo de máscaras fez durante a chamada pandemia, e o mais vacinado do mundo. Agora, está a bater todos os recordes de mortalidade, com os portugueses enfraquecidos, com a sua imunidade em baixa, e com muitos a morrerem “subitamente”, sem explicação, incluindo jovens”, pode ler-se. Mas os valores de mortalidade registados no final do ano passado e no início de 2024 são mesmo recordes?

A acompanhar a publicação está um excerto de uma reportagem da TVI, emitida a 9 de janeiro, sobre os dias em que se atingiram níveis muito elevados de mortalidade (28 de dezembro de 2023, com 508 mortos; e 2 de janeiro de 2024, com 510 mortes).

Vejamos primeiro se Portugal está, ou não, a bater recordes de mortalidade. Recorrendo ao Portal de Vigilância da Mortalidade da DGS, e se tivermos em conta um período de 10 dias — entre 25 de dezembro e 3 de janeiro –, verifica-se, de facto, um aumento da mortalidade em relação aos períodos homólogos anteriores e até em relação ao mesmo período de 2020/2021, em que a pandemia de SARS-CoV-2 assolava o país, e em que a população não contava ainda com o efeito protetor das vacinas.

No entanto, os números de mortalidade referidos na peça da TVI estão longe de estabelecer qualquer recorde de mortalidade diária em Portugal. Já depois de a reportagem ter sido emitida, a DGS corrigiu (em alta) os números de mortalidade de todos os dias das últimas semanas. Por exemplo, no dia 28 de dezembro de 2023, a DGS refere agora que ocorreram 512 óbitos em Portugal (e não 508). No que diz respeito ao dia 2 de janeiro, a correção assumiu uma dimensão maior: de 510 para 514 e agora para 551. Um valor que já não se registava desde o início de fevereiro de 2021.

Mas mesmo que assumíssemos como referência o novo valor da mortalidade a 2 de janeiro de 2024 (os tais 551 mortos), esse valor não é um recorde. Em janeiro de 2021, Portugal registou, por causa da Covid-19, dias com muito mais óbitos.

Vejamos: 20 de janeiro de 2021 (748 mortes); 22 de janeiro de 2021 (745 óbitos); 24 de janeiro de 2021 (744 mortes). E no mesmo dia de 2017, morreram 578 pessoas, mais do que a 2 de janeiro deste ano. Assim, não é verdade, como refere a publicação, que, “na suposta pandemia de 2020, havia menos mortes do que agora”. Aliás, durante os meses de janeiro e fevereiro de 2021 registaram-se mais de 600 óbitos diários durante 25 dias consecutivos.

Conclusão

Não é verdade que os valores de óbitos diários registados no final de 2023 e no início deste ano estabelecem qualquer recorde de mortalidade diária em Portugal. No dia 2 de janeiro de 2024, registaram-se 551 mortos em Portugal, um valor inferior ao do mesmo dia de 2017 e muito abaixo dos números atingidos em muitos dias dos meses de janeiro e fevereiro de 2021.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

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