O jogador do Liverpool Sadio Mané ficou fora do Mundial do Catar, que está, neste momento, a decorrer — sofreu uma lesão, teve de ser submetido a uma cirurgia e ficou impedido de disputar aquela competição. Mas não é por esse motivo Mané surge agora nas redes sociais. Uma publicação de Facebook, do passado dia 6 de outubro, conta um episódio no mínimo curioso sobre este jogador de futebol. “Muitos se riram porque o seu telemóvel estava partido, disseram que era miserável por não comprar outro novo. Em resposta, o jogador questionou: ‘Porque é que eu deveria ter dez Ferraris, vinte relógios de diamante e dois jatos? O que é que isso significa para mim e para o mundo?'”. No entanto, a história está mal contada e, por isso, trata-se de uma publicação enganadora.
A situação em questão é verdadeira — a do telemóvel estragado — e remonta a um dos últimos Boxing Day, de 26 de dezembro de 2019, dia em que as equipas inglesas entram em ação logo a seguir ao natal. Nessa altura, o Liverpool derrotou o Leicester por 4-0 e Sadio Mané foi fotografado com o telemóvel partido. Essa fotografia pode ser consultada na conta oficial de Twitter do clube inglês, onde é visível o tal aparelho partido.
Evening Reds ???? #LEILIV pic.twitter.com/s2i0gpt0zJ
— Liverpool FC (@LFC) December 26, 2019
História diferente é a frase em questão. Vamos por partes. A publicação não refere a data em que Sadio Mané se terá referido aos tais produtos de luxo, mas a verdade é que, fazendo uma pesquisa no Google, encontram-se várias notícias com essa exata citação. Quase todos os jornais, do Brasil a Portugal, referem uma entrevista que o jogador dos red devils terá dado a um órgão de comunicação social do seu país, o TeleDakar, em 2019. Se a pesquisa for feita no site oficial deste jornal, usando as palavras “Sadio Mané” e “Ferrari”, não existem resultados disponíveis.
Depois, o Boatos.org, fact-checker brasileiro que verificou uma publicação semelhante, também não encontrou qualquer resultado que comprove que Sadio Mané terá falado sobre ter ou não ter produtos de luxo como “relógios de diamante” ou “Ferraris”. Mais: as citações encontradas nas notícias são muito semelhantes às que constam nas publicações de redes sociais. Ou seja, dá a entender que estas notícias foram baseadas em conteúdo online e não numa entrevista credível que Mané terá dado.
Mas, mesmo que, em tese, Mané tivesse proferido aquelas declarações, tê-lo-ia feito sem que estivesse a responder diretamente a uma questão sobre o episódio do telemóvel com o visor partido. Porquê? Como referido, o episódio do telemóvel e as fotos que o documentam — e que deram origem a várias publicações online — ocorreu a 26 de dezembro de 2019. Ora, apenas para dar um exemplo, neste artigo da revista desportiva Sport, publicado a 17 de outubro desse ano e atualizado no dia seguinte (portanto, mais de dois meses antes do “caso” do telemóvel) já é citada a frase em que Mané se teria expressado a sua visão sobre a posse de bens de luxo, como carros de alta cilindrada e relógios.
O mesmo acontece com o Nsemwoha, um site do Gana que reúne alguns artigos de pendor editorial e que, no dia 13 de outubro de 2019, publica as mesmas declarações sobre o desprendimento de Sadio Mané em relação a bens de luxo — lamentando que declarações como aquela não recebam a atenção dos media internacionais mas não atribuindo, também, a origem das tais palavras.
Conclusão
Não há provas suficientes que garantam que Sadio Mané tenha falado do facto de não querer ter bens de luxo como um Ferrari ou um relógio de diamante. A fotografia partilhada pela publicação original, onde o jogador do Liverpool aparece com um telemóvel partido, são verdadeiras, mas as citações não podem ser encontradas em nenhum órgão de comunicação social credível. Aliás, podem, mas a fonte vem de uma entrevista que, neste momento, não pode ser confirmada nem está disponível em nenhum lado.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.