Frequentemente surgem nas redes sociais publicações a alertar para carrinhas que andam a raptar crianças em determinadas cidades — e que acabam por ser desmentidas pelas autoridades. A mais recente diz respeito a Mirandela. Num instastory, que entretanto já está a ser partilhado no Facebook, uma utilizadora dá conta de que “uma carrinha parou à beira de uma miúda em frente” à sua casa e “tentaram metê-la dentro da carrinha”. “Os vizinhos ouviram os berros e vieram cá fora, acho que não conseguiram levá-la”, detalha ainda, aconselhando as pessoas a não sair de casa nem naquele, nem nos próximos dias. Em especial, as “meninas”. “São elas que eles abordam”, justifica, sem nunca especificar quem são “eles”.

O alegado aviso, que já teve dezenas de partilhas no Facebook, não só é falso como já levou a PSP a desmenti-lo para evitar alarme social — percetível desde logo nos comentários à publicação com alguns utilizadores a mostrar preocupação, a partilhar a matrícula da suposta carrinha e a dar conta de mais carrinhas e de mais sequestros noutras zonas.


A propagação deste alegado alerta nas redes sociais levou dezenas de pais preocupados a ligar para a PSP de Mirandela e de Bragança — obrigando o comando distrital da PSP de Bragança a convocar uma conferência de imprensa sobre o caso, que “não tem qualquer fundamento”, nas palavras do comissário Bruno Machado.

Numa nota lida à comunicação social, o comissário explicou que “existe uma situação identificada” que está a ser investigada: dois indivíduos que “se faziam transportar numa carrinha” ter-se-ão dirigido a duas jovens estudantes da Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo de Mirandela (ESPROARTE), durante um percurso para um estabelecimento de diversão noturna. Sem dar muitos detalhes, a PSP explicou apenas que estes dois indivíduos terão tido um “comportamento” que foi interpretado pelas jovens “como desviante e lhes causou receio”. O comissário disse que a PSP está a efetuar todas as diligências “para despistar qualquer hipótese de crime e/ou comportamento ameaçador”.

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O comissário Bruno Machado fez ainda referência a duas outras falsas publicações semelhantes a esta. Uma teve origem num aluno da ESPROARTE que garante ter visto um indivíduo dentro de uma carrinha, perto da escola, com um telemóvel na mão a “presumivelmente fotografar os jovens”. O comissário explicou que o proprietário da carrinha — cuja matrícula era indicada na publicação — é um cidadão português que já foi questionado pelas autoridades. A PSP conseguiu perceber que, naquele momento, a carrinha estava a ser conduzida por outra pessoa e “a sua conduta foi mal interpretada pelo aluno”. A PSP alerta que “não existe nexo algum de causalidade entre estes factos e ações com a situação das jovens denunciantes”.

A outra publicação a que o comissário fez referência afirmava que, na sequência das alegadas tentativas de sequestro a algumas jovens de Mirandela, tinha havido “um alegado reforço policial junto das escolas”. A PSP nega essa informação e explica: “A PSP esteve presente com mais recursos policiais em Mirandela no âmbito de ações de sensibilização desencadeadas nas escolas básicas do convento e do Fomento, no edifício do Piaget, no âmbito do projeto “EU CUIDO””.

O comissário terminou de ler o comunicado a lembrar que “o local adequado a projetarem as suas denúncias sobre comportamentos atípicos, desviantes e criminógeneos é a esquadra de polícia e não as redes sociais”.

Esta não é a primeira vez que a PSP se vê obrigada a fazer comunicados ou a convocar conferências de imprensa na sequência de alertas falsos de carrinhas usadas para raptar crianças. Em janeiro deste ano, por exemplo, circulou no Facebook uma denúncia falsa de uma carrinha branca, que teria sido usada para tentar raptar uma criança junto à Escola D. João II, em Santarém. A carrinha em causa pertencia a um homem de 44 anos que ficou surpreendido ao ver a publicação que o acusava de tentar raptar crianças. O proprietário da carrinha chegou mesmo a apresentar uma queixa contra desconhecidos.

À data, Jorge Soares, subintendente responsável pelo Núcleo de Imprensa e Relações Públicas do Comando Distrital de Santarém da PSP, desmentiu o suposto aviso, lamentando que estes casos sejam cada vez mais frequentes e alertando para os perigos das partilhas de casos não confirmados.

Fact check. Há uma carrinha branca a raptar crianças em Vila Nova de Gaia?

No mês seguinte, surgiu um suposto alerta — já desmentido pelas autoridades ao Observador — para uma carrinha branca que estaria na origem de várias tentativas de rapto de crianças na zona de Vila Nova de Gaia. Tal como todas as outras, esta publicação também é falsa. Mas continua a ser partilhada hoje em dia, tendo já ultrapassado as sete mil partilhas.

Conclusão

Um publicação alerta para uma tentativa de rapto de uma criança, em Mirandela, que terá sido puxada — sem sucesso— para dentro de uma carrinha.  A propagação deste alegado alerta nas redes sociais levou dezenas de pais preocupados a ligar para a PSP de Mirandela e de Bragança — obrigando o comando distrital da PSP de Bragança a convocar uma conferência de imprensa sobre o caso.

A PSP referiu que tem dois casos identificados que podem estar na origem deste falso alerta. Um, que está a ser investigado, de duas jovens que foram intercetadas, a caminho de um estabelecimento de diversão noturna, por dois indivíduos que conduziam uma carrinha e que terão tido um comportamento “desviante e lhes causou receio”. Outro, de um jovem que viu um indivíduo dentro de uma carrinha junto a uma escola presumivelmente a tirar fotografias aos estudantes”. A PSP questionou o proprietário e concluiu que a carrinha estava a ser conduzida por outra pessoa e que “a sua conduta foi mal interpretada pelo aluno”.

Apesar destas duas situações, não há registo de nenhum caso de uma criança que tenha sido vítima de tentativa de sequestro. Mais: a PSP alerta que nem sequer “existe nexo algum de causalidade entre estes factos e ações com a situação das jovens denunciantes” e lembra a população que as denúncias são para fazer nas esquadras e não nas redes sociais.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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