Publicação que circula nas redes sociais afirma que seis voluntários nos ensaios da vacina da Moderna perderam a vida pouco mais de um mês de lhes ser administrada uma dose, exibindo mesmo as imagens de duas páginas do relatório do regulador norte-americano FDA (Food and Drug Administration) onde consta essa informação. A mesma publicação conclui, depois, que as vacinas contra a Covid-19 “não curam nada” e que as “vacinas são a doença”.
De facto o documento que a publicação exibe existe. Trata-se de um briefing produzido pela FDA a 17 de dezembro, e que contém informações sobre a vacina da Moderna, como foi testada e os seus resultados. Documento feito por altura em que a autorização de emergência para o desenvolvimento da vacina foi concedida pela FDA. Segundo esse documento, a 3 de dezembro, tinham sido relatadas 13 mortes de voluntários que participaram nos ensaios clínicos: seis foram voluntários que efetivamente tomaram vacina, sete foram voluntários que pensavam que estavam a levar a vacina, mas que afinal estavam a tomar uma solução à base de água e sal.
No grupo dos que levaram a vacina, duas mortes ocorreram com participantes com mais de 75 anos que eram já doentes cardíacos; um outro voluntário de 43 anos morreu de paragem cardiorespiratória 21 dias após tomar a primeira dose; uma quarta morte foi a de um recetor da vacina que morreu 45 dias após tomar a segunda dose com um enfarte no miocárdio. Enquanto outros dois voluntários foram encontrados mortos em casa e a causa de morte é desconhecida: um tinha 70 anos e já sofria de problemas cardíacos, foi encontrado sem vida 57 dias após tomar a segunda dose da vacina, e um outro de 56 com hipertensão, dor crónica nas costas a receber tratamento, que acabou por morrer 37 dias após tomar a primeira dose.
Houve também registo de mortes entre os voluntários que não receberam a vacina mas, sim, o placebo (à base de uma solução de água e álcool). A 3 de dezembro, eram sete as mortes: três por enfarte do miocárdio, uma por perfuração intra-abdominal, outra por síndrome da resposta inflamatória sistémica, um por Covid-19 e outra por causa desconhecida.
O que a publicação que circula nas redes sociais oculta, porém, são as conclusões que surgem no mesmo relatório, depois de descritas estas mortes. Ao prosseguir com a leitura do documento, a FDA reconhece que os investigadores concluíram que estas mortes “ocorrem na população geral de indivíduos nessas faixas etárias” e que não se pode concluir que tenham resultado da vacina desenvolvida pela Moderna.
Aliás, mesmo olhando para os efeitos adversos mais graves e não letais — e sabendo que um certo incómodo ou dor no local de administração da vacina está entre os efeitos mais comuns —, os investigadores não encontraram nada que permitisse distinguir, por exemplo, o braço que levou a vacina do outro braço que não foi vacinado. Os efeitos secundários mais graves registados foram o enfarte do miocárdio (0,03%), colecistite (0,02%) e nefrolitíase (0,02%), mas também aqui os investigadores consideram não existir “um relacionamento causal”.
Na última fase de testes da vacina da Moderna, a terceira, participaram 30.350 voluntários, 15.184 dos quais tomaram a vacina, enquanto os restantes 15.165 tomaram o placebo.
O FDA concluíu que “nenhuma nova preocupação de segurança foi identificada” e que as “reações locais e eventos sistémicos solicitados após a vacinação foram frequentes e, na maioria, leves a moderados”: 91,6% dos voluntários que sofreram reações adversas sentiram dor no local da injeção, 68,5% cansaço, 63% dor de cabeça, 59,6 % dor muscular, 44,8% dor nas articulações e 43,4% calafrios. Só entre 0,2% a 9,7% dos casos foram relatadas reações avaliadas como graves. Efeitos registados ao fim da administração da segunda dose e, sobretudo, em voluntários com menos de 65 anos. “Não houve reações anafiláticas ou de hipersensibilidade grave com estreita relação temporal com a vacina”, lê-se.
A afirmação que circula nas redes sociais conclui, também, que as “vacinas não curam nada” e que “são a doença”. De facto, uma vacina não é um tratamento. É, sim, uma forma de prevenir a doença, como explica a Direção Geral da Saúde no seu site. “As vacinas são produtos imunobiológicos constituídos por microrganismos, partes destes ou produtos derivados, que depois de inoculados no individuo saudável produzem uma resposta similar à da infeção natural induzindo imunidade sem risco para o vacinado”, lê-se.
Além da proteção individual, grande parte das vacinas tem a capacidade de originar aquilo que se chama a “imunidade de grupo”, porque permitem interromper a circulação dos microorganismos entre pessoas.
Conclusão
De facto morreram seis voluntários que participaram nos testes à vacina produzida pela Moderna contra a Covid-19, mas as causas da sua morte não estão diretamente relacionadas com a dose da vacina que lhes foi administrada mais de um mês antes. Aliás, dos cerca de 30 mil voluntários, metade tomou a vacina e a outra metade tomou uma solução de água salina. E também neste grupo ao qual não foi administrada a vacina foram registadas sete mortes, que os investigadores concluíram que nada têm a ver com o ensaio clínico. Apesar de o documento elaborado pelo regulador norte-americano FDA sobre a vacina relatar essas seis mortes, como aliás mostram as imagens que acompanham esta publicação que está a circular nas redes sociais, ao ler o documento completo deparamo-nos também com as conclusões da própria FDA, que acabou por aprovar a vacina nos EUA. No documento lê-se que “nenhuma nova preocupação de segurança foi identificada” e que as “reações locais e eventos sistémicos solicitados após a vacinação foram frequentes e, na maioria, leves a moderados”.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.